A autossabotagem é um comportamento silencioso que afeta milhões de pessoas. Ela aparece quando adiamos tarefas importantes, desistimos de planos ou evitamos oportunidades que desejávamos. À primeira vista, pode parecer apenas falta de disciplina, mas especialistas explicam que o processo é muito mais profundo: trata-se de uma disputa constante dentro do cérebro entre o emocional e o racional.
Segundo o psicólogo Yuri Busin, esse embate ocorre principalmente entre a amígdala, responsável pelo medo e autoproteção, e o córtex pré-frontal, ligado ao planejamento e à tomada de decisão. A amígdala reage primeiro, tentando poupar energia e empurrando a pessoa para rotas automáticas e confortáveis. Já o córtex pré-frontal interpreta essas emoções como risco e pode optar pela esquiva.
Autossabotagem: como reprogramar o cérebro e romper padrões negativos
Esse mecanismo é reforçado pelo circuito de recompensa. Regiões como o núcleo accumbens liberam dopamina quando evitamos uma tarefa temida, gerando alívio imediato. O problema é que essa sensação agradável no curto prazo cria um ciclo: esquiva, alívio, culpa e frustração — repetindo padrões que afastam a pessoa de seus objetivos.
Experiências marcadas por medo, fracasso ou vergonha ficam registradas intensamente no sistema límbico. Sempre que o cérebro encontra uma situação parecida, ativa o alerta de perigo para evitar que algo se repita. Essas rotas emocionais antigas consomem menos energia e, por isso, são acionadas automaticamente, mesmo quando nos prejudicam.
Apesar desse cenário, há saída. A chave está na neuroplasticidade, a capacidade do sistema nervoso de modificar conexões e criar novos circuitos. Isso acontece por meio de repetição, esforço e experiências positivas, seja na psicoterapia, na autorreflexão ou em treinos comportamentais. Pequenas vitórias diárias ajudam a consolidar essas transformações e tornam os comportamentos mais adaptativos.
No entanto, existe um inimigo comum: o estresse crônico. Ele altera a arquitetura cerebral, reduz a eficiência do córtex pré-frontal e hiperativa a amígdala, colocando o cérebro em modo de sobrevivência. Nesse estado, decisões rápidas e impulsivas predominam, criando o ambiente ideal para a autossabotagem prosperar. Por isso, cuidar da ansiedade, da depressão e do esgotamento emocional é parte essencial do processo de mudança.
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Os sinais de que alguém está rompendo o ciclo não são neurológicos, mas comportamentais. Iniciar uma tarefa mesmo com desconforto, enfrentar situações desafiadoras com mais frequência, manter consistência em pequenas ações e transformar antigos gatilhos em aprendizado são indicativos de que novas conexões neurais estão se formando.
No fim das contas, superar a autossabotagem não exige perfeição, e sim constância. Passo a passo, o cérebro aprende que o esforço vale a pena. Com o tempo, os novos caminhos deixam de parecer ameaça e se tornam parte natural da vida.

