A digitalização de serviços ligados à habilitação tem sido apresentada como um avanço para facilitar a vida dos condutores brasileiros. No entanto, situações recentes têm levantado dúvidas sobre a segurança e a confiabilidade dos sistemas utilizados na formação de profissionais do trânsito.
Especialistas alertam que mudanças rápidas, sem camadas sólidas de verificação, podem abrir brechas perigosas. Quando o assunto envolve cursos ligados à Carteira Nacional de Habilitação, qualquer falha pode ter impacto direto na qualidade do ensino e na segurança viária.
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Foi justamente isso que veio à tona após um teste envolvendo o aplicativo CNH do Brasil, que resultou na emissão de um certificado oficial de instrutor de trânsito para uma criança de apenas 3 anos, sem que o sistema exigisse idade mínima ou número de CNH.
O caso foi divulgado pelo site AutoPapo e envolveu uma empresária do setor automotivo, proprietária de um Centro de Formação de Condutores (CFC). Ao acessar a plataforma da CNH do Brasil, ela optou por iniciar o curso de instrutor de trânsito, que deveria seguir critérios rigorosos de validação.
Após o redirecionamento para a plataforma que hospeda os módulos digitais, o sistema solicitou apenas o login da conta Gov.br. Nesse momento, a empresária inseriu os dados completos de seu filho, de apenas 3 anos de idade, sem que houvesse qualquer bloqueio ou questionamento por parte do sistema.
Mesmo sem informar número de habilitação ou comprovar idade mínima, o acesso ao curso foi liberado integralmente. Os módulos puderam ser concluídos normalmente, com questionários simples e respostas objetivas, permitindo a finalização do conteúdo em menos de uma hora.
CNH do Brasil: mudanças chamam atenção não só positivamente
A situação chama ainda mais atenção quando comparada ao modelo anterior. Pela Resolução nº 789/2020 do Contran, o curso de instrutor de trânsito exigia 116 horas-aula, com limite diário e avaliações mais rigorosas. No formato atual da CNH do Brasil, basta atingir 70% de acertos para obter aprovação automática e emissão imediata do certificado.
Outro ponto levantado foi a baixa qualidade do conteúdo das avaliações. Segundo o relato, as provas apresentavam erros de digitação, questões mal formuladas e nível técnico considerado incompatível com a responsabilidade de formar novos condutores.
Apesar disso, a certificação por si só não autoriza o exercício da função. Para atuar, o instrutor ainda precisa realizar o registro junto ao Detran, etapa que valida o profissional junto aos órgãos oficiais. Mesmo assim, especialistas alertam que o problema está na fragilidade do processo inicial.
O receio é que falhas no sistema da CNH do Brasil facilitem a formação de instrutores sem preparo adequado, o que pode comprometer a qualidade do ensino nas autoescolas e aumentar riscos no trânsito brasileiro.

