Pelos últimos três anos no RS, Porto Alegre e cidades da Região Metropolitana acabam sofrendo com a chuva que causa cheias, inundações e enchentes. Falando sobre o fenômeno em si, embora pareça contraditória, tem tudo a ver com o comportamento dos principais rios do Rio Grande do Sul (e como eles empurram suas águas até o Guaíba.)
A seguir, explicamos como esse fenômeno funciona e por que a enchente na capital pode acontecer mesmo dias depois da chuva parar no interior do estado.
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Como a chuva no interior do RS alaga Canoas e Porto Alegre? tudo começa bem longe
Quando chove forte nas regiões Central, Norte e Oeste do estado, rios como o Ibicuí, Ibirapuitã, Taquari-Antas e Caí recebem volumes gigantescos de água. Esse excesso escoa naturalmente até o Rio Jacuí, o maior responsável por levar essa água acumulada até Porto Alegre, desaguando no Guaíba.

Com isso, mesmo que o tempo esteja firme na capital, os efeitos das chuvas no interior começam a se manifestar com subida gradual do Guaíba — e o risco de enchente aumenta.
O efeito dominó dos rios
Além do Jacuí, há outros rios que entram nesse circuito e afetam diretamente a Região Metropolitana:
- O Rio Taquari-Antas, que corta o Vale do Taquari, alimenta o Jacuí em grande escala.
- O Rio Caí, com origem na Serra, deságua diretamente no sistema do Delta do Jacuí, contribuindo para o nível do Guaíba.
- O Rio dos Sinos, que passa por São Leopoldo, Canoas e Esteio, desagua próximo ao Guaíba e sofre represamento quando o nível está alto.
- Já o Rio Gravataí, que cruza Gravataí e Cachoeirinha, também encontra dificuldades para escoar quando o Guaíba está cheio.
Esse conjunto forma uma espécie de funil natural, onde toda a água de boa parte do estado converge para a região de Porto Alegre.
E como isso causa a enchente?
Quando o Guaíba sobe demais, ele impede que os rios menores — como o Sinos e o Gravataí — escoem normalmente. A água fica represada, volta pelo leito e acaba invadindo áreas urbanas. É isso que explica por que bairros como Mathias Velho (em Canoas), Humaitá e Sarandi (em Porto Alegre) alagam com frequência mesmo que não chova ali.
Além disso, o sistema de diques e casas de bombas, embora essencial, tem limitações. Se o Guaíba ultrapassa a cota de transbordamento, ou se o volume dos rios internos é muito alto, a drenagem urbana entra em colapso.
Alerta com dias de antecedência
Esse fenômeno também explica por que a Defesa Civil costuma emitir alertas de chuva com horas e até dias de antecedência. O monitoramento dos níveis dos rios no interior do estado é essencial para prever o que acontecerá em Porto Alegre e na Região Metropolitana.
Em eventos extremos, como o que ocorreu em maio de 2024, o Guaíba chegou a 5,33 metros, inundando bairros inteiros mesmo sem chuvas intensas na capital naquele momento.