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21 de novembro de 2024

Prefeito pede a colegas e ao governador que seja feito lockdown na Região Metropolitana

Em carta, ele relata que após a ação, o comércio deverá ser reaberto com segurança

O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, encaminhou uma carta ao governador Eduardo Leite e aos prefeitos da Região Metropolitana e Vale do Sinos. No texto, ele pede o lockdown de 15 dias na região.

Vanazzi disse ver a necessidade dessa ação a partir da ocupação dos leitos de UTI Covid no Hospital Centenário e com o alerta de profissionais da saúde. O prefeito disse que o “Estado assumir urgente  uma postura que defenda a saúde e preserve empregos na região.”

Além disso, Vanazzi ainda ressaltou que “por falta de uma decisão coletiva, esse abre e fecha causa incerteza e insegurança e tem gerado prejuízo enorme para o setor comercial, sobretudo para os pequenos comerciantes, aumentando a crise e as demissões.” A sugestão do prefeito de São Leopoldo é que após uma parada de 15 dias, em acordo com os setores produtivos e com dados técnicos, as atividades sejam reabertas gradualmente com segurança.

Na carta, também pede que os prefeitos e prefeitas da região metropolitana garantam a fiscalização e unifiquem as regras de funcionamento das atividades econômicas.

Leia a carta na íntegra:

Conforme análise anunciada em 12 de julho pelo professor Álvaro Ramos, do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considerando os dados referentes ao avanço do número de casos confirmados de COVID-19 no RS e de ocupação de leitos de UTI, considerando também outros fatores como a taxa de adesão às medidas de distanciamento social pela população no RS, observa-se que houve um avanço do número de casos confirmados e da taxa de ocupação de leitos hospitalares em todas as regiões do estado. Destaca-se, após essa análise, que a região metropolitana do RS encontra-se com a maior taxa de ocupação de leitos de UTI quando comparada às demais regiões do estado. Some-se a isto que, conforme os critérios estabelecidos na proposta de Distanciamento Social Controlado elaborada pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, a região encontrar-se-ia em alerta de “bandeira preta”, justificando-se adotar, portanto, a medida de fechamento total por 15 dias, chamada de “Lockdown”.

Ademais, considerando o exposto por Pedro Hallal, médico epidemiologista, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que coordenou a maior pesquisa sobre Prevalência de Infecção por SarsCov-2 realizada no Brasil, estamos enfrentando, no RS, o pico (ou muito próximo deste) do número de casos ativos e internação em leitos de UTI devido à COVID-19, referindo que: “Neste momento em que estamos perto ou no pico da contaminação, estarmos com as portas abertas é uma irresponsabilidade”. O mesmo defende um Lockdown rigoroso, com duração de 15 dias, a fim de mitigar os prejuízos que podem ser causados pela lotação dos hospitais.

A Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI), em nota de alerta emitida no dia 12 de julho, solicita de gestores medidas mais rigorosas de enfrentamento à pandemia, sugerindo a adoção da estratégia do Lockdown, por considerar que as medidas adotadas até o momento serão insuficientes diante do cenário de avanço da pandemia e do número de pacientes infectados no estado.

Em São Leopoldo, desde o dia 1º de julho, a lotação dos leitos de UTI destinados à atenção aos pacientes com diagnóstico ou suspeita de COVID-19 está entre 80% e 110%, qual seja, estamos há mais de 15 dias com os leitos de UTI lotados, enfrentando inclusive uma grave crise de desabastecimento das medicações necessárias para realizar o cuidado de pacientes que precisam ser entubados, fato amplamente noticiado e que está ocorrendo em todo o território nacional. Porém, desde o dia 15 de julho, uma situação produz para o município o máximo alerta: estamos com 100% dos leitos da UTI COVID-19 lotados e, pela primeira vez, todos os pacientes já possuem resultado positivo para COVID-19 e todos estão em ventilação mecânica. Destaca-se que, na maioria dos casos, até que recuperado o paciente precisa permanecer um longo período em ventilação mecânica, o que impõe a permanência deste em leito de UTI por período prolongado. Se considerarmos os dados da Região 7 de Saúde, na qual está localizada São Leopoldo e outros municípios da região metropolitana, atingimos o índice de 100% de ocupação de leitos da UTI COVID-19 ainda em 05 de julho, permanecendo os leitos de UTI COVID-19 da região em lotação máxima ou muito próximo desta desde então.

O Hospital Municipal Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, em nota publicada em seu site Oficial no dia 14 de julho, informou o bloqueio de seus leitos de UTI, incluindo aqueles destinados ao atendimento aos pacientes com COVID-19, motivados tanto pela lotação de leitos de UTI ter atingido mais de 100%, quanto pela crise de desabastecimento de medicações, o que causa insegurança na manutenção dos pacientes em internação sendo, portanto, necessária a destinação de pacientes referenciados nesta instituição a outros hospitais da região, que também encontram-se com dificuldade de abastecimento das referidas medicações e com lotação de seus leitos de UTI muito próxima do limite.

Ademais, o prefeito de Porto Alegre convocou reunião de emergência com os gestores dos hospitais do município nesta sexta-feira, dia 17/07/2020, para discutir a possibilidade de estruturação e ampliação de leitos para cuidados de pacientes em situação crítica fora das UTIs, tendo em vista que todas as instituições hospitalares de Porto Alegre, que também são referência para outros municípios da região, estão com todos ou quase todos os seus leitos de UTI ocupados.

Outro grave problema enfrentado, já destacado em nota oficial pelo Conselho Nacional de Saúde, é a dificuldade de garantir as equipes completas para a atenção nos serviços de saúde, principalmente para as equipes que estão atendendo pacientes em leitos de UTI. Este é um problema enfrentado nacionalmente, que acaba sobrecarregando aqueles profissionais que estão em atuação permanente, bem como colocando em risco a continuidade do atendimento na totalidade dos leitos habilitados e estruturados. Este problema também é enfrentado no município de São Leopoldo, o qual já anunciou a dificuldade de contratar profissionais para reforçar as equipes nos serviços, mostrando-se mais crítica e sensível a situação na Fundação Hospital Centenário.

Ao mesmo tempo, destacamos que a Secretaria Municipal de Saúde e Prefeitura Municipal de São Leopoldo já anunciavam a gravidade da situação referente ao avanço do número de casos ativos e da ocupação de leitos de UTI na Fundação Hospital Centenário de São Leopoldo, por meio de Nota Oficial publicada em 13 de junho, há 34 dias, declarando estar o município em estado de alerta.

Outros fatos importantes noticiados nos últimos dias são o crescente questionamento, em estudos científicos de várias instituições do mundo, sobre a eficiência do tratamento intensivo hospitalar em relação aos seus resultados em pacientes que possuem um quadro agudo de infecção. E de outro lado, a recente identificação na rede hospitalar do país da reinfecção com COVID 19 em profissionais de saúde, indicando que cada vez que as evidências de não efetividade da imunização de grupo como uma estratégia possível.

Por fim, destacamos que a Paralisação setorial das atividades esta prejudicando enormemente alguns segmentos em detrimento de outros, gerando um efeito sistêmico a diversos segmentos empresariais de pequeno porte, gerando também grandes prejuízos não só aos setores paralisados e também à indústria que abastece nosso mercado interno, ameaçando a base de sustentação de empregos no segmento. De fato, tais paralisações setoriais, centradas no comércio e serviços, embora reduza as taxas de contágio, não tem sido suficiente para mitigar a curva de contágio, e efetivamente desacelerar a doença.

Portanto, considerando os dados do avanço da pandemia no RS, considerando as informações disponibilizadas pelo governo do estado e o nível de alerta há um longo período presente na região metropolitana, considerando a crise de desabastecimento das medicações essenciais para atenção à pacientes em UTI, bem como considerando a taxa de ocupação de leitos de UTI no município e na região, a Prefeitura Municipal de São Leopoldo vem, por meio deste, propor:

1. Que o Governador assuma liderança de um grande pacto social, num esforço conjunto e concentrado envolvendo todos os setores econômicos e sociais do estado do Rio Grande do Sul, para que se realize um fechamento total, por tempo determinado, na região metropolitana, de Porto Alegre, pelo menos, para que se reduza a taxa de contágio, e permitir que seja possível a recuperação de pacientes que estão em internação, a reestruturação das equipes, liberação dos leitos e reestabelecimento da capacidade de atenção da rede de saúde da região visto que a estratégia de enfrentamento da pandemia pela ampliação de leitos de UTI encontra-se esgotada.

2. Que os prefeitos e prefeitas da região metropolitana assumam a estratégia de isolamento social geral por 15 dias garantindo a fiscalização e engajando todos os setores organizados de suas cidades no controle da trágica situação.

3. Que tal medida seja seguida de estabelecimento de regras unificadas regionalmente para o funcionamento das atividades econômicas.

São Leopoldo, 17 de julho de 2020.

Ary José Vanazzi

Prefeito de São Leopoldo

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