A operação Polícia Civil animais Canoas ganhou destaque nesta quinta-feira (4), quando agentes da 3ª Delegacia de Polícia do município, em conjunto com o Instituto Geral de Perícias (IGP), deflagraram a Operação Carrasco. A ação investiga denúncias de execução irregular de cães dentro da Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Segundo a Polícia Civil, o alvo principal é a ex-secretária da pasta, exonerada pela prefeitura no dia 18 de agosto. Ela é suspeita de ter autorizado ou permitido uma prática considerada de “matança desmedida”, na qual cães teriam sido sacrificados com injeções letais, supostamente para reduzir os custos da secretaria.
Durante a operação, seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados à ex-gestora e em locais vinculados à administração do órgão. As diligências tiveram como objetivo recolher documentos, computadores e outros elementos que possam comprovar as denúncias de eutanásias fora dos padrões legais.
As investigações começaram após relatos encaminhados por cidadãos e por integrantes da Rede de Proteção Ambiental e Animal, que há meses denunciavam maus-tratos e irregularidades na condução da política de bem-estar animal em Canoas.
De acordo com a delegada Luciane Bertolletti, responsável pelo caso, a apuração busca esclarecer se houve de fato autorização administrativa para os abates em larga escala e se a conduta configuraria crime de maus-tratos contra animais.
Operação da Polícia Civil em Canoas investiga mortes de animais em secretaria: Suspeita de abates em série
De acordo com a delegada Bertolletti, as primeiras informações chegaram à polícia a partir de relatos de que o número de eutanásias no canil da secretaria superava em muito o padrão considerado aceitável.
“Segundo os denunciantes, ocorria ali uma matança desmedida de cães, com a anuência da então secretária”, afirmou a delegada.
Pessoas denunciaram que toda semana uma caminhonete retirava os corpos dos cães mortos, levando-os para descarte sem registro ou documentação oficial. O destino dos animais recolhidos pela secretaria, em muitos casos, não foi registrado em nenhum sistema de controle.
O “dossiê dos cães desaparecidos”
As suspeitas ganharam força após a entrega à polícia de um dossiê. O material inclui fotos e descrições de cães que desapareceram sem explicação. Muitos deles haviam sido recolhidos das ruas ou entregues ao órgão por famílias em situação de vulnerabilidade, com a expectativa de adoção.
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Na operação desta manhã, policiais e peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) recolheram documentos, computadores, registros de entrada e saída de animais, além de informações sobre microchips implantados. Cães e gatos ainda abrigados na sede da secretaria foram catalogados individualmente, numa tentativa de mapear quantos e quais animais efetivamente passaram pelo órgão nos últimos meses e garantir a sua integridade.
Contradição com imagem pública
A ex-secretária investigada construiu, ao longo dos últimos anos, a imagem de protetora de animais. Em suas redes sociais, aparecia adotando cães e gatos, especialmente os doentes, com deficiência ou necessidades especiais. Durante a enchente que atingiu o Estado no ano passado, chegou a ganhar notoriedade ao acolher animais resgatados da tragédia.
A denúncia, no entanto, coloca em xeque essa trajetória. Segundo o presidente da Repraas, Vladimir da Silva, os relatos apontam para uma prática cruel e sistemática:
“Recebemos denúncias de servidores que não conseguiam mais conviver com a situação. Animais recolhidos para tratamento ou adoção eram mortos em série. Não havia justificativa clínica, apenas a intenção de reduzir os custos e a lotação do abrigo.”
Próximos passos da investigação
A Polícia Civil pretende cruzar os documentos apreendidos com os relatos de servidores e os registros de microchipagem, buscando comprovar o número real de eutanásias realizadas e se houve fraude em laudos veterinários.
O diretor da delegacia regional de Canoas, Cristiano Reschke, destaca a gravidade do caso e os próximos passos da polícia civil:
“Estamos diante de denúncias graves que, se comprovadas, representam uma afronta à ética e aos valores de proteção animal. Caso fique evidenciado que houve a prática sistemática de eutanásias irregulares, buscaremos a identificação dos responsáveis por tais atos e a Polícia Civil garantirá que todos sejam exemplarmente responsabilizados na forma da lei. Não toleraremos que crimes dessa natureza fiquem impunes, e trabalharemos com rigor para trazer justiça aos animais e às pessoas que depositaram confiança na atuação desse órgão.”
E reforça, “desde a enchente que assolou o Estado e em especial Canoas e região, a atenção com os animais abandonados e a causa em si ganharam destaque, atraindo muitos bem intencionados e, por via de consequência, muitos oportunistas que viram uma forma de ganhar dinheiro e reputação social com a dor, com a sensibilidade e com o altruísmo das pessoas de bem, o que torna ainda mais repulsivo esse tipo de conduta criminosa.”
O que diz a Prefeitura de Canoas?
Nota na íntegra
“A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.”
A reportagem tenta contato com a defesa da acusada, porém ainda não obteve respostas. O espaço segue aberto para manifestações.