A tragédia climática de maio de 2024, que deixou 183 mortos e 2,4 milhões de pessoas afetadas no Rio Grande do Sul, pode não ter sido um caso isolado. Segundo um estudo coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), os eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes e intensos nos próximos anos.
LEIA MAIS:
- Entenda a diferença entre enchente, alagamento e inundação
- Qual seria o papel do Brasil em uma terceira Guerra Mundial?
- Estudo diz que Porto Alegre poderá ficar submersa por causa de mudanças climáticas
O levantamento, intitulado “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, foi publicado após as fortes chuvas de 2024 e envolveu 15 órgãos e universidades. A análise destaca que as mudanças climáticas já dobraram a chance de desastres como aconteceu no ano passado. Além disso, os volumes de precipitação podem ficar até 9% mais intensos.
“Esses eventos vão se repetir. E vão se tornar cada vez mais fortes”, afirmou Ana Paula Fioreze, superintendente da ANA, em entrevista à GZH.
Eventos climáticos extremos deverão ser mais frequentes no RS: Sul do Brasil lidera o risco
Segundo o estudo, o Sul do Brasil concentra o maior risco de novas cheias severas no país. As projeções indicam que as vazões máximas dos rios podem subir até 20%, o que significa que tragédias antes previstas para ocorrer a cada 50 anos, podem se repetir a cada 10.
Na prática, isso representa um aumento de até três metros no nível dos rios da Serra, e de até um metro no Guaíba, que atingiu 5,37 metros em 2024, superando o recorde histórico de 1941.
Um ponto que reforça o estudo são as enchentes, inundações, cheias e alagamentos que ocorreram novamente agora em junho de 2025, onde o RS foi novamente atingido por uma chuva excessiva. Os principais rios do Estado receberam um grande volume de água, causando transtornos em diversas cidades e quatro mortes.
Falta de preparo agravou impactos
O relatório também destaca graves falhas na resposta às enchentes. Cerca de 40% dos moradores atingidos em Porto Alegre não sabiam que moravam em áreas de risco, e não existiam planos de evacuação.
Além disso, estações de monitoramento estavam fora de operação, o que comprometeu os alertas e a resposta emergencial.
“A população precisa saber onde mora, quais os riscos e o que fazer quando o alerta tocar”, afirmou o hidrólogo Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH).
Prevenção e obras: a resposta necessária
O estudo defende ações imediatas para enfrentar os eventos climáticos extremos. Entre as medidas sugeridas estão:
Prevenção (ações não estruturais):
- Mapeamento de áreas de risco
- Inclusão de dados climáticos no planejamento urbano
- Fortalecimento do monitoramento meteorológico
- Criação de planos de evacuação e comunicação
Obras (ações estruturais com R$ 6,5 bilhões em recursos):
- Construção de um dique em Eldorado do Sul
- Reforço do Arroio Feijó
- Contenção nos rios Sinos e Gravataí
“Essas obras são importantes, mas precisam estar dentro de um sistema. Sem manutenção e integração com prevenção, não funcionam”, reforçou Fan.
Impacto da tragédia de 2024
A tragédia de 2024 deixou um saldo devastador:
- 183 mortes
- 50 mil desabrigados
- 15 mil casos de leptospirose
- 2,4 milhões de pessoas afetadas em 478 cidades
- Prejuízos bilionários
A Serra, por exemplo, registrou mais de 15 mil deslizamentos. Em alguns pontos do norte do Estado, a chuva superou os 700 mm em poucos dias.