No mundo ideal, no domingo da eleição todos andariam de graça no transporte coletivo top da cidade. Lindos e felizes. Mas a vida real é diferente do mundo ideal. Nosso transporte, infelizmente, não é top, custa caro e o domingo de passe livre é como a esperteza do açougueiro que põe mais sebo do que agulha para moer o guisado de segunda – e te oferece gordura a preço de carne limpa. Nem todos os açougueiros são assim, por óbvio, e não podemos nós sermos assim conosco mesmo por apenas um dia de passe livre.
A realidade é que a Sogal, hoje, é uma empresa pré-falimentar. Sobrevive do subsídio que o município põe, todos os meses, para bancar as gratuidades locais. Há muito o que se colhe na roleta não banca o custo do transporte, mas sabemos, você e eu, que a gestão da empresa parou no tempo em que encher a cidade de ônibus era um grande e inquebrável negócio. Hoje, com Uber e o home office, o transporte coletivo parece a carruagem do novíssimo Rei Charles III ao lado de uma Ferrari – só que, no caso da Sogal, a carruagem é desconfortável e, por vezes, te deixa a pé.
Tenho dó de cada centavo que a cidade gasta com subsídio para o transporte porque, no fim, as coisas não melhoram. Entendo que agora e no futuro, não haverá transporte coletivo sem subsídio e não vou defender aqui ou em qualquer outro lugar a hipocrisia de que se corte, de uma hora para outra, o auxílio que mantém em pé a empresa e os empregos que ela gera. Mas também não defenderei um dia de passe livre que nos custe qualquer centavo a mais de dinheiro público ou aumento de tarifa, mesmo que seja para o dia da eleição.
Parte dos eleitores só pensa no voto quando a gente chega pertinho da eleição, na semana de ir votar – e tá tudo bem. Mas isso o faz esquecer que basta ir ao cartório eleitoral, que em Canoas fica no Centro, na Guilherme Schell, e trocar o local de votação para um ponto mais perto de casa, para onde se possa ir a pé. Não é só porque é mais fácil: o dia da eleição transforma a cidade em uma grande feira livre, lembram? É carro, militante, bandeira, candidato e gente para todos os lados. Votar perto de casa facilita a mobilidade de todos. E o ônibus, que faz parte desse sistema, não precisar ser de graça para garantir a democracia.
A mim basta que seja bom e acessível todos os outros dias.