A tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo após o anúncio de sanções ao ministro do STF, Alexandre de Moraes. Entre os rumores divulgados por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, um chamou atenção: a possibilidade de os EUA bloquearem o GPS no Brasil.
Mas será que é mesmo possível os EUA bloquearem o GPS em um país específico? O que aconteceria se isso ocorresse?
O que é o GPS e por que ele é importante?
O GPS (Global Positioning System) é um sistema de geolocalização por satélite criado pelo Departamento de Defesa dos EUA. Ele é amplamente usado em:
- Celulares
- Carros
- Aeronaves
- Embarcações
- Logística, agricultura e telecomunicações
Hoje, ao menos 31 satélites operam constantemente para garantir que qualquer ponto do planeta esteja coberto com precisão.
O sistema oferece dois tipos de sinal:
- SPS (Standard Positioning Service): de uso civil, aberto ao público
- PPS (Precise Positioning Service): restrito a forças armadas e aliados dos EUA
Os EUA podem bloquear o GPS no Brasil?
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, bloquear o GPS apenas no Brasil seria extremamente difícil e improvável. Isso porque os sinais dos satélites são unidirecionais e cobrem grandes áreas da superfície terrestre.
“É como a TV aberta. O sinal vai para todo mundo, e quem tiver receptor pode usar”, explica o engenheiro Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.
Bloquear seletivamente um território exigiria mudanças estruturais no sistema GPS ou ações localizadas de interferência eletrônica.
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Técnicas de bloqueio existem, mas são limitadas
Existem formas de atrapalhar o sinal do GPS, mas elas precisam ser feitas localmente:
- Jamming: interfere com sinal mais forte na mesma frequência, bloqueando o GPS na área de alcance
- Spoofing: engana o receptor com informações falsas de localização
Essas técnicas são usadas em zonas de guerra, como na Ucrânia, onde a Rússia bloqueou sinais de GPS para atrapalhar drones e mísseis. No entanto, seriam vistas como atos de guerra ou sabotagem, caso aplicadas em países como o Brasil.
Especialistas descartam possibilidade real
A engenheira Luísa Santos, especialista em sistemas espaciais, afirma que embora os EUA tenham meios técnicos, há barreiras diplomáticas e estratégicas que tornam a medida improvável.
“O sinal civil pode ser degradado ou negado, mas isso afetaria aliados, empresas e interesses americanos. Não faz sentido aplicar esse tipo de ação contra o Brasil”, diz.
E se o GPS fosse bloqueado?
A perda do GPS impactaria:
- Aviação e transporte
- Logística e agricultura de precisão
- Telecomunicações e sistemas financeiros (sincronização de tempo)
Contudo, outros sistemas globais também estão em operação, como:
- GLONASS (Rússia)
- BeiDou (China)
- Galileo (União Europeia)
- NavIC (Índia)
- QZSS (Japão)
Além disso, muitos dispositivos modernos já são multissistema, ou seja, funcionam com diversas constelações de satélites.
“Não é tão simples”
A possibilidade de os EUA bloquearem o GPS no Brasil é tecnicamente complexa e politicamente improvável. Apesar de o GPS ser controlado pelos EUA, o impacto de uma medida como essa seria global e afetaria até interesses norte-americanos.
A frase de impacto de um dos especialistas resume bem:
“O GPS não é mais o único sistema disponível. E desligar não é tão simples quanto apertar um botão.”
