Não era 6h da manhã desta quarta-feira, 7, e o telefone do secretário de Saúde, Aristeu Ismailow, e do prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques, já tocavam freneticamente. Em frente ao prédio onde funciona a estrutura adminstrativa da Saúde, dois carros da Polícia Federal indicavam o porquê das urgências telefôncias. Era a fase ostensiva da Operação Septcemia encabeçada pela PF em conjunto com a Controladoria Geral da União, a CGU, que investiga as atividades de uma suposta organização criminosa voltada à fraude em licitações e desvio de recursos públicos em contratos de saúde, além de possíveis esquemas de corrupção, que amanhecia em Canoas
Com o passar das horas, o blog apurou que quatro mandados de busca e apreensão de um total de 52 foram cumpridos na cidade: dois em prédios da Prefeitura – os policiais também foram à Secretaria de Planejamento e Gestão – e outros dois na casa de servidores que exerceram cargos de chefia na Saúde. Os nomes não foram divulgados e nem as suspeitas que a Polícia tem sobre eles. Ninguém foi preso em Canoas: os quatro que foram levados à prisão temporária foram pegos em Porto Alegre, três deles, e um em São Leopoldo, onde funcionaria o centro da operação criminosa investigada.
A entidade no centro da investigação é o IBSaúde. Um inquérito federal foi aberto em 2019 para apurar suspeitas contra a entidade a partir da atuação que mantém até hoje em São Leopoldo. Naquela época, a CGU apreendeu uma série de documentos e mídias digitais com dados sobre a movimentação do grupo. O material foi esmiuçado em conjunto com a Polícia Federal que, então, decidiu abrir os inquéritos. Hoje, o IBSaúde é responsável pela gestão da UPA Zona Norte, em São Leopoldo, além de estruturas de saúde em mais 10 cidades gaúchas – Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, entre elas, além de Canoas.
Por aqui, o IBSaúde responde pela gestão dos Centros de Atendimento Psico-Social, os CAPS, e três Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs. O contrato dos CAPS foi assinado no final de julho de 2022 – este ano, portanto. O das UPAs Guajuviras, Liberty Dick Conter e Rio Branco, no finalzinho de janeiro. Todos os contratos e todas as relações que envolvem a entidade serão escrutinadas pela Polícia – mas é cedo para afirmar, peremptoriamente, que houveram irregularidades praticadas por aqui ou que algum agente público tenha relação com os supostos crimes praticados pela instituição.
As suspeitas da Polícia Federal são a de que o IBSaúde teria se valido de intermediários para criar relações com as cúpulas da Saúde nos municípios de interesse do grupo para facilitar a participação em licitações, contratações emergenciais e chamamentos públicos. Como uma organização social sem fins lucrativos, a entidade se enquadra em um modelo diferenciado de contratação e, assim, poderia assumir serviços de gestão em saúde sobre os quais, agora, recaem suspeitas de irregularidades. A PF não adiantou se há desvios de recursos, o que será apurado caso a caso. Na próxima etapa, haverá o levantamento de informações para confirmar se a entidade cumpria rigorosamente o contratado que mantinha com os municípios ou se era beneficiada de alguma forma pelas relações que construiu com agentes públicos e servidores municipais.
Também circulou nesta quarta-feira a informação de que um dos contratos dos famosos ‘hospitais de campanha’ estava na mira da Polícia Federal durante a fase ostensiva da Operação Septicemia. Levantado na coletiva de imprensa em que os agentes explicaram a ação, o assunto não ficou esclarecido. Vale lembrar que as estruturas provisórias para atendimento de pacientes com suspeita de contaminação por Covid-19 foram montadas em 2020 e em 2021.
O blog procurou o IBSaúde, na tarde de quarta e durante toda a manhã de quinta-feira, mas uma prometida nota com a posição do instituto a respeito da Operação Septicemia não foi encaminhada até a publicação deste post.