Sequestro de Marcelo Alifantis, em Canoas, completa 26 anos sem solução

O adolescente nunca mais foi visto

Completou no último domingo (5) 26 anos do sequestro de Marcelo Alifantis. O adolescente de 14 anos, que morava na Vila Hércules, foi levado por criminosos em 1994.

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Marcelo saiu de casa, durante a tarde, para jogar de futebol em uma praça da Rua Oscar Pedro Kulzer. Ele nunca mais foi visto. Quando o caso completou 25 anos, a Agência GBC fez uma reportagem especial sobre o caso.

Entenda o crime

Janeiro, verão e férias! Essa é a combinação perfeita para que qualquer menino da idade de Marcelo saísse de casa e fosse brincar na rua. Inclusive, isso já fazia parte da rotina do adolescente. Naquele dia, a diversão teve outro rumo. Alifantis foi visto conversando com dois homens na praça, minutos depois de ter chegado ao local. Quem contou isso para a polícia foi o antigo presidente da associação de moradores do bairro, Adônis Azambuja. Ele foi à última pessoa que viu o adolescente.

Na tarde que foi sequestrado, Marcelo iria jogar bola nesta quadra na Vila Hércules (Foto: Jaime Zanatta/GBC)

Como naquela época ainda não tinha redes sociais, o assunto demorou um pouco para circular pelo bairro. Por volta das 18 horas, os moradores começaram a falar sobre o sequestro e horas depois os criminosos fizeram o primeiro contato. Após a ligação, vizinhos a casa da família começaram uma vigília de orações. Todos rezavam para que o menino voltasse. Naquela época, ninguém imaginava que o adolescente nunca mais seria visto.

Diversas vigílias foram realizadas pelos vizinhos da família de Marcelo (Foto: Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

Todo mundo se fazia a mesma pergunta: “Tu tá sabendo que sequestraram o Marcelo?” Rapidamente o assunto ganhou as ruas da cidade, de municípios vizinhos, do Estado e até do Brasil.

Exigências

Para liberar Marcelo, os criminosos pediram o valor de R$ 200 mil dólares. O valor era equivalente ao patrimônio do pai do adolescente. Ele era proprietário de uma transportadora em Pelotas, no Sul do Rio Grande do Sul.

Esse pedido chamou a atenção da Polícia Civil que investigava o caso. Pessoas próximas a família passaram a ser suspeitas de estarem envolvidas no seqüestro.

Os dias foram passando e novos contatos foram feitos. No dia 11 de janeiro, o pai de Marcelo, Anastacius Alifantis, pediu provas para os criminosos de que o menino estava vivo. A quantia pedida foi levantada e entregue para os criminosos. Porém, o adolescente não apareceu.

A angustia foi aumentando e a esperança diminuindo cada vez mais. Na praça onde o menino desapareceu, os moradores do bairro seguiram se reunindo em vigília. Já a polícia seguia trabalhando para a resolução do caso.

Por meses, o assunto foi destaque na imprensa local, estadual e nacional (Foto: Diário de Canoas/Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

Em 25 de janeiro, o então governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares, se reuniu com as autoridades da área de segurança. O objetivo era colocar todo o efetivo policial gaúcho atrás de pistas que o levassem até o adolescente. Na época, a polícia informava para a imprensa que não havia um discurso afinado e nem uma prova concreta do que realmente tinha acontecido. Nos primeiros dias após o sequestro, os policiais já haviam feito uma grande operação de busca. Barcos, helicópteros e viaturas vasculharam a região e ilhas nos rios Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos, atrás de um possível cativeiro.

Avanços nas investigações

Quase dois anos depois do sequestro, em outubro de 1995, a polícia teve a primeira pista concreta sobre o crime. Um homem que estava preso no Presídio Central e que até então era desconhecido, Alberto Cardoso, confessou para um promotor de justiça que participou da ação. Ele acusou um dos tios do adolescente como mandante.

Alberto contou que dirigiu o carro do tio de Marcelo no dia do crime e que estava sendo ameaçado por dois policiais civis que também teriam participado do sequestro. Cardoso revelou que Marcelo estava vivo.

