23 de dezembro de 2023: anotem esse dia. É quando vence o contrato atual com a Sogal para operação do transporte público em Canoas e data a partir da qual uma nova empresa – ou empresas – deveriam estar prontas para assumir o serviço. Claro, tudo depois de uma licitação feita ‘nos trinques’, com um modelo que atenda melhor a necessidade dos usuários do serviço e bem discutido em audiências públicas pela cidade.
Transporte público, onipresente na queixa de quem depende dele para ir e vir, andou pouco no último ano. De subsídio em subsídio, levou o que precisava para manter-se em pé – mas sempre cambaleante. Prevejo que a Sogal tenha que comprar, ou até ja o tenha feito, outro guincho: já são tantos os ‘pifados’ pelas ruas que um só certamente não dá conta.
Na coletiva que concedeu à imprensa logo após a retomada do governo, Jairo Jorge disse que faz parte desse período de diagnóstico saber como está o andamento do processo que vai revelar o novo sistema de transporte da cidade. Antes de ser afastado em março do ano passado, ele defendia que o governo federal bancasse as gratuidades definidas em lei federal, especialmente a que garante transporte gratuito para idosos acima dos 60 anos. O município segue pagando as gratuidades definidas em leis municipais, como meia-passagem para estudantes e portadores de deficiência e seus acompanhantes, mas o cobertor é sempre curto. Sem uma solução estrutural, o transporte vira um saco sem fundo sumir de dinheiro – só que é dinheiro público, lembrem-se, já que sem subsídio o povo fica na parada, aqui em Canoas e em qualquer grande cidade brasileira.
E mesmo com esse ‘dim-dim’ a mais, o transporte não melhorou – só deixou de colapsar. No início da semana, a Sogal quitou o vale-refeição do mês passado, ou seja, já está em atraso de quase um mês de novo. Em maio, tem dissídio dos rodoviários e com a inflação comendo junto na mesa do trabalhador, não dá para pedir que o sacrifício saia só do bolso deles. Aumento de passagem? Talvez não haja espaço para isso.
No final de 2022, Sogal, governo e União assinaram um acordo para receber recursos federais referentes a perdas do sistema durante a pandemia. O programa fez parte do ‘chapéu alheio’ com que Bolsonaro cortejou aliados durante a campanha e, de muitas maneiras, não resolve o problema da conta da tarifa que não bate. Até porque, é uma ‘cota única’: o dinheiro entrou, mas não vem mais.
Esse é só parte do pepino. Em 2018, a Sogal entrou na Justiça alegando perdas na operação do sistema e cobrando da prefeitura uma dívida que, à época, remontava a R$ 26 milhões. O cálculo incluía renovação da frota antes do prazo e melhorias no sistema não previstas em contrato que, segundo a empresa, geraram custos altos. Essa dívida, inclusive, foi usada como argumento para a renovação da concessão em dezembro de 2019, quando houve a renovação que se encerra a uns dias do próximo Natal.
Parece óbvio que com os ‘socorros’ do governo à Sogal, essa conta dos R$ 26 milhões terá de ser recalculada – se é que, originalmente, já não foi. Mesmo assim, é outro elemento na complexa solução que terá de ser ‘parida’ em 9 meses.
E nem falamos ainda do aeromóvel.