9.8 C
Canoas
23 de junho de 2025

Eventos climáticos extremos deverão ser mais frequentes no RS, diz estudo

Estudo alerta que os eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul serão mais frequentes e devastadores. Veja o que pode mudar

A tragédia climática de maio de 2024, que deixou 183 mortos e 2,4 milhões de pessoas afetadas no Rio Grande do Sul, pode não ter sido um caso isolado. Segundo um estudo coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), os eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes e intensos nos próximos anos.

LEIA MAIS:

O levantamento, intitulado “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, foi publicado após as fortes chuvas de 2024 e envolveu 15 órgãos e universidades. A análise destaca que as mudanças climáticas já dobraram a chance de desastres como aconteceu no ano passado. Além disso, os volumes de precipitação podem ficar até 9% mais intensos.

“Esses eventos vão se repetir. E vão se tornar cada vez mais fortes”, afirmou Ana Paula Fioreze, superintendente da ANA, em entrevista à GZH.

Eventos climáticos extremos deverão ser mais frequentes no RS: Sul do Brasil lidera o risco

Segundo o estudo, o Sul do Brasil concentra o maior risco de novas cheias severas no país. As projeções indicam que as vazões máximas dos rios podem subir até 20%, o que significa que tragédias antes previstas para ocorrer a cada 50 anos, podem se repetir a cada 10.

Na prática, isso representa um aumento de até três metros no nível dos rios da Serra, e de até um metro no Guaíba, que atingiu 5,37 metros em 2024, superando o recorde histórico de 1941.

Um ponto que reforça o estudo são as enchentes, inundações, cheias e alagamentos que ocorreram novamente agora em junho de 2025, onde o RS foi novamente atingido por uma chuva excessiva. Os principais rios do Estado receberam um grande volume de água, causando transtornos em diversas cidades e quatro mortes.

Falta de preparo agravou impactos

O relatório também destaca graves falhas na resposta às enchentes. Cerca de 40% dos moradores atingidos em Porto Alegre não sabiam que moravam em áreas de risco, e não existiam planos de evacuação.
Além disso, estações de monitoramento estavam fora de operação, o que comprometeu os alertas e a resposta emergencial.

“A população precisa saber onde mora, quais os riscos e o que fazer quando o alerta tocar”, afirmou o hidrólogo Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH).

Prevenção e obras: a resposta necessária

O estudo defende ações imediatas para enfrentar os eventos climáticos extremos. Entre as medidas sugeridas estão:

Prevenção (ações não estruturais):

  • Mapeamento de áreas de risco
  • Inclusão de dados climáticos no planejamento urbano
  • Fortalecimento do monitoramento meteorológico
  • Criação de planos de evacuação e comunicação

Obras (ações estruturais com R$ 6,5 bilhões em recursos):

  • Construção de um dique em Eldorado do Sul
  • Reforço do Arroio Feijó
  • Contenção nos rios Sinos e Gravataí

“Essas obras são importantes, mas precisam estar dentro de um sistema. Sem manutenção e integração com prevenção, não funcionam”, reforçou Fan.

Impacto da tragédia de 2024

A tragédia de 2024 deixou um saldo devastador:

  • 183 mortes
  • 50 mil desabrigados
  • 15 mil casos de leptospirose
  • 2,4 milhões de pessoas afetadas em 478 cidades
  • Prejuízos bilionários

A Serra, por exemplo, registrou mais de 15 mil deslizamentos. Em alguns pontos do norte do Estado, a chuva superou os 700 mm em poucos dias.

MATÉRIAS RELACIONADAS

MAIS LIDAS