Deise Moura dos Anjos, investigada por matar três familiares com um bolo envenenado com arsênio, escreveu um recado antes de ser encontrada morta na cela. O chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, revelou a informação em entrevista à RBS TV nesta quinta-feira (13).
“Ela deixou um escrito no local, algo como um desabafo. Ela se dizia inocente, afirmava que estava sofrendo e em depressão”, afirmou Sodré.
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A Justiça determinou a prisão temporária de Deise em 5 de janeiro. Inicialmente, ela ficou no Presídio Estadual Feminino de Torres por um mês. Depois, no dia 6 de fevereiro, foi transferida para Guaíba por questões de segurança. Na penitenciária, estava sozinha na cela e usava o uniforme de detenta.
Agora, a Polícia Civil e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) investigam as circunstâncias da morte. A principal suspeita é suicídio.
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Caso do bolo envenenado: presídio foi alertado sobre risco
A administração da penitenciária teria sido informada um dia antes da morte sobre o risco de Deise tirar a própria vida. Um advogado da família do marido da suspeita esteve no local e avisou que o homem formalizaria o divórcio. Após receber a notícia, Deise teria apresentado mudanças de comportamento.
A Polícia Penal informou que a detenta passou por três atendimentos psicológicos e dois atendimentos com a equipe de saúde. Segundo a corporação, a inspeção nas celas é permanente e ocorre diariamente.
A defesa de Deise anunciou que fará uma coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira para se manifestar sobre o caso.
O caso do envenenamento
Segundo a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas para um café da tarde dias antes do Natal. Seis passaram mal depois de comer o bolo. Zeli dos Anjos, sogra de Deise, preparou o doce em Arroio do Sal e levou para Torres. Ela também foi hospitalizada.
Três mulheres morreram poucas horas depois. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva sofreram parada cardiorrespiratória. Já Neuza Denize Silva dos Anjos faleceu por “choque pós-intoxicação alimentar”, segundo o hospital.
Zeli sobreviveu e recebeu alta em janeiro. O delegado Marcus Veloso afirmou que ela foi a única a comer duas fatias do bolo. Uma criança de 10 anos, que também ingeriu o alimento, sobreviveu e já deixou o hospital.
Polícia afirma que sogra era o alvo
O delegado Marcus Veloso declarou que Zeli era o principal alvo da suspeita.
“O alvo principal dela era a Zeli. Ela estava presente no dia 2 de setembro, quando prepararam café com leite em pó, e também no dia em que fizeram o bolo em Arroio do Sal. Ela consumiu e foi hospitalizada”, disse o delegado.
Investigação sobre a morte do sogro
Após a descoberta do envenenamento com arsênio, a polícia passou a investigar a morte do sogro de Deise, Paulo Luiz dos Anjos. Ele morreu em setembro, supostamente por intoxicação alimentar.
O corpo dele foi exumado e exames confirmaram que ele ingeriu arsênio antes de morrer. A vítima faleceu por infecção intestinal depois de consumir bananas e leite em pó levados pela nora.
Nota da Polícia Penal
A Polícia Penal informa que a apenada Deise Moura dos Anjos recebeu três atendimentos psicológicos na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, além de dois atendimentos com a equipe de saúde. Na unidade, três psicólogos estão lotados para fazer atendimento.
Informa ainda que a rotina de inspeção é permanente, com a presença de servidores da Polícia Penal próximos às celas. Assim como em outras unidades prisionais, são feitas conferências em diversos momentos durante o dia. Além disso, agentes penitenciários realizam revistas diárias nas celas.
Cabe destacar que, desde 2019 até o final deste Governo, será investido R$ 1,41 bilhão de reais na reestruturação do sistema prisional gaúcho, viabilizando assim a construção de novas unidades prisionais, aquisição de equipamentos e novas tecnologia. Além disso, foram nomeados, desde 2019, mais de 3900 servidores para a Polícia Penal.
Quem é quem no caso do bolo envenenado com arsênio
Deise Moura dos Anjos: suspeita central, Deise era acusada de envenenar o bolo que matou três pessoas e deixou outras duas hospitalizadas. Ela também era suspeita de envenenar seu pai e seu sogro com arsênio. A polícia encontrou evidências de suas pesquisas sobre arsênio em seu celular. Deise estava presa e enfrentava acusações de triplo homicídio qualificado e tripla tentativa de homicídio.
Zeli dos Anjos: sogra de Deise e responsável por preparar o bolo envenenado. Zeli sobreviveu ao envenenamento mesmo após ter sido a única da família que comeu dois pedaços da sobremesa. Ela chegou a ficar internada no hospital mas já recebeu alta. A polícia acredita que ela era o principal alvo de Deise.
Neuza Denize Silva dos Anjos: irmã de Zeli e uma das vítimas fatais. Ela tinha desentendimentos com Deise, relacionados à antipatia da suspeita com sua filha, Tatiana.
Tatiana Denize: prima de Deise, Tatiana foi uma das vítimas fatais. A investigação aponta que Deise nutria ressentimentos banais em relação a Tatiana, como a realização de seu casamento em uma igreja desejada por Deise.
Matheus: sobrinho-neto de Zeli, Matheus sobreviveu ao envenenamento e foi o primeiro a receber alta do hospital. A polícia acredita que ele não era um alvo direto de Deise.
Paulo Luiz dos Anjos: sogro de Deise, envenenado com arsênio possivelmente por meio de leite em pó em setembro de 2024. Seu corpo foi exumado, confirmando a presença do veneno.
José Lori da Silveira Moura: pai de Deise, supostamente envenenado com doses menores de arsênio ao longo do tempo. A polícia planeja exumar seu corpo para confirmação.
Diego Silva dos Anjos: marido de Deise, filho de Zeli e Paulo Luiz. Até o momento, a Polícia Civil descartou o envolvimento de Diego nos envenenamentos.