Sonolência, fadiga, dores de cabeça frequentes e vômitos. Esses foram alguns dos sintomas que Carlos Eduardo Garcia, de 10 anos, começou a apresentar em setembro do ano passado. Inicialmente, os sinais foram confundidos com enxaqueca e até anemia, mas exames realizados meses depois revelaram um diagnóstico grave: ependimoma grau 3, um tumor cerebral agressivo.
Quando ia à escola, Carlos — conhecido como Cadu — dormia durante as aulas e se queixava de dores constantes. Ao retornar para casa, o cenário se repetia: cansaço extremo e sonolência incontrolável.
Preocupada com a saúde do filho, Ana Paula Garcia, mãe do menino e professora de educação infantil, levou Cadu diversas vezes ao hospital. Mas, segundo ela, o diagnóstico era sempre o mesmo.
“Os médicos avaliavam e diziam que era enxaqueca. Nunca me pediram nenhum exame e sempre me encaminhavam para um oftalmologista”, relata Ana Paula.
Crise mais grave expôs a gravidade do caso
Os sintomas persistiram até fevereiro de 2025, sem respostas concretas. Em março, Cadu sofreu a crise mais grave: paralisia no braço e em parte do rosto, além de perda momentânea de memória — chegando a esquecer o nome da própria mãe.
Mesmo assim, no hospital, médicos ainda sugeriram que se tratava de enxaqueca. Determinada a obter um diagnóstico definitivo, Ana Paula insistiu pela realização de uma tomografia computadorizada. O exame revelou o real problema: ependimoma grau 3, um tipo de tumor cerebral maligno que pode surgir no cérebro ou na medula espinhal, a partir de células chamadas ependimárias.
O que é ependimoma grau 3?
O ependimoma é um câncer do sistema nervoso central, com diferentes subtipos. Pode apresentar crescimento lento ou acelerado. No caso de Cadu, o tumor era de grau 3 — ou seja, altamente agressivo e com alta taxa de recorrência após o tratamento, conforme explica o oncologista pediátrico Lauro Gregianin, do Instituto do Câncer Infantil (ICI), em Porto Alegre.
“O ideal é remover todo o tumor, o que reduz o risco de sequelas. Mas isso depende da localização e do tamanho”, explica o especialista.
Segundo dados da literatura médica, 10 anos após o diagnóstico, cerca de 30% das crianças que retiraram parcialmente o tumor continuam vivas. Já entre aquelas que conseguiram remover completamente, o índice sobe para 60%.
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Tratamento e recuperação
Logo após o diagnóstico, Carlos passou por uma cirurgia para retirada parcial do tumor, que estava próximo a um nervo central. Teve alta após uma semana, mas precisou ser internado novamente após estourar um ponto interno durante uma brincadeira. O rompimento causou o vazamento de líquido na cabeça.
Durante a nova internação — que durou cerca de um mês — foram realizadas punções lombares a cada três dias, com o objetivo de drenar o líquido acumulado na testa. Nesse período, Cadu ainda enfrentou crises alérgicas e problemas dermatológicos relacionados ao estresse do tratamento.
Em 9 de junho, ele recebeu alta definitiva e iniciou sessões diárias de radioterapia, que foram finalizadas no início de agosto. Como sequela, o menino perdeu parcialmente a visão do olho esquerdo.
Mãe reforça importância de buscar diagnóstico completo
Atualmente, Cadu está em casa, acompanhado de perto pela mãe, e passará por uma nova ressonância magnética em outubro para avaliação do quadro.
“Hoje eu vejo a importância de investigar a fundo. Uma questão mínima pode acabar sendo um câncer”, afirma Ana Paula.
Ela alerta outros pais sobre a importância de não ignorar sinais persistentes e insistir por exames mais profundos, mesmo diante de diagnósticos aparentemente simples.