Cavalgada de quase dois quilômetros, dia ‘de luxo’ e almoço campeiro: como encerra Semana Farroupilha em Canoas

O 20 de Setembro no Parque do Gaúcho foi de espera pela Cavalgada Farroupilha, muito churrasco e comida campeira: 'gauchismo raiz' sem megapalco bancado Prefeitura

Foi uma Semana Farroupilha diferente essa de 2022 em Canoas. Sem recursos públicos no orçamento, restou aos CTGs da cidade e aos piquetes organizados uma série de atividades ‘raiz’: a programação teve desde o passo a passo para preparação de uma boa comida campeira à apresentações de invernadas artísticas, vaca parada e declamação de poesia. Só não teve shows de lotar o Eduardo Gomes, nem atrações de fora do ‘cardápio’ local: sem o aporte financeiro da Prefeitura, que optou por concentrar seus esforços na recuperação da cidade após o temporal de 15 de agosto, as festividades que simbolizam a tradição e a cultura gaúcha tiveram um toque mais ‘caseiro’, por assim dizer; ou “pé-no-chão, realista”, como definiu o prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques, enquanto aguardava no piquete da Prefeitura a chegada dos cavalarianos em comitiva.

A Cavalgada Farroupilha, aliás, foi um dos pontos principais da festa deste ano. O dia lindo, de ‘luxo’, com céu azul, sol e calor, ajudou. A expectativa de 400 homens e mulheres a cavalo pelas ruas da cidade foi superada e muito; extraoficialmente, as forças de apoio contabilizaram 800 montarias na saída da Avenida das Canoas, por volta das 10h da manhã. Ao longo do percurso, cavalarianos e caminhões decorados formaram uma fila de quase dois quilômetros e meio. na Chegada ao Eduardo Gomes, por exemplo, quando os primeiros ginetes se aproximavam do portão, os últimos estavam lá pela Rua Araçá, passando por cima do viaduto sobre o Trensurb e descendo do outro lado – toda a pista do Centro em direção ao bairro fechada e cheia de gente, animais, estandartes e lanças campeiras. Falando em lança, abrindo a comitiva veio a ‘lanceira’ Cibele Silva, 25 anos, representando a Associação dos Tradicionalistas de Canoas, a ATC. Lanceira é como se chama a função de ‘guarda’ dos cavalarianos e Cibele não estava só: Márcia Rodrigues dos Santos Dias, que no ano passado teve a honra de desfilar como Anita no evento temático sobre a importância da mulher no tradicionalismo, vinha ao lado dela. “Praticamente nasci no lombo do cavalo”, disse, perguntada sobre há quanto tempo participava da cavalgada. “Pena não ter shows e tudo o mais, mas acabou sendo um evento para quem gosta de verdade”, resumiu, não fugindo à polêmica sobre a negativa de recursos da Prefeitura.

O governo não pôs dinheiro, mas deu apoio. Toda a cavalgada teve o acompanhamento da Guarda Municipal, da fiscalização de trânsito e de uma equipe de limpeza que veio recolhendo os ‘detritos’ mal-cheirosos que os cavalos deixaram pelo percurso. No Parque, guardas e sinalização garantiram uma festa segura.

Ainda na Cavalgada, seguindo o comitê da ATC, veio a ‘gurizada’ do CTG Alma Crioula, a segunda entidade tradicionalista mais antiga da cidade, fundada em abril de 1963. No galpão que fica na mesma quadra do Piquete da Prefeitura no Parque do Gaúcho, no coração do Eduardo Gomes, o patrão José Dias aguardava a chegada da turma enquanto Félix Feijó, o assador oficial da casa, preparava um galeto temperado a capricho para ir à brasa, como manda o figurino. Tirou de letra: há mais de 40 anos é o Félix que se incumbe da churrasqueira nas campereadas da vida – não será nesse 20 de setembro que vai sapecar o couro da das galinhas.

Félix Feijó, o assador do galeto caprichado no Alma Crioula no Acampamento Farroupilha

Ao redor dali, todos os piquetes e CTGs preparavam o almoço como se fosse domingo. Tinha costelão e costelinha, ovelha, vazio e comida de panela. Os preços variavam de R$ 25 a R$ 35 em média, com bebidas à parte. Para comer galinha da colônia feita na panela de ferro e massa caseira tinha fila. Uma estimativa dos assadores dos principais CTGs deu conta de que foram preparados, servidos e consumidos cerca de dois mil quilos de carne assada ao longo dos festejos farroupilhas.

Piquete Lenço Colorado foi pelo tradicional: costelão no fogo de chão e ovelha, a ‘princesa’ do churrasco campeiro.

O único incidente regritrado em toda a Cavalgada foi a queda de uma ginete na Avenida Guilherme Schell, na altura da Rua Araçá. Ela foi socorrida pela SAMU e levada ao Pronto Socorro. A identidade e as condições de saúde da participante ainda não foram divulgadas.

A festa de encerramento da Semana Farroupilha segue até à noite no Eduardo Gomes. O evento que apaga a centelha crioula está marcado para 23h30 e a ATC promete já começar os preparativos para a Semana Farroupilha do ano que vem – quem sabe, daí, com show para lotar a concha acústica e renovar o gosto pela tradição.

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