Democracia em Vertigem merece o Oscar?

Brasil estĂĄ de volta ao tapete vermelho do Oscar com o longa metragem

*Leitor, este texto deveria ter ido ao ar na Ășltima semana, entretanto, as declaraçÔes nazistas do ex-secretĂĄrio da cultura, Rodrigo Alvin, deixaram esta crĂŽnico em segundo plano. EntĂŁo vamos lĂĄ:

Aconteceu. O Brasil estĂĄ de volta ao tapete vermelho do Oscar com um longa metragem – fato este que nĂŁo ocorria desde a indicação de “Central do Brasil”, em 1998. No inĂ­cio da Ășltima semana, o documentĂĄrio “Democracia em Vertigem” foi indicado a estatueta de ouro de Hollywood na categoria Melhor DocumentĂĄrio em Longa-Metragem. O documentĂĄrio, dirigido por Petra Costa, apresenta a narrativa da “vida e morte” do Partido dos Trabalhadores no Brasil, desde a eleição de Luiz InĂĄcio Lula da Silva atĂ© o ressurgimento da ultradireita brasileira que elegeu Jair Bolsonaro presidente.

O tĂ­tulo do longa, ao contrĂĄrio do deste texto, nĂŁo apresenta interrogaçÔes. Ele traz uma narrativa factual sobre os erros, acertos, perdas e ganhos da esquerda, que culminaram em uma atual derrocada da democracia, a partir dos ataques a imprensa, estudantes, minorias, cultura e organizaçÔes nĂŁo-governamentais, por parte do pĂșblico bolsonarista.

É bem verdade que Petra, embora nĂŁo tenha promovido fake news em seu documentĂĄrio, trouxe ĂĄ tona apenas a Ăłtica petista, por exemplo, do impeachment de Dilma, mas isso nĂŁo tira o brilho e o cuidado da narrativa. Independente de concordar ou nĂŁo com essa posição polĂ­tica, Ă© inteligente entender que a indicação, principalmente nestes tempos de ataque Ă  arte e a cultura, Ă© um grito de resistĂȘncia.

“Democracia em Vertigem” analisa nacional, internacional, politica e socialmente, o que esquerda e direita promoveram no Brasil desde Ă s favelas atĂ© os corredores do Planalto, deixando ao espectador interpretar a histĂłria e fazer seu julgamento. AliĂĄs, por apresentar um enredo que conecta pessoas e acontecimentos, o documentĂĄrio nĂŁo mereceria crĂ©ditos finais, pois Ă© apenas um capĂ­tulo de algo que nĂŁo termina.

NĂŁo serei eu que direi se “Democracia em Vertigem” merece ou nĂŁo o Oscar. NĂŁo Ă© meu papel fazer isso, quiçå minha competĂȘncia. PorĂ©m Ă© inegĂĄvel a riqueza que ele carrega e a justiça de sua indicação, por trazer um tema atual, ao mesmo tempo antigo e atemporal, que dispĂ”e sobre as constantes metamorfoses da sociedade brasileira, que vive em uma democracia em vertigem, mas ainda uma democracia, ou entĂŁo, nĂŁo estarĂ­amos se quer na “presença” um do outro.

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