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Canoas
21 de novembro de 2024

RODRIGO BECKER

Rodrigo Becker é jornalista e escreve sobre política, negócios e cidade diariamente neste espaço.

CANOAS | Mário Cardoso fora do governo: lealdade, deslealdade e o caminho do labirinto

Presidente do Solidariedade foi demitido pelo prefeito em exercício na sexta, mas 'caiu atirando'; o que Bobbio ensina sobre não repetir erros

Mário Cardoso não faz mais parte do governo em Canoas. O presidente do Solidariedade e agora ex-diretor do CanoasTec foi comunicado na sexta-feira, 18, pelo secretário de Relações Institucionais, Emílio Neto, de que sua exoneração estava assinada pelo prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques, e pronta para ser publicada no Diário Oficial ainda aquela tarde. No dia em que a política roía as unhas por conta da notícia de uma grande leva de demissões no paço, a única oficial foi a de Mário – um jairista das antigas, amigo de Jairo Jorge há mais de 30 anos.

A saída de Mário é, portanto, mais um ruído nesse choque de placas tectônicas em que vem se transformando a relação JJ e Nedy desde o afastamento do prefeito. E, neste post, a gente entende porquê.

Mário sempre esteve ao lado de Jairo Jorge. Foi secretário de governo e o escolhido, ainda na época do PT, para formar chapa com Beth Colombo para disputa da prefeitura em 2016. Foi com Jairo para o PDT e, numa estragégia combinada com o líder, formou o Solidariedade em 2019 de olho na eleição de 2020. Solidariedade, aliás, que recebeu a filiação de um Nedy egresso do MDB após uma fatídica convenção em que o partido abria caminho para apoiar Luiz Carlos Busato em 2020, contrariando o até então presidente da sigla, Nedy.

“Estou em férias”, diz Mario, confirmando que recebeu a ligação de Emílio sobre sua demissão. “Isso gera inclusive uma ilegalidade trabalhista”.

Para ele, não é um ato isolado. “Confirma o que o prefeito em exercício tem feito no último período com todos que tem relação com o prefeito Jairo Jorge”, comenta, frisando o ‘prefeito’. “Não sou o único. Mas na vida a gente aprende.”

Aproximação em 2018: o padrinho da parceria

Mário conta que, em 2018, foi ele quem promoveu a aproximação entre Nedy e Jairo Jorge após a eleição para o governo do Estado, quando JJ foi candidato pelo PDT. Nedy teria manifestado para Mário o desejo de ser vice em 2020 num período em que já se tinha mais certezas do que dúvidas sobre a candidatura do prefeito para um embate com Busato. “Lembro de Norberto Bobbio, que diz que os labirintos nos ensinam não somente onde está a saída, mas quais os caminhos não nos levam a lugar nenhum”, cita. “Acreditei nele em 2018. Foi um erro”, avalia, para atirar em seguida. “O prefeito circunstancial deveria refletir sobre o que é desvio de caráter”.

Tiro, porrada e bomba

Mário não poupa críticas ao prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques – especialmente pela postura que tem sido adotada com assessores que são ligados a Jairo Jorge. “Deslealdade. O governo não é dele. No voto, não conseguiria nem ser síndico, caso morasse em um condomínio. Talvez vereador em uma cidade pequena como Butiá, quem sabe.”

A ira de Mário não é gratuita. Quando Felipe Martini desistiu de concorrer a deputado estadual, fez um vídeo e chegou a criticar a postura de Nedy – mas o caso ficou na conta de uma disputa entre os dois. Na sequência, os jairistas foram cada vez mais rompendo laços com o prefeito em exercício. E Nedy com eles. Alguns foram desligados do governo há pouco mais de uma semana sob a acusação de estarem ‘cruzando os braços’ a espera do retorno de JJ. O PSD, que havia indicado os nomes, contornou a crise reunindo com Nedy e obtendo dele o compromisso de que novos nomes, também do partido, ocupariam as funções. A demissão de Mário, no entanto, mexe com um nome que já teve protagonismo ao lado de JJ e que prefere pôr o que pensa sobre a mesa do que esperar o que se sucede sob a toalha.

Palpite do blog? Não termina por aí.

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