Mesmo com o fim do estado de emergĂȘncia de saĂșde global causado pela covid-19, decretado em 5 de maio pela Organização Mundial de SaĂșde (OMS), a ciĂȘncia ainda busca respostas mais claras sobre as causas e, principalmente, consequĂȘncias da doença. Uma nova pista nesse sentido foi dada por pesquisadores do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles (Estados Unidos). O estudo, publicado em 14 de fevereiro pela revista mĂ©dica JAMA Network Open, aponta que pode haver uma correlação entre a covid-19 e o aumento dos casos de diabetes.
A pesquisa foi realizada a partir da anålise e revisão de exames e prontuårios em 23.709 pacientes internados com a doença no Cedars-Sinai, entre março de 2020 e junho de 2022. Entre eles, os casos de diabetes em pacientes contaminados aumentaram 58%. Os resultados sugerem ainda que esse risco quando a variante Omicron se tornou predominante no mundo, e que tal correlação permaneceu mesmo após a consideração de outros fatores relacionados ao tempo.
Apesar desses dados, especialistas avaliam que o prĂłprio estudo ainda nĂŁo Ă© considerado conclusivo e ainda tem alguns vieses para serem avaliados. âExemplo: se esses pacientes que tiveram covid voltaram a fazer exames e a serem monitorados novamente, inclusive para diabetes. HĂĄ tambĂ©m os aspectos relacionados Ă piora dos hĂĄbitos de vida desses pacientes e da população em geral neste perĂodo de pandemia, o que tambĂ©m pode estar relacionado ao aumento dos casos de diabetesâ, disse a infectologista e professora Fabrizia Dias Tavares, do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
Outro caminho Ă© desvendar por quĂȘ os casos de diabetes cresceram entre os pacientes com covid-19, conforme constatado na pesquisa americana. Fabrizia apontou duas suspeitas de relação com a ação do coronavĂrus no pĂąncreas: a diminuição da produção de insulina ou os prejuĂzos ao prĂłprio pĂąncreas, que deixaria de produzir insulina. âĂ um ponto de conclusĂŁo desse estudo que ainda precisa de mais tempo para observaçÔes e avaliaçÔes, para aĂ sim ver as repercussĂ”es mais concretas da covid nesse aumento do nĂșmero de casos relacionados com diabetesâ, explica ela, sugerindo o aprofundamento e o surgimento de outros estudos.
AlĂ©m da diabetes, o estudo citou que outras doenças com chances mais altas de agravamento apĂłs a infecção pelo coronavĂrus foram a hipertensĂŁo, a dislipidemia (aumento de colesterol) e os diagnĂłsticos de referĂȘncia ligados a outras doenças preexistentes, como as pulmonares, as cardiovasculares e as do sistema nervoso central, cujos casos tambĂ©m começaram a serem atendidos com mais frequĂȘncia em pacientes que enfrentam a chamada âcovid longaâ.
âTem muito pano pra manga e muito estudo a ser feito para poder vincular realmente a covid com essas patologias, mas jĂĄ Ă© sabido que o processo infeccioso, incluindo os virais, tĂȘm sim uma relação com o agravamento de lesĂ”es de ĂłrgĂŁo-alvo. Qualquer tipo de infecção, e pelo que a gente jĂĄ conhece de outras infecçÔes virais, pode acarretar a piora das chamadas doenças de baseâ, pontua a professora.
Vacinação
A pesquisa do Cedars-Sinai indicou ainda a eficĂĄcia da vacinação para a redução das complicaçÔes e agravamentos provocados pelo coronavĂrus. Ela aponta que, entre os que nĂŁo tomaram a vacina anti-covid, o risco de diabetes apĂłs a infecção atingiu 78%, contra apenas 7% dos pacientes que estavam imunizados. A conclusĂŁo Ă© de que âo risco de diabetes apĂłs a infecção por covid-19 foi maior em pacientes nĂŁo vacinados do que em pacientes vacinados, sugerindo um benefĂcio da vacinaçãoâ.
Os dados mostram que a vacinação em massa Ă© importante para quebrar a cadeia de transmissĂŁo e diminuir a circulação do vĂrus na população, o que se reflete em mais proteção para pessoas com doenças preexistentes. âQuando a gente minimiza a circulação de um agente, no caso do vĂrus Sars-Cov-2, a gente diminui o nĂșmero de adoecidos tambĂ©m. Qualquer tipo de adoecimento pode gerar uma repercussĂŁo. E pra quem tem fator de risco basal, comorbidades como diabetes, hipertensĂŁo, cardiopatia ou doenças renais, eles tĂȘm mais chance, maior risco de agravamento. A vacina Ă© sempre recomendada como profilaxia, e Ă© uma estratĂ©gia de saĂșde pĂșblicaâ, conclui Fabrizia.
AtĂ© o dia 27 de janeiro deste ano, segundo levantamento do ConsĂłrcio de VeĂculos de Imprensa junto a dados das Secretarias Estaduais de SaĂșde, mais de 464,3 milhĂ”es de doses das vacinas foram aplicadas no Brasil, sendo foram mais 182,7 milhĂ”es da primeira dose, cobrindo 80,05% da população total. Da segunda dose, foram cerca de 173 milhĂ”es, com cobertura de 80,56. E outras 108,5 milhĂ”es foram da dose de reforço, alcançando 50,52% da população geral.
Atualmente, estĂĄ sendo aplicada a vacina bivalente, que promove a imunização para as novas variantes do coronavĂrus, alĂ©m da cepa original. AtĂ© o Ășltimo dia 2 de junho, ela jĂĄ foi aplicada em mais de 21,3 milhĂ”es de pessoas, de acordo com dados do MinistĂ©rio da SaĂșde. O ĂłrgĂŁo jĂĄ estendeu a aplicação desta vacina para todos os brasileiros maiores de 18 anos que tenham completado o ciclo inicial com as duas doses da vacina, respeitando um intervalo mĂnimo de quatro meses apĂłs a Ășltima dose.