O sequestro de Marcelo foi investigado de 1994 até 2003, quando o caso foi arquivado
(Foto: Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

Na época, ele relatou que não podia falar porque levou tanto tempo para contar que o adolescente não tinha morrido. Além disso, Alberto disse para a polícia que Marcelo estava em um cativeiro no Rio Grande do Sul. Ele deu dois endereços na Região Metropolitana para a polícia ir atrás do menor. Porém, em nenhum cativeiro Alifantis foi encontrado.

Reabertura, mais pistas e prisões

Em maio de 2002 uma denúncia anônima fez com que o processo do seqüestro fosse reaberto pela Corregedoria. Dois ex-policiais civis estariam envolvidos no crime. A suspeita, na época, era que um deles que trabalhava no caso, tivesse atrapalhado as investigações para evitar que a quadrilha fosse descoberta.

A reabertura também apontou falhas no inquérito. Extratos telefônicos, dados sobre as pessoas que ligavam pedindo resgate e vozes gravadas, não foram levadas em consideração pelos investigadores. Na época, o delegado de polícia responsável pela nova fase do processo, José Renato Moura, disse que essa era uma situação que envergonhava a classe. “Nos envergonha como instituição Polícia Civil ter colegas que participaram desse crime”.

Sete pessoas foram presas após a reabertura. No grupo, estavam um taxista e uma cabeleireira.

Diversas buscas foram realizadas pela polícia durante as investigações do sequestro (Foto: Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

Sem provas, todo mundo solto

Em dezembro de 2003, a justiça revogou a prisão dos sete acusados. O motivo, é que nada comprovou à participação deles no crime.

Nessa época houve um pedido da 3ª Promotoria Criminal de Canoas para que o processo ficasse em segredo de justiça. O objetivo era garantir a segurança das pessoas que colaboraram ao longo das investigações.

Depois disso, o caso foi arquivado.

Poucas lembranças

Com o passar do tempo, as buscas da polícia foram cessando e as informações sobre um possível paradeiro de Marcelo não foram mais atualizadas. 25 anos depois do seqüestro o assunto é pouco falado na vizinhança.

Quem viveu o drama do seqüestro e fala sobre as lembranças prefere não ser identificado. Morador da Hércules há mais de 30 anos conta como o crime é visto pelos moradores do bairro. “Muito tempo se passou, mas o assunto acabou morrendo dois, três anos depois do crime porque nada e nem ninguém foi achado”.

Muita coisa mudou de lá pra cá. Uma delas foram as residências. A da família de Alifantis mudou logo depois do crime. Grades, muros altos e residências mais afastadas da calçada, vieram por medo dos morados que novos sequestros acontecessem.

Essa era a residência da família Alifantis na época do crime. Hoje, eles moram na Hércules, mas em outro endereço. (Foto: Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

Uma vizinha da família de Marcelo, que também prefere não ter o nome identificado, se lembra do menino. Com carinho, ela relata que ele era amigo de seus filhos. “Educado e carismático com todos”, conta. Ela ainda recorda que dias antes do crime, a vizinhança reunida comemorou a chegada de 1994. Os moradores fecharam a rua e festejaram o novo ano. O adolescente estava lá reservado, mas brincando com os amigos.

Daquele janeiro sobraram as lembranças de quem viveu toda a rotina do crime junto com a família de Marcelo e as perguntas que nunca tiveram resposta. Na parada de ônibus, uma idosa faz o seguinte questionamento: “será que o menino ainda está vivo?” Na época, o adolescente tinha 14 anos, hoje a sua idade é 39.

Desde a época do crime até os dias de hoje, a região segue sendo tranqüila e é considerado um bom local para se morar.

Sem depoimentos

Tentamos contato com a família de Marcelo Alifantis. Sua mãe, Vera Alifantis, ainda reside na mesma rua onde tudo aconteceu, junto com grande parte da sua família. Porém, ela não foi encontrada para conversar com a nossa equipe.

Já o pai, Anastacius Alifantis se separou de Vera, anos depois do crime foi morar em Guarapuava, no interior do Paraná. Também foi procurado, mas não atendeu as ligações.

Na maioria das vezes, era Anastacius que atendia a imprensa frente da residência que a família morava (Foto: Acervo Biblioteca Municipal João Palma da Silva)

*Para a produção da reportagem, parte do acervo jornalístico da Biblioteca Municipal João Palma da Silva de Canoas foi consultado. 

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