14.9 C
Canoas
04 de setembro de 2025

Operação da Polícia Civil em Canoas investiga mortes de animais em secretaria

Polícia Civil deflagra operação em Canoas para apurar denúncias de eutanásias irregulares de cães na Secretaria de Bem-Estar Animal

A operação Polícia Civil animais Canoas ganhou destaque nesta quinta-feira (4), quando agentes da 3ª Delegacia de Polícia do município, em conjunto com o Instituto Geral de Perícias (IGP), deflagraram a Operação Carrasco. A ação investiga denúncias de execução irregular de cães dentro da Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Segundo a Polícia Civil, o alvo principal é a ex-secretária da pasta, exonerada pela prefeitura no dia 18 de agosto. Ela é suspeita de ter autorizado ou permitido uma prática considerada de “matança desmedida”, na qual cães teriam sido sacrificados com injeções letais, supostamente para reduzir os custos da secretaria.

Durante a operação, seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados à ex-gestora e em locais vinculados à administração do órgão. As diligências tiveram como objetivo recolher documentos, computadores e outros elementos que possam comprovar as denúncias de eutanásias fora dos padrões legais.

As investigações começaram após relatos encaminhados por cidadãos e por integrantes da Rede de Proteção Ambiental e Animal, que há meses denunciavam maus-tratos e irregularidades na condução da política de bem-estar animal em Canoas.

De acordo com a delegada Luciane Bertolletti, responsável pelo caso, a apuração busca esclarecer se houve de fato autorização administrativa para os abates em larga escala e se a conduta configuraria crime de maus-tratos contra animais.

Operação da Polícia Civil em Canoas investiga mortes de animais em secretaria: Suspeita de abates em série

De acordo com a delegada Bertolletti, as primeiras informações chegaram à polícia a partir de relatos de que o número de eutanásias no canil da secretaria superava em muito o padrão considerado aceitável.

“Segundo os denunciantes, ocorria ali uma matança desmedida de cães, com a anuência da então secretária”, afirmou a delegada.

Pessoas denunciaram que toda semana uma caminhonete retirava os corpos dos cães mortos, levando-os para descarte sem registro ou documentação oficial. O destino dos animais recolhidos pela secretaria, em muitos casos, não foi registrado em nenhum sistema de controle.

O “dossiê dos cães desaparecidos”

As suspeitas ganharam força após a entrega à polícia de um dossiê. O material inclui fotos e descrições de cães que desapareceram sem explicação. Muitos deles haviam sido recolhidos das ruas ou entregues ao órgão por famílias em situação de vulnerabilidade, com a expectativa de adoção.

LEIA MAIS:

Na operação desta manhã, policiais e peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) recolheram documentos, computadores, registros de entrada e saída de animais, além de informações sobre microchips implantados. Cães e gatos ainda abrigados na sede da secretaria foram catalogados individualmente, numa tentativa de mapear quantos e quais animais efetivamente passaram pelo órgão nos últimos meses e garantir a sua integridade.

Contradição com imagem pública

A ex-secretária investigada construiu, ao longo dos últimos anos, a imagem de protetora de animais. Em suas redes sociais, aparecia adotando cães e gatos, especialmente os doentes, com deficiência ou necessidades especiais. Durante a enchente que atingiu o Estado no ano passado, chegou a ganhar notoriedade ao acolher animais resgatados da tragédia.

A denúncia, no entanto, coloca em xeque essa trajetória. Segundo o presidente da Repraas, Vladimir da Silva, os relatos apontam para uma prática cruel e sistemática:

“Recebemos denúncias de servidores que não conseguiam mais conviver com a situação. Animais recolhidos para tratamento ou adoção eram mortos em série. Não havia justificativa clínica, apenas a intenção de reduzir os custos e a lotação do abrigo.”

Próximos passos da investigação

A Polícia Civil pretende cruzar os documentos apreendidos com os relatos de servidores e os registros de microchipagem, buscando comprovar o número real de eutanásias realizadas e se houve fraude em laudos veterinários.

O diretor da delegacia regional de Canoas, Cristiano Reschke, destaca a gravidade do caso e os próximos passos da polícia civil:

“Estamos diante de denúncias graves que, se comprovadas, representam uma afronta à ética e aos valores de proteção animal. Caso fique evidenciado que houve a prática sistemática de eutanásias irregulares, buscaremos a identificação dos responsáveis por tais atos e a Polícia Civil garantirá que todos sejam exemplarmente responsabilizados na forma da lei. Não toleraremos que crimes dessa natureza fiquem impunes, e trabalharemos com rigor para trazer justiça aos animais e às pessoas que depositaram confiança na atuação desse órgão.”

E reforça, “desde a enchente que assolou o Estado e em especial Canoas e região, a atenção com os animais abandonados e a causa em si ganharam destaque, atraindo muitos bem intencionados e, por via de consequência, muitos oportunistas que viram uma forma de ganhar dinheiro e reputação social com a dor, com a sensibilidade e com o altruísmo das pessoas de bem, o que torna ainda mais repulsivo esse tipo de conduta criminosa.”

O que diz a Prefeitura de Canoas?

Nota na íntegra

“A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.”

A reportagem tenta contato com a defesa da acusada, porém ainda não obteve respostas. O espaço segue aberto para manifestações.

Guilherme Galhardo
Guilherme Galhardo
Estudante de jornalismo, apaixonado pela cultura POP, luta-livre, games, séries e filmes. Entusiasta de meteorologia e punk rocker nas horas vagas.
MATÉRIAS RELACIONADAS

MAIS LIDAS