Uma vacina contra o câncer parece saída de um sonho — e a Rússia anunciou recentemente que esse sonho estaria perto de se tornar realidade. O governo do país revelou o desenvolvimento de um imunizante terapêutico contra o câncer baseado na mesma tecnologia das vacinas da Pfizer e Moderna contra a Covid-19: o RNA mensageiro (mRNA).
Segundo autoridades russas, a vacina será personalizada para cada paciente, a partir de uma análise genética do tumor. A promessa é que o sistema imunológico aprenda a reconhecer e atacar células cancerígenas, reduzindo o avanço da doença e ajudando no tratamento.
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Sobre a vacina da Rússia
No entanto, a empolgação com o anúncio não se estendeu ao meio científico internacional. A principal crítica é a falta de transparência sobre os dados dos estudos clínicos. O governo russo afirma que os testes duraram quase três anos, mas não divulgou resultados, nem especificou quais tipos de câncer a vacina seria capaz de tratar. Tampouco se sabe se já houve testes em humanos.
Especialistas alertam para cautela
De acordo com a cientista Mariana Brait, gerente sênior de pesquisas do A.C.Camargo Cancer Center, a divulgação de uma vacina sem dados públicos e revisados por pares representa um risco de “desserviço à sociedade”, gerando falsas esperanças em pacientes.
Além disso, o fato de todas as informações partirem apenas de fontes oficiais do governo russo — que tem um histórico de pouca abertura científica — levanta ainda mais dúvidas sobre a real eficácia e segurança do imunizante.
Tecnologia promissora, mas ainda em estágio inicial
Apesar das críticas, a tecnologia de vacinas personalizadas com mRNA para tratar câncer é real e está sendo estudada em diversos países, inclusive em parcerias entre a Moderna e a farmacêutica MSD. O uso do RNA mensageiro é promissor, mas ainda enfrenta muitos desafios científicos antes de se tornar uma realidade amplamente disponível.
A vacina russa contra o câncer pode ser um passo importante no avanço da medicina personalizada, mas enquanto dados robustos, revisados e transparentes não forem apresentados, a cautela continua sendo a postura mais responsável.