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16 de abril de 2024

CASO BERNARDO | Madrasta diz que “nunca encostou um dedo nele”

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Da redação | No quarto dia de julgamento do caso Bernardo, a madrugada Graciele Ugulini, foi interrogada na Comarca de Três Passos. “Não sou esse monstro que a imprensa sensacionalista criou”, afirmou.

A defesa de Graciele não permitiu que o Ministério Público, autor da ação, fizesse perguntas a à ré, que respondeu aos questionamentos da Juíza Sucilene Engler, que preside o Júri, e das defesas dos demais acusados.

Chorando o tempo todo, a enfermeira disse que amava Bernardo como um filho, que passou por um trauma depois que sofreu um aborto espontâneo, e que era sobrecarregada por conta do excesso de trabalho do companheiro, Leandro Boldrini. Segundo ela, isso a deixou em depressão.

Graciele declarou que a morte foi acidental, causada pela ingestão excessiva de remédios, “nada premeditado”. Narrou que insistiu muito para que Edelvânia a ajudasse, quando percebeu que Bernardo estava sem pulso. “Em nome da nossa amizade. Ela me ajudou a cavar o buraco e enterrar ele.” E isentou Leandro e Evandro: “Pensei em contar para ele muitas vezes. Mas tive medo da reação”. Já o irmão de Edelvânia, ela afirmou ter conhecido no júri.

Denúncia

Conforme as investigações da Polícia Civil, o médico foi o mentor intelectual do crime e incentivador da atuação de Graciele em todas as etapas. Além disso, na denúncia feita pelo Ministério Público (MP), ele também ajudou ela a reunir os colaboradores, Edelvânia e Evandro Wirganovicz.

Na época, ele teria bancado as despesas e recompensas associadas ao crime, facilitando o acesso das duas mulheres ao sedativo Midazolan, utilizado para matar a criança.

Motivação

Segundo os promotores de justiça, Leandro e Graciele não queriam partilhar com Bernardo a herança deixada por Odilaine (primeira mulher do médico e mãe de Bernardo).

Leandro Boldrini e a madrasta, Graciele Ugulini (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

Aborto

“A partir desse aborto, muita coisa começou a mudar na minha vida. A vida seguiu. Depois de um ano, engravidei novamente e a minha vida mudou mais ainda”, narrou Graciele. Leandro trabalhava muito, “chegou a pedir socorro para o hospital”. Era o único cirurgião da cidade.

Graciele passou por uma gravidez de risco. “Admito que abandonei a família.  Eu só pensava naquele bebê.  Bernardo precisava de atenção,  mas eu não conseguia”. Afirmou que todo o seu amor foi só para a filha, Maria Valentina.

Rotina

A acusada declarou que Bernardo tinha independência para sair de casa, mas que Leandro tinha controle da rotina do menino. Negou que o enteado fosse proibido de ter acesso a comida em casa. Falou que as empregadas eram orientadas a ajudá-la na lida do lar. “Sempre tinha comida em casa, acesso à tudo. Ele ajudava quando podia. Claro, às vezes, eu não tinha tempo de fazer as coisas, a nossa vida era muito corrida. A minha vida era muito voltada para a Maria.”

Disse que cobrava muito o enteado e que o conflito entre eles acontecia porque o menino não obedecia e não tinha compromisso nem disciplina na rotina diária. “Ele não aceitava não. Se irritava, ficava braço.  Mas tudo que ele queria era para o bem dele.” As brigas eram pontuais. “Nunca encostei um dedo nele. Nossas brigas em verbais. Eu falava com algumas pessoas o quanto a situação estava complicada,  mas como um desabafo.”

Morte acidental

Graciele disse que Bernardo pediu para ir junto com ela para Frederico Westphalen e tomou em casa um remédio para enjoo.  No caminho, a PRF abordou o carro e a madrasta foi multada por excesso de velocidade.  Declarou que Bernardo ficou agitado, “dizendo que a gente ia ser preso”. Ela deu Ritalina pra ele, mas a criança seguiu agitada. Então, ela jogou a bolsa no banco de trás e mandou ele tomar mais remédio.  Ela não viu o quanto Bernardo ingeriu.

Chegando em Frederico, ela encontrou Edelvania e elas trocaram de carro. O motivo seria porque a amiga queria lhe mostrar o carro novo e estava aprendendo a dirigir. “Mas Bernardo permanecia no banco de trás do carro, imóvel,  babando. Estava sem pulso. Viu que faltavam cinco ou seis remédios na cartela.” Edelvânia se desesperou e quis levar para um hospital,  insistia para prestarem  socorro. “Eu pensava: o que as pessoas vão pensar? Vão me prender. Vou ficar longe da minha filha.”

Graciele afirmou que ela insistiu para que Edelvania a ajudar. A amiga acabou cedendo e indicou um lugar perto da casa da mãe dela. Edelvânia cavou o buraco. Teria usado uma chave de roda. “Não tinha soda cáustica.”

A acusada também negou que tenha havido a injeção letal.

Desaparecimento

Depois de enterraram o corpo, Graciele disse que tentou esconder o fato de Leandro e parecer normal. Inclusive foram a uma festa no final de semana.

Leandro fez contatos e buscas. “Bernardo tinha uma agenda e ficávamos ligando para os colegas.”

Foto: Márcio Daudt/TJRS

Admite que ficou chateada com a procura do menino por ajuda do Judiciário. “Eu achava que a gente tinha que resolver em casa. Melhorou bastante, mas ele continuou saindo de casa.” Ela admite que falou na clínica que “teria que dar fim em Bernardo e que tinha dinheiro para isso”, mas justificou que a declaração foi num momento de raiva.

“Estava doente”

Graciele declarou à Juíza Sucilene que comprou Midazolan para seu próprio uso, porque estava em depressão e queria descansar. Nunca contou para ninguém por medo da reação das pessoas. “Estava deprimida, estressada e sem vontade de viver.”

Em seguida, teve início o depoimento da ré Edelvânia Wirganovicz.

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