O RS enfrenta com crescente frequência episódios de ciclone, chuva extrema, inundações e danos provocados por sistemas intensos. Em linguagem simples: há mais água no sistema climático e certos fenômenos naturais estão atuando como amplificadores. Entretanto, a explicação é multicausal e envolve clima global, padrões como El Niño, dinâmica atmosférica local e fragilidades da infraestrutura urbana.

Surpreendentemente, a explicação técnica mais direta vem de análises que combinam modelos climáticos com observações: o aquecimento global provocado pelas atividades humanas aumentou a probabilidade e a intensidade de chuvas extremas que atingiram o RS recentemente. Segundo o estudo coordenado pela iniciativa World Weather Attribution, “a chuva que causou as enchentes em abril/maio de 2024 no Rio Grande do Sul tornou-se cerca de duas vezes mais provável por causa da mudança climática e 6% a 9% mais intensa”. (segundo o estudo “Climate change, El Niño and infrastructure failures behind massive floods in southern Brazil”, publicado no site World Weather Attribution).

Além disso, esse mesmo estudo indica que o fenômeno El Niño agiu como um amplificador natural: enquanto o aquecimento global aumentou a probabilidade do evento, o El Niño também elevou a chance e intensidade das chuvas, resultando em um efeito combinado que tornou o episódio histórico muito mais provável do que no clima pré-industrial. (segundo o estudo World Weather Attribution, publicado em climateattribution.org).
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Por que isso acontece, em termos práticos?

Primeiro, o ar mais quente comporta mais vapor d’água; portanto, quando sistemas de baixa pressão (frentes frias, cavados, ciclones extratropicais) encontram umidade abundante, a chuva cai com maior intensidade. Em segundo lugar, a combinação de ar úmido, relevo favorável à concentração de chuva e falhas de drenagem urbana aumenta o risco de enxurradas e deslizamentos. Esses processos foram documentados por análises e relatórios técnicos após as enchentes de 2024.

Contudo, não é correto culpar apenas o “ciclone”. Na prática, ciclones extratropicais podem agravar a situação, contudo muitos eventos de inundação decorrem da convergência de múltiplos fatores: umidade advinda do interior do continente, bloqueios atmosféricos, passagem de frentes frias e eventos de pré-aquecimento (como ondas de calor) que alteram o padrão de pressão. Portanto, um ciclone pode ser parte da equação, mas raramente é o único motor do desastre. (segundo análise do jornal britânico, The Guardian).

Finalmente, existem agravantes humanos e estruturais: desmatamento em bacias, ocupação de áreas de risco e infraestrutura de drenagem insuficiente ampliam impactos locais. Em outros termos, mesmo que a chuva seja mais intensa por razões climáticas, as consequências em termos de destruição e deslocamento aumentam quando a cidade e o campo não têm capacidade para escoar e conter água. Esse ponto foi enfatizado pelos autores do estudo da WWA, que também destacaram “falhas de infraestrutura” como fator que intensificou os danos no RS. (segundo o estudo World Weather Attribution).
Ciclone no RS: o que as previsões e agências meteorológicas dizem hoje

Autoridades meteorológicas brasileiras e estaduais confirmam que o Sul é especialmente sensível a ciclones extratropicais durante outono/inverno e que, quando esses sistemas interagem com ar muito quente e úmido, podem gerar chuva volumosa e ventos fortes. Em comunicados e alertas recentes, o INMET e a Defesa Civil do RS têm emitido avisos de tempestades e acumulados significativos sempre que um ciclone se forma no Atlântico Sul próximo ao litoral gaúcho.

O que isso significa para o futuro (resumo prático)
- Em primeiro lugar, espere maior probabilidade de eventos extremos: estudos indicam que eventos raros podem se tornar mais frequentes.
- Em segundo lugar, a interação entre El Niño e aquecimento global tende a amplificar episódios de chuva intensa quando ocorrem juntos. (segundo o estudo da WWA).
- Em terceiro lugar, reduzir riscos requer tanto mitigação global (redução de emissões) quanto adaptação local (melhor planejamento urbano, sistemas de drenagem e proteção de encostas).

