Imagine fazer uma trilha pelas cachoeiras paradisíacas da Chapada dos Veadeiros (GO) e se deparar com uma aranha cujo veneno pode causar uma ereção de até 4 horas. Parece roteiro de filme? Não é. Trata-se da Phoneutria eickstedtae, uma subespécie da famosa aranha armadeira, que habita áreas rochosas e úmidas da região — e que virou objeto de estudo da medicina moderna.
Apesar do susto que sua presença pode causar entre turistas, a armadeira raramente ataca. Mas quando morde, pode provocar priapismo, uma condição médica caracterizada por ereção involuntária, dolorosa e prolongada — mesmo sem estímulo sexual.
O responsável por esse efeito inusitado é o componente Tx2-6, uma toxina neurotóxica presente no veneno da aranha. Ela estimula a liberação intensa de óxido nítrico, substância que aumenta o fluxo de sangue no pênis, causando a ereção prolongada.
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De perigo a potencial tratamento
Embora raro, o fenômeno ocorre em cerca de 4% dos casos graves de envenenamento e já despertou o interesse de pesquisadores que estudam compostos da toxina como alternativa no tratamento da disfunção erétil. A proposta é criar medicamentos que ofereçam os benefícios da substância — como vasodilatação potente — sem os efeitos colaterais perigosos.
Além da possível aplicação na saúde sexual masculina, os cientistas também investigam o uso da toxina no combate à dor crônica, infecções e doenças neurológicas.
Picada de aranha pode causar ereção: riscos existem, mas acidentes são raros
Segundo o guia turístico Mauro de Araújo, que há anos acompanha visitantes na Chapada, a aranha é vista com frequência em trilhas e margens de cachoeiras. “Ela tem cor semelhante às pedras e costuma fugir quando percebe presença humana. Nunca presenciei acidentes em todos esses anos”, garante.
Mesmo assim, especialistas recomendam atenção redobrada em áreas naturais e o uso de calçados fechados durante trilhas. Crianças, idosos e pessoas com doenças cardíacas devem redobrar os cuidados, pois reações ao veneno podem ser mais graves nesses grupos.
A bióloga Nancy Lo Man Hung, da USP, lembra que o comportamento da Phoneutria é mais defensivo do que agressivo. “Ela ergue as patas dianteiras e salta para se defender. Mas, no fim, é um predador fundamental para o equilíbrio ecológico”, afirma.