“Não tenho nada contra o Jairo Jorge”, começa dizendo um muito à vontade Nedy de Vargas Marques ao chegar à sala de reuniões ao lado do gabinete do prefeito, espaço que passou a ocupar após a confirmação do segundo afastamento do titular do cargo, JJ, no final de setembro. O prefeito em exercício segue. “Se ele não está aqui, é por uma ação do Ministério Público confirmada por decisões judiciais reiteradas”.
O papo não é gratuito. Nedy reagiu a uma declaração de Jairo publicada na edição desta terça, 8, do Diário de Canoas. A pedido do jornal, o prefeito afastado comentou a atuação de seu substituo no cargo. “Quem está na prefeitura é o vice-prefeito eleito. Se perceber algo que não concorde quando eu voltar, não terei problema em mudar”, disse, conforme o jornalista reproduziu em nota na página 2.
“Não quero criar intriga: ele está correto. Fui eleito em 2020 para substituir o titular em qualquer infortúnio, como o que estamos vivendo”, comenta Nedy, para emendar: “Se a Justiça lhe permitir voltar, ele tem o direito de mudar o que quiser assim como eu tenho, agora, o direito de mudar o governo ao meu modo de pensar”.
Se estão todos ‘corretos’, então qual é o babado? A teoria do repórter que este ano completa 25 anos de cobertura política é uma só: a inevitável conclusão de que prefeito em exercício e o prefeito afastado estão em uma velada rota de colisão. Impedidos de uma conversa olho no olho pelas restrições da Copa Livre, JJ e Nedy ensaiam jogadas e movimentos que revelam intenções. Mais cedo ou mais tarde, o casamento perfeito que elegeu prefeito e vice em 2020 se transformará em divórcio litigioso, a vermos.
Explico o que penso e escrevo dando um pouco de contexto. Ao longo da segunda e da terça, uma série de demissões foram publicadas no Diário Oficial do município – e outras ainda devem vir na sequência dos dias. Jairistas, em sua maioria. Nedy não classifica assim. Busca dar um tom de naturalidade às saídas, inclusive; diz que são os que não se adaptaram ao seu modo de governar. “São pessoas que não estavam focadas”, garante. Nos corredores da prefeitura, já ouvi que alguns cruzaram os braços a espera de que Jairo volte – não todos, é verdade. Para estes, o governo deveria manter o compasso de espera para dar um salto quando o titular puder retornar ao paço. Por óbvio, Nedy não comunga dessa tese. Uma vez no cargo, quer ser o protagonista e não o ‘intervalo’. “Desde que foi confirmado o segundo afastamento do prefeito, decidi imprimir o meu estilo sobre o governo. Qualquer outra postura seria uma irresponsabilidade com a cidade que nos elegeu e um desserviço à população”, afirma Nedy.
De qualquer sorte, duvido muito que a ordem para ‘cruzar os braços’ tenha partido de JJ. Os que o fizeram provavelmente o fizeram como prova de lealdade ao chefe. A se manter o rumo das coisas, mesmo que Nedy se esforce para manter panos quentes sobre a realidade, ela vai se impor categoricamente: Jairo e Nedy, juntos, só nas fotos de 2020.