Bruno Lara | brunolara@agenciagbc.com
Ao que tudo indica, o debate entre quem é a favor e quem é contra a volta às aulas presenciais vai demorar até chegar em um ponto final. Em Canoas, as escolas estão fechadas em função do coronavírus desde o dia 19 de março de 2020.
Além das decisões do governador, da Justiça, da manifestação dos sindicatos e dos prefeitos, a disputa ganha mais um ingrediente: os pais. Organizados, alguns responsáveis pelas crianças decidiram participar ativamente para mostrar que querem o retorno.
Gabriela Negruni Wentz é funcionária da UFRGS e trabalha com ressonância magnética nuclear. Ela tem duas filhas na rede privada de Canoas, mas a mais velha já frequentou a escola pública. Defende que as escolas estejam abertas para quem quer e precisa.
Em sua opinião, a pandemia tem afetado a saúde mental de toda a família. “As crianças têm sofrido muito pela falta de convívio com seus pares. Temos relatos de crianças ansiosas, com sobrepeso e com depressão. Sem falar nas crianças mais carentes que tem uma estrutura familiar mais frágil. Muitos pais não têm como não trabalhar presencialmente, como é o meu caso, e precisam contratar alguém para ficar com as crianças ou deixar na casa de alguém. Outros trabalham remotamente, mas precisam dar atenção as crianças. Conheço mães que trabalham de madrugada e aos sábados para dar conta”, relata.
Já Janine Priscila Duarte Ferreira ficou sem emprego por causa dos cortes durante a pandemia. Gastrônoma de profissão, o restaurante em que trabalhava fechou em março do ano passado e não reabriu por ser dentro de uma instituição de ensino.
Ela tem um casal de gêmeos de 4 anos, em uma escola privada de Canoas. “Percebo maior prejuízo no desenvolvimento psicomotor, socialização, cognitivo. E nos meus filhos início de ansiedade e gagueira. E para os pais a não possibilidade de trabalhar por ter que ficar com eles e acompanhar todas as aulas online, o que dificulta muito o aprendizado”, opina.
Na sua opinião, a criança precisa socializar com outras crianças, já que aprendem por exemplos. “São competitivas, precisam de espaço para correr, brincar, gastar energia. Pois são uma esponja de aprendizado e neste momento tudo isso foi vetado deles”. A mãe também acredita que a mudança repentina de decisões atrapalha. “Na idade que estão criam expectativas, quando falamos vamos montar a mochila e ver os amigos e a aula é proibida, eles não entendem por que um dia pode outro não”, relata.
Já na escola pública, a motorista de aplicativo Cibele Ferreira Oliveira dos Santos tem um filho de 13 anos. Ela e a mãe foram contaminadas com o vírus no ano passado. “Testei positivo em novembro, eu e minha mãe. Tive dor de cabeça, dor de garganta e dores musculares. Minha mãe não conseguia comer nada e muita dor muscular, gosto amargo na boca. Ficou em torno de cinco dias só dormindo. Me assustou”, conta, lembrando que o filho não foi infectado.
Ela é a favor da volta presencial. “Acho que as crianças precisam retornar, estão atrasando o ensino e aprendizagem delas. Sou um dos trabalhadores que não pararam. E não fui vacinada, nem sei quando serei. Por que os professores são melhores do que o restante da população? Sei que não é fácil, corremos risco também”, questiona.
Depois da liberação do governador Eduardo Leite (PSDB), o prefeito de Canoas Jairo Jorge (PSD) realizou uma consulta popular através do site da Prefeitura. Foram 10.542 votos contrários ao retorno e 3.463 foram favoráveis. Com isso, as 84 escolas que fazem parte da rede pública municipal devem permanecer fechadas. Escolas estaduais e privadas devem retornar até a próxima segunda-feira (3).