A mega-operação intitulada Cativeiro deflagrada nesta terça-feira (3) pela Polícia Civil – em parceria com a Brigada Militar, Guarda Municipal e Susepe –, teve até reforço dos helicópteros da PC e da BM. No matagal atrás de um residencial, onde traficantes expulsavam moradores, o Batalhão de Operações Especiais (BOPE) passou a madrugada para evitar fuga de criminosos.
Mais de 500 policiais cumpriram 69 ordens judiciais em Canoas, Cachoeirinha, Charqueadas, Pelotas e Porto Alegre. Até o momento, dez criminosos foram presos. Os policiais apreenderam armas, munições, drogas, miguelitos, colete balístico, rádio comunicador e dinheiros.
Sequestro de sogra de policial
O que desencadeou a ação foi um sequestro da sogra de um PM. De dentro da Penitenciária de Charqueadas, um criminoso comandou o crime. Isso, porque ele participou de uma chacina em Mostardas, no Litoral Norte, e foi preso no residencial. O policial foi visitar a sogra e os criminosos acharam que ele teria denunciado. Por isso, a facção decidiu punir a família do servidor. Segundo a polícia, o primeiro passo foi expulsar a moradora do condomínio. Alguns dias depois sequestraram a mulher para exigir que ela identificasse o policial, pois eles tinham como objetivo atraí-lo para um acerto de contas.
A investigação teve acesso ao áudio que os criminosos enviaram ao Policial Militar, no qual a mãe dele fazia o apelo: “Não alerta a polícia. Responde às perguntas que ele quer. Negócio é sério. Eles tão comigo, eu estou com uma arma na minha boca, não avisa ninguém, senão eu vou morrer”. Além do áudio, os criminosos enviarem uma foto para comprovar a ameaça. Na imagem a mulher estava cabisbaixa e com uma arma apontada para a cabeça. “Ficamos 10 horas atrás dela. Eles tinham dois cativeiros dentro do condomínio. Conseguimos resgatar a vítima, quando uma guarnição encontrou um dos criminosos caminhando com ela pelo bairro durante a noite”, contou o Comandante do 15° Batalhão de Polícia Militar (15° BPM), Tenente Coronel Jorge Dirceu Filho.
Além do sequestro, também tinha expulsões
Durante a investigação do sequestro, que ocorreu em outubro de 2019, os policiais descobriram que eles estavam expulsando moradores. Para isso, eles coagiam, faziam graves ameaças e praticavam atos violentos. “Eles expulsavam os moradores que não aceitavam encobrir a ação criminosa deles”, relatou o Comandante.
Além disso, os policiais coordenados pelo delegado Thiago Lacerda, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), descobriram que até o porteiro trabalhava para a facção criminosa. Além disso, um dos criminosos responsáveis pela expulsão do local é o responsável por atear fogo em um ônibus da Vicasa no terminal da Estação Mathias Velho, em Canoas. No dia do sequestro, inclusive, ele foi preso em flagrante.
Foi identificado que os criminosos dominavam dois condomínios (Pistóia e Machadinho) realizando a expulsão de moradores através de coações, graves ameaças e violência, trazendo pessoas relacionadas ao grupo criminoso para o interior do condomínio e praticando narcotraficância.
Pelo menos 23 moradores foram expulsos. “Sabemos que existe uma cifra oculta neste número. Talvez por medo, os moradores não tenham denunciado”, comentou o Tenente Coronel Jorge Dirceu Filho.
“Entramos com muita energia. Muita força, para que a gente pudesse estrangular a organização criminosa, quebrar a coluna vertebral desses criminosos e causar para eles prejuízos, além de responsabilizá-los pelo que fizeram. Os atendados aos moradores expulsos, aos familiares do policial e ao servidor, também são um atentado contra o estado”, afirmou o diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, 2ª DPRM.
Balanço da Operação
Mais de 500 policiais cumpriram 69 ordens judiciais em Canoas, Cachoeirinha, Charqueadas, Pelotas e Porto Alegre. Até o momento, sete criminosos foram presos. Os policiais apreenderam armas, munições, drogas, miguelitos, colete balístico, rádio comunicador e dinheiros.