RODRIGO BECKER

Rodrigo Becker é jornalista e escreve sobre política, negócios e cidade diariamente neste espaço.

CANOAS | Impeachment, dia 1: o que se sabe e o que se viu sobre o ’emparedamento’ de JJ

Inédito pedido de cassação do mandato de um prefeito aterrissou na Cùmara nesta quinta-feira para agitar o final do ano canoense

Às 17h17 desta quinta-feira, 22, a secretaria da CĂąmara de Canoas deu protocolo a um inĂ©dito pedido assinado pelo advogado Marcelo Fontella Silva, o Marcelo SF. Trata-se de ‘DenĂșncia por infraçÔes polĂ­tico-administrativas’ que, no frigir do ovos, pede a cassação do prefeito Jairo Jorge, afastado do cargo desde 31 de março em razĂŁo das investigaçÔes da Operação Copa Livre. É dela, aliĂĄs, que Marcelo tira os argumentos para o pedido de impeachment de JJ: por conta do que o MinistĂ©rio PĂșblico diz que Jairo fez, ele teria incorrido nas implicaçÔes dos parĂĄgrafos VII, VIII e X do artigo 4Âș do Decret-Lei 201/1967 – o temido decreto que estabelece os ritos para reponsabilização de prefeitos e vereadores.

Um decreto da Ă©poca da ditadura, diga-se de passagem.

Para Marcelo, as investigaçÔes que o MP estĂĄ fazendo contĂ©m provas de que JJ teria praticado atos contrĂĄrios Ă  lei ou se omitido; se omitido ou negligenciado a defesa de interesses do MunicĂ­pio; e procedido de modo incompatĂ­vel com a dignidade do cargo. Para que elas possam ser discutidas pelos vereadores, Fontella quer que a CĂąmara requeira ao MP as anĂĄlises tĂ©cnicas produzidas a respeito das investigaçÔes, especialmente as das denĂșncias que jĂĄ foram entregues Ă  Justiça em junho e setembro de 2022.

A defesa de Jairo Jorge, por Ăłbvio, nega. Em nota publicada nas redes sociais, o prefeito tratou o pedido de impeachment como um “instrumento polĂ­tico para tentar desgastar Jairo Jorge atravĂ©s de um factoide sem chance de prosperar”. Seu advogado, AdĂŁo Paiani, foi bem mais alĂ©m. Ele avalia que a peça de Marcelo Fontella Ă© “midiĂĄtica e golpista”, atribuindo a arquitetura do plano a um grupo polĂ­tico especĂ­fico que seria liderado pelo prefeito em exercĂ­cio, Nedy de Vargas Marques, “que nĂŁo tem voto para ser prefeito e quer chegar lĂĄ no tapetĂŁo”.

“Vamos tomar todas as medidas cabĂ­veis para garantir que esse processo nĂŁo prospere. Nossa avaliação Ă© que o pedido sequer tem condiçÔes de admissibilidade, embore respeite o trabalho do colega Marcelo Fontella”, disse AdĂŁo Paiani. “Se for admitido, esperamos que a CĂąmara seja responsĂĄvel e arquive sem demora”. Ele garantiu, ainda, que em respeito Ă  cautelar, Jairo Jorge nĂŁo farĂĄ movimentos pela rejeição do impeachment, mas nĂŁo descarta que o grupo polĂ­tico do qual faz parte o faça.

O relĂłgio que nĂŁo para

O calendårio apertado até o final do ano legislativo deixa nebuloso o eventual andamento do processo ainda em 2022. De acordo com o Decreto-Lei 201, o presidente da Cùmara tem até a próxima sessão para submeter a abertura da comissão processante ao plenårio da Casa. Isso aconteceria na próxima terça-feira, 27. No entanto, hå uma brecha para adiar por uns dias esse passo: o presidente pode pedir uma anålise à Procuradoria da Cùmara para saber se o pedido estå de acordo com o que determina a legislação, o decreto-lei, a lei orgùnica e o regimento interno.

Se fizer isso, Link adia necessariamente uma eventual abertura do processo de impeachment contra Jairo Jorge para o ano que vem. Como a Ășltima sessĂŁo do ano acontece no dia 28, a prĂłxima sessĂŁo para leitura do pedido, