Aline Pereira Ghammachi, freira brasileira de 41 anos e natural de Macapá (AP), vive hoje o momento mais delicado de sua trajetória religiosa. Após ser acusada anonimamente de maus-tratos e desvio de recursos, ela foi afastada do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália — decisão que ocorreu justamente no dia 21 de abril de 2025, data da morte do papa Francisco.
Apesar das graves acusações, Ghammachi nega qualquer irregularidade e afirma que as contas do mosteiro foram auditadas e aprovadas pelas autoridades da própria Igreja. Ela já recorreu ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, a mais alta instância judicial do Vaticano.
De Macapá ao comando de um mosteiro italiano
Desde os 15 anos, Aline sabia que queria seguir a vida religiosa. Formada em administração de empresas, mudou-se para a Itália em 2005 com o objetivo de viver sua vocação. Em 2018, aos 34 anos, ela se tornou a madre-abadessa mais jovem da Itália — um marco histórico que chamou atenção dentro da Igreja Católica.
Sob sua liderança, o mosteiro ampliou seu impacto social: acolheu mulheres vítimas de violência, pessoas autistas e criou uma horta comunitária que envolvia a população local.
LEIA MAIS:

“Bonita demais para ser freira”
Além dos desafios institucionais, Aline enfrentou outro tipo de obstáculo — mais sutil, porém persistente: o preconceito em relação à sua aparência física.
Segundo ela, ao longo de sua jornada, ouviu comentários de membros da Igreja como: “Você é bonita demais para ser freira”. A religiosa relata que esses comentários eram feitos, muitas vezes, em tom de brincadeira.
“A beleza não deveria ser um fator determinante para seguir a vocação religiosa”, afirma Aline.
“Muitas vezes, isso foi usado como chacota, ou até mesmo para descredibilizar minha autoridade.”
Ela também revelou ter passado por episódios de constrangimento com religiosos que tentavam “disfarçar o assédio como recreação”.
Controvérsias e reação à sua saída
A situação no mosteiro se agravou após sua saída. Duas postulantes deixaram o convento e cinco freiras registraram queixa contra a nova madre comissária, uma religiosa de 81 anos, acusada de tentar impor uma “lavagem cerebral” e incentivar a aceitação cega do sofrimento.
Aline afirma ainda não ter tido acesso ao conteúdo completo da denúncia e questiona a condução do processo, especialmente por ter ocorrido durante a Páscoa e logo após a morte do papa Francisco.
Um símbolo de resistência
A história de Aline Ghammachi representa mais do que um caso isolado. É um espelho de como o machismo estrutural e o preconceito estético ainda operam dentro de espaços religiosos. Mesmo diante da pressão e das acusações, ela mantém-se firme: