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23 de junho de 2025

Antes de ter um sócio, você precisa saber disso

Advogado especialista na área responde com exclusividade às principais perguntas que surgem na hora de buscar um sócio

Além de guiar empresários na constituição e na gestão de sociedades, um especialista em Direito Societário auxilia na escolha do tipo de sociedade, na elaboração de contratos, na tomada de decisões e na resolução de conflitos. De acordo com André Cardoso Vasques, sócio da Xavier Vasques Advogados com especialização na área, o Direito possui enorme potencial preventivo ao estabelecer regras claras, elaborar acordos de acionistas e prevenir litígios.

Confira a seguir a entrevista com o profissional, em que são abordadas questões como cuidados na composição do quadro societário, mecanismos de resolução de conflitos e acordos entre acionistas. Além disso, descubra quais são as tendências do Direito Societário no Brasil, e quais práticas modernas e flexíveis de gestão empresarial têm mais chance de sobressair no futuro, promovendo maior segurança jurídica para investidores e sócios, sem deixar de lado a preocupação com sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas.

A partir de que momento o Direito Societário se tornou tão importante?

R: O Direito Societário, de forma resumida, é a área do Direito que trata das sociedades empresárias, estabelecendo as regras e regulamentações que norteiam sua constituição, organização e funcionamento. No Brasil, a importância do Direito Societário começa a partir da década de 1990, quando o país passou por um processo de abertura econômica e de internacionalização dos negócios. Com a entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional, houve uma necessidade maior de adequação às normas internacionais de governança corporativa e de transparência nas relações societárias. Além disso, a partir dos anos 2000, foram criadas ou alteradas significativamente diversas leis e regulamentações específicas para as empresas, como a Lei das Sociedades Anônimas e o Código Civil, o que tornou o Direito Societário ainda mais relevante para os negócios no país.

Como essa área pode guiar empresários, comerciantes e empreendedores?

R: O Direito Societário pode guiar empresários, comerciantes e empreendedores na constituição e gestão de sociedades empresárias, auxiliando na escolha do tipo societário mais adequado para o negócio, na elaboração dos contratos sociais e na realização de assembleias e reuniões para a tomada de decisões importantes. Além disso, a área pode auxiliar na resolução de conflitos entre os sócios e na adoção de medidas preventivas para evitar litígios.

O Direito Societário possui um potencial preventivo que ainda não foi bem explorado?

R: Sim, o Direito Societário possui um grande potencial preventivo que muitas vezes não é bem explorado. Ao estabelecer regras claras para a constituição e funcionamento das sociedades empresárias, a área pode prevenir conflitos entre os sócios e reduzir a possibilidade de litígios. Além disso, medidas preventivas como a elaboração de acordos de acionistas e a definição clara das atribuições e responsabilidades dos sócios podem contribuir para a estabilidade e sucesso do negócio.

Quais são os cuidados na hora de compor o quadro societário das empresas?

R: Inicialmente, um ponto fundamental é identificar se os sócios possuem objetivos comuns, a mesma visão empreendedora e partilham dos mesmos valores. Superada essa etapa, é importante definir claramente as atribuições e responsabilidades de cada sócio, bem como a forma de divisão de lucros e prejuízos. Também é importante considerar o histórico e perfil dos possíveis sócios, bem como a sua experiência e conhecimentos na área de atuação da empresa. Além disso, é recomendável estabelecer mecanismos de resolução de conflitos e elaborar um acordo de acionistas para definir as regras de governança da empresa.

Quais são as principais diferenças entre grandes e pequenas empresas na aplicação do Direito Societário?

R: O tamanho das empresas, grandes e pequenas, geralmente reflete o tamanho, a escala dos negócios e, consequentemente, a necessidade de uma estrutura societária simples ou mais complexa. As grandes empresas geralmente possuem um número maior de sócios e acionistas, o que torna a governança corporativa mais complexa, além de diretores com diferentes funções, deverá ser composta por departamentos, conselhos e demais órgãos, para que haja transparência e controle da gestão, do processo decisório, sempre com o fim de cumprir os objetivos da sociedade empresária. Já as empresas pequenas, que possuem um ou dois administradores, não necessitam de toda essa estrutura, poucos documentos bem elaborados como o contrato social e um acordo entre os quotistas atendem as necessidades de uma empresa menor.

Onde fica o “campo minado” desta área?

R: O “campo minado” do Direito Societário está, geralmente, na utilização de documentos societários padrões, quando, por exemplo, o contrato social e o estatuto da empresa são praticamente “formulários”, não elaborados por um profissional com expertise na área societária. Em regra, esses documentos não refletem a cultura dos sócios e da empresa, e nem mesmo seus objetivos e valores. Erros e omissões nesses documentos podem resultar em problemas futuros, como disputas entre sócios ou até mesmo processos judiciais.

Quando eu sei que preciso de um sócio? Quais tipos de sócio existem?

R: A decisão de ter um sócio depende do objetivo do negócio e das habilidades e recursos que o empreendedor possui. Um sócio pode trazer conhecimentos complementares, recursos financeiros, ou ajudar a dividir os riscos do negócio. Existem vários tipos de sócio, como o sócio investidor, que contribui com recursos financeiros, mas não participa da gestão, e o sócio administrador, que exerce funções de gestão na empresa.

Transformar empregados em sócios é um diferencial competitivo das empresas no mercado para reter pessoas? Quais os perigos desta prática?

R: Transformar empregados em sócios pode ser uma forma de reter talentos e motivar a equipe, mas é preciso tomar cuidado para não prejudicar a empresa no futuro. Muitas vezes a empresa decide transformar um empregado em sócio por questões financeiras, por exemplo, um excelente comercial com elevada remuneração passa a ser sócio. Mas será que esse excelente comercial será um excelente sócio? É preciso verificar se o “candidato” a sócio possui os mesmos objetivos dos demais, se comunga dos mesmos valores e visão empreendedora e, mais, se agrega habilidades. É interessante que sócios possuam habilidades diferentes, que se somem, isso irá permitir, dentre outras coisas, que o negócio ganhe escala.

Na esfera de hoje do Direito Societário no Brasil, quais as tendências para os próximos anos?

R: No Brasil, uma tendência no Direito Societário é a adoção de práticas mais modernas e flexíveis de gestão empresarial, como a criação de estruturas societárias mais dinâmicas, que permitem a entrada de novos investidores e a saída de sócios de forma mais ágil. Outra questão importante é a necessidade de buscar maior segurança jurídica para investidores e sócios, situação essa que precisa ser melhorada em muito no nosso país. Por fim, há uma preocupação crescente com a sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas, o que pode levar a mudanças nas leis e regulamentações societárias para incentivar práticas mais éticas e sustentáveis.

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