Antes da revolução islâmica, o Irã vivia sob um regime monárquico liderado pelo xá Mohammad Reza Pahlavi. O país, então aliado dos Estados Unidos e do Reino Unido, passou por intensas transformações políticas e sociais, que prepararam o terreno para a ascensão do regime teocrático em 1979.

Conhecer essa fase da história iraniana é essencial para compreender os conflitos e tensões que ainda persistem.
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O Irã sob os xás: poder monárquico e influência ocidental

Durante décadas, o Irã foi governado por monarcas conhecidos como xás. O último deles, Mohammad Reza Pahlavi, assumiu o poder em 1941 e governou até ser deposto pela revolução islâmica. Seu governo marcou um período de forte aproximação com o Ocidente, especialmente com os Estados Unidos.

Em 1953, no contexto da Guerra Fria, os EUA e o Reino Unido organizaram um golpe de Estado que derrubou o então primeiro-ministro Mohammad Mossadegh. Ele havia proposto a nacionalização da indústria petrolífera iraniana, o que ameaçava os interesses ocidentais. A operação, orquestrada pela CIA e pelo serviço secreto britânico, restaurou o poder absoluto do xá e aumentou a dependência do Irã em relação ao Ocidente.
Contudo, essa interferência estrangeira gerou profundo ressentimento entre os iranianos, alimentando o sentimento antiamericano que cresceria nas décadas seguintes. Além disso, a chamada Revolução Branca, lançada por Pahlavi em 1963, implementou reformas econômicas e sociais que dividiram o país. Enquanto alguns viam a modernização como necessária, outros acusavam o xá de destruir tradições e o Islã.
O caminho até a Revolução Islâmica
Nos anos 1970, o autoritarismo do regime e o descontentamento popular intensificaram os protestos em todo o Irã. A oposição era ampla e unia desde grupos seculares até religiosos. Em 1978, a revolta ganhou força com a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini, que, mesmo exilado, usava fitas cassete para espalhar seus discursos contra o xá.

A partir de janeiro de 1978, os protestos tomaram as ruas de diversas cidades. Greves estratégicas, como as dos petroleiros e dos comerciantes de bazares, cortaram as receitas do regime e financiaram os clérigos rebeldes. Apesar da repressão, o apoio popular à oposição só crescia.

Em janeiro de 1979, Khomeini anunciou a formação de um Conselho Revolucionário. Poucos dias depois, em 16 de janeiro, o xá e sua esposa deixaram o Irã, marcando o colapso do regime. No dia 1º de fevereiro, Khomeini retornou triunfalmente ao país após 15 anos de exílio. Em 11 de fevereiro, o Exército declarou neutralidade e o então primeiro-ministro Shahpur Bakhtiar renunciou.

Em março, um referendo popular consolidou a criação da República Islâmica do Irã, com aprovação de 99% dos eleitores. Ainda em 1979, os iranianos elegeram a Assembleia de Peritos para elaborar a nova Constituição. Em janeiro de 1980, Abolhassan Bani-Sadr tornou-se o primeiro presidente da república recém-criada. O aiatolá Khomeini, no entanto, assumiu o controle como líder supremo e comandou o país até sua morte, em 1989.
O Irã após a Revolução Islâmica

Com a vitória da revolução islâmica, o Irã deixou de ser uma monarquia secular e passou a ser uma teocracia islâmica, comandada por clérigos xiitas. O sucessor de Khomeini, o aiatolá Ali Khamenei, ocupa até hoje o posto de líder supremo. Ele detém o controle final sobre todas as decisões políticas, religiosas e militares do país.
Desde então, o Irã passou a adotar uma postura cada vez mais crítica ao Ocidente, principalmente em relação a Israel e aos Estados Unidos. Em diversas ocasiões, Khamenei reforçou que não aceitará pressões externas e que o país resistirá até o fim.
O futuro do Irã sob tensão
Em meio à escalada de tensões com Israel, autoridades internacionais têm cogitado mudanças drásticas no cenário regional. Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o local onde Khamenei estaria escondido é conhecido por seus aliados. Apesar disso, Trump declarou que não pretende eliminá-lo — “pelo menos, não por enquanto”.
Ainda assim, os debates sobre o futuro do regime teocrático do Irã continuam intensos. Muitos se perguntam até quando o modelo instaurado pela revolução islâmica resistirá às pressões internas e externas.