Jairo Jorge não volta à Prefeitura em 28 de setembro. A desembargadora Gisele Anne Vieira Azambuja, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, deferiu cautelar a pedido do Ministério Público e prorrogou por mais 180 dias o período de afastamento do prefeito. Com isso, Nedy de Vargas Marques segue no cargo.
De acordo com o procurador de Justiça Ricardo Herbstrith, que responde pela antiga Procuradoria dos Prefeitos e, hoje, Função Penal Originária, a base do pedido é o risco ao processo. “Não se analisa, nessa fase, o mérito, embora os elementos de prova, ao nosso ver, estejam presentes. Agora, o que está em jogo é a conveniência do afastamento para o bom andamento do processo”, disse, em conversa com jornalistas na sede do MP, horas antes da divulgação da cautelar de renovação.
Ele e o promotor Marcelo Dossena reforçaram a narrativa já contada anteriormente e que coloca Jairo no centro do núcleo político de uma organização criminosa que teria agido para fraudar licitações na Prefeitura de Canoas. A primeira delas a que foi contratada, por dispensa de licitação, para copeiragem e limpeza de prédios do governo – daí, o nome Copa Livre. Adiante, o grupo teria estendido sua atuação para onde, de fato, era sua área de interesse: contratos na área de Saúde, para gestão hospitalar especialmente.
Com a quebra de sigilo bancário dos investigados, o MP imagina que tenha descoberto o ‘caminho do dinheiro’, ou seja, por onde passaram os recursos que seriam fruto da atividade irregular do grupo. É aí que entra um dos principais argumentos dos promotores para denunciar o prefeito: a sociedade que sua esposa e enteada tinham com pessoas ligadas ao núcleo empresarial do suposto esquema.
“O dinheiro que entrava para os familiares do prefeito não tem nenhuma relação com o faturamento de farmácias”, afirmou Marcelo Dossena. “É dinheiro do núcleo empresarial que corrompeu Jairo Jorge em 2020 passando a ele o dinheiro que lhe era afeto”.
Os indícios vindos da quebra de sigilo devem compor a terceira denúncia que o MP fará ainda no âmbito das investigações da Copa Livre. De acordo com os promotores, quatro empresas foram alvo da investigação e duas delas já deram origem à denúncias: A GMS, que fazia copeiragem da prefeitura, e a CAP Serviços Médicos, que fazia a gestão da SAMU. “Todas braços do esquema criminoso e do mesmo núcleo empresarial operado lá de São Paulo”, afirma o procurador Herbstrith.
O bate, rebate e o rebote
Depois das informações, comento.
A entrevista do MP é, na verdade, o ‘rebate’ da entrevista que Jorge deu à Gaúcha, há uma semana. No início da fala, o procurador Ricardo Herbstrith, famoso por dar poucas declarações à imprensa, disse que só estava se manifestando agora por conta do MP ter sido citado por Jairo na entrevista.
O ‘bate’ de Jairo rendeu o ‘rebate’ do MP.
O rebote foi a decisão da 4ª Câmara, que manteve o afastamento. Era a chance de Jairo defender-se das acusações que pesam sobre ele diante do cargo para o qual foi eleito. A cautelar não prova que o prefeito fez o que o MP alega, mas amplia o desgaste dele no imaginário da população: o que há de errado para que a Justiça não deixá-lo voltar?
Esse assunto ainda vai longe.