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05 de dezembro de 2025

Mais de 70 empresas faliram no RS; Veja algumas

A própria Vier entrou com o pedido de autofalência, amparada na legislação

O cenário empresarial gaúcho em 2025 sofreu forte pressão, onde mais de 70 empresas foram decretadas falência no Rio Grande Sul.

Apenas até outubro, já foram registradas 75 falências no estado.

Diversos fatores vêm sendo citados pelas empresas para explicar o avanço das quebras. Ainda há reflexos da pandemia na saúde financeira dos negócios, somados à manutenção dos juros elevados, à restrição ao crédito e a impactos de crises internacionais.

Entre eles, a guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, a perspectiva de um novo tarifaço imposto pelos Estados Unidos. A isso se somam problemas específicos de determinados setores e particularidades de cada companhia.

As recuperações judiciais também acompanham a tendência de alta e devem ganhar novos capítulos quando forem divulgados os dados de novembro pela Junta Comercial. Até o momento, já são 159 pedidos em 2025, praticamente igualando os 163 registrados em 2024.

O mecanismo de recuperação judicial funciona como um alívio temporário, suspendendo cobranças e evitando o corte de serviços essenciais, como água e energia. O objetivo é permitir que a empresa continue operando enquanto reorganiza suas finanças e renegocia dívidas.

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Duas tradicionais empresas do Rio Grande do Sul (RS) surpreenderam o mercado ao decretarem falência após acumularem um volume milionário de dívidas. Esse foi um cenário que ninguém imaginava nos bastidores do setor.

A fabricante de calçados Mulher Sofisticada, localizada em Três Coroas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, encerrou suas atividades e deve protocolar um pedido de autofalência ainda nesta semana. A decisão ocorre após o acúmulo de dívidas que ultrapassam R$ 18,3 milhões, segundo o escritório de advocacia responsável pelo processo.

O presidente do Sindicato dos Sapateiros de Três Coroas, Erni Rinker, afirmou ao portal G1 que a situação financeira da empresa já apresentava sinais de deterioração há meses. A fábrica empregava 77 trabalhadores, todos prestes a ser desligados após o fechamento.

O escritório MSC Advogados informou para os órgãos públicos, que representa a companhia, que houve tentativas de renegociar os débitos, mas nenhuma proposta foi adiante. Apesar do encerramento das operações, o sindicato destaca que outras empresas do setor demonstraram interesse em contratar os trabalhadores demitidos, o que pode amenizar os impactos sociais do fechamento.

Fundada em 2012, a calçadista Mulher Sofisticada enfrentou sucessivas dificuldades nos últimos anos. A empresa chegou a produzir 3,7 mil pares de calçados femininos por dia para grandes marcas do mercado nacional. Nos dias que antecederam o encerramento, porém, a produção havia caído para cerca de 1,5 mil pares diários, refletindo a crise financeira que culminou na decisão de pedir autofalência.

A Vier Indústria e Comércio do Mate Ltda., fundada em 1944 e sediada no município, teve sua autofalência decretada pela Justiça. A decisão judicial determinou o início do processo falimentar, nomeou um administrador judicial e suspendeu todas as execuções em andamento contra a empresa.

A própria Vier entrou com o pedido de autofalência, amparada na legislação que permite que empresas em situação financeira irreversível reconheçam oficialmente a impossibilidade de continuar operando. O objetivo é encerrar as atividades de forma organizada e iniciar o pagamento dos credores sob supervisão do Judiciário.

Segundo o relato da empresa Vier, as operações foram encerradas em setembro de 2024. Entre os fatores que agravaram a crise estão a falta de matéria-prima, impulsionada pela substituição dos ervais por monoculturas de soja, problemas de saúde do sócio-administrador que faleceu em 2020, aumento no custo dos insumos e do transporte, endividamento crescente e um incêndio registrado na sede em 2012.

Ao avaliar o pedido, o juiz responsável destacou que, apesar de insolvente, a empresa ainda possui fontes de receita. As marcas registradas da Vier estão licenciadas à Ervateira Rei Verde Ltda, que realiza pagamentos mensais. Além disso, parte da estrutura e dos equipamentos da filial no Paraná foi arrendada para a Maracanã Indústria e Comércio de Erva-Mate Ltda.

Com esses elementos, o magistrado concluiu que a massa falida tem condições financeiras de arcar com as despesas do processo e, por isso, negou o pedido de gratuidade judiciária.

Decisão judicial

Com base nos documentos e nos demonstrativos apresentados, o juiz reconheceu oficialmente o estado de insolvência da empresa. Ele também determinou a suspensão do leilão de um imóvel da Vier, que ocorreria em um processo de execução fiscal, garantindo assim o tratamento igualitário entre todos os credores.

Reviravolta

Apesar da falência da empresa, a marca continuará presente no mercado. Isso se deve a um acordo pouco divulgado, firmado em 2024, que garante a continuidade do produto nas prateleiras.

A empresa Rei Verde, de Erechim, firmou um contrato de arrendamento da marca Vier pelo prazo de 30 anos. O acordo envolve exclusivamente o uso do nome, não a estrutura fabril que encerrou atividades em Santa Rosa. Com isso, cabe agora à Rei Verde toda a produção, o envase e a distribuição da erva-mate, preservando a presença da marca especialmente na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde ela tem maior reconhecimento.

De acordo com o administrador judicial da massa falida, André Estevez ao juiz responsável pelo processo de falência, o contrato determina que 3% da receita obtida com as vendas da erva-mate Vier sejam repassados mensalmente à massa falida. Esses valores, somados aos recursos arrecadados com a venda dos bens da antiga fábrica, serão utilizados para quitar dívidas com os credores.

O cenário do setor também contribui para o contexto da crise: embora haja atualmente excesso de oferta de erva-mate, a antiga fabricante apontava justamente a falta de matéria-prima como um dos fatores que comprometeram sua saúde financeira.

Matheus Ferreira
Matheus Ferreira
Estudante de jornalismo, o pelotense Matheus Ferreira escreve notícias sobre economia, segurança, cotidiano e saúde.
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