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Canoas
20 de outubro de 2025

Conheça o trabalho dos controladores de voo da FAB que monitoram o céu de Canoas

Da ajuda humanitária ao transporte ágil de órgãos para transplante, a rotina dos controladores de voo de Canoas exige precisão e concentração

No alto de uma torre de controle na Base Aérea de Canoas (BACO), um grupo de militares garante, todos os dias, a segurança e a fluidez do tráfego aéreo militar e civil da região. São os controladores de voo Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Canoas DTCEA-CO. Neste 20 de outubro, dia do Controlador de voo, a equipe da Agência GBC visitou a Base de Canoas para conhecer os bastidores desse trabalho técnico e meticuloso e entender o que fazem esses profissionais.

Uma profissão entre céu e terra

Controladores de voo são os olhos e ouvidos das aeronaves quando elas deixam de tocar o solo. Eles monitoram, autorizam, coordenam, corrigem e, em emergências, decidem. Em Canoas, esse controle vai muito além da pista da base aérea: abrange todo o setor de aproximação de Porto Alegre, incluindo o Aeroporto Salgado Filho, aeródromos como o de Caxias do Sul, Canela e outros pontos estratégicos do espaço aéreo da Região Sul.

O 2º Sargento Diego da Silva Goulart, descreve o ofício com naturalidade. “Nosso dia começa às seis da manhã e, oficialmente, vai até meia-noite. Mas se houver voo de madrugada, transporte de órgão, resgate ou alguma emergência, a gente está aqui. Pronto.”

E as emergências não são raras. “Em três semanas recentes, tivemos 13 acionamentos por situações de emergência”. O que exige preparo físico, mental e emocional.

Na torre de controle do DTCEA-CO o 3º Sargento Mateus Rocha de Oliveira mantém contato visual com a aeronave que se aproxima, garantindo um pouso seguro na pista (Foto: Josué Garcia/ Agência GBC)

Trabalho durante a enchente de 2024

Poucos eventos testaram tanto a estrutura de controle aéreo quanto as enchentes de maio de 2024, que paralisaram o Aeroporto Salgado Filho e colocaram Canoas como principal ponto de entrada e saída aérea da região metropolitana.

“Foi um momento que pareceu guerra”, descreve Goulart. “Mais de 20 aeronaves sob controle ao mesmo tempo, gente pedindo prioridade, carga urgente, evacuação. A gente teve todas as posições abertas, todos os rádios ligados, e os olhos atentos. Não tinha espaço para erro.”

O controle que ninguém vê

A torre de Canoas é apenas a ponta visível do trabalho. Parte do efetivo também atua no Controle de Aproximação de Porto Alegre, que opera no antigo Terminal 2 do Salgado Filho. É lá que se gerencia o tráfego aéreo da região terminal, onde as aeronaves entram e saem do espaço aéreo local.

“É uma área grande. Além de Canoas e Porto Alegre, Caxias do Sul, Canela e até o ponto de Tupi, na fronteira sul, estão sob nossa cobertura. E cada zona tem seu tipo de complexidade”, explica o Comandante do DTCEA-CO, Capitão Aviador Carlos Emilião.

A diferença entre uma rádio de informação e uma torre de controle, por exemplo, é crucial. “Na torre, a gente não dá só informação — a gente controla. A gente diz: ‘você não pode taxiar’, ‘aguarde no ponto de espera’. Isso garante segurança para quem está no ar e para quem está no solo.”

Torre de controle de Canoas garante pouso seguro de helicópteros na BACO (Foto: Josué Garcia

Formação: técnica, resistência e cabeça fria

Para se tornar controlador de voo militar, o caminho começa na Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR), em Guaratinguetá (SP). O ingresso se dá por concurso público, exige ensino médio e idade entre 17 e 24 anos. O curso tem duração de dois anos, com formação direta para a patente de terceiro-sargento. Os exames são rigorosos, especialmente os psicológicos e de saúde. São necessárias boa visão, reflexos rápidos e equilíbrio emocional.

A rotina impõe desgaste, mas também disciplina. A carga horária dos controladores funciona no regime H18, ou seja, com início das operações às 6h e encerramento à meia-noite, com possibilidade de extensão caso haja voos fora desse horário, como missões de transporte de órgãos ou pacientes graves.

“Temos voos de treinamento, aeronaves de busca e salvamento, helicópteros dos bombeiros e aeronaves de alerta e os F-5. As operações acontecem em blocos de tráfego intenso e pausas, mas em situações excepcionais, como durante as enchentes, esse ritmo muda completamente”, explica o sargento Goulart.

A carga de trabalho é monitorada por sistemas que seguem padrões da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), a organização internacional da aviação. “Não podemos ultrapassar limites, e também não podemos ficar sem praticar. Tem que manter o ritmo — como um piloto que não pode ficar muito tempo sem voar”, explica o comandante Emilião.

O futuro é digital mas o humano segue essencial

O DTCEA-CO já está nos planos de modernização da Aeronáutica para receber uma torre de controle digital. Inspirado em modelos europeus, como o já instalado na Base Aérea de Santa Cruz (RJ), o novo sistema funcionará de forma remota, com câmeras de alta definição e inteligência artificial identificando aeronaves e emitindo alertas em tempo real.

“É como um ‘tablet gigante’. Você clica na aeronave, vê o zoom, vê a altitude, o trajeto, tudo. Mas ainda somos nós, os humanos, que decidimos”, diz Goulart, que também é entusiasta de tecnologia.

Perguntado se um dia a função será automatizada, ele é honesto: “Talvez sim. Mas ainda vai demorar. Porque o julgamento humano, em uma emergência, nenhuma IA simula. Ainda somos nós que tomamos a decisão final. E vidas dependem disso.”

Quando o céu surpreende: entre caças e “óvnis”

A rotina também tem seus momentos curiosos. Recentemente, relatos de luzes estranhas no céu geraram rumores sobre objetos voadores não identificados. “Peguei o binóculo e fui ver. Eram os satélites do Starlink, do Elon Musk”, ri Goulart.

Mas nem sempre as surpresas são inofensivas. Em 2019, um caça AMX que decolou de Santa Maria caiu minutos após deixar Canoas. “Fizemos a primeira coordenação da emergência. É algo que marca. Ninguém esquece quando uma aeronave cai”, relembra.

O trabalho do controlador de voo é muita vezes invisível. Ninguém aplaude o pouso seguro de um cargueiro da FAB e não vê o controle de um helicóptero trazendo um coração para transplante. Mas tudo isso passa pela torre de Canoas.

Serviço – Como se tornar um controlador de voo militar

Para ingressar nesta carreira de alta exigência, os controladores de voo da FAB são formados na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) (Foto: Josué Garcia/Agência GBC)
  • Requisitos: Ensino médio completo, idade entre 17 e 24 anos
  • Inscrições: Site oficial da FAB (www.fab.mil.br)
  • Curso: 2 anos na Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR)
  • Patente ao final: Terceiro-Sargento
  • Áreas de atuação: Torres de controle, controle de aproximação, defesa aérea

Josué Garcia
Josué Garcia
Estudante de jornalismo e redator de SEO, Josué Garcia escreve sobre cotidiano.
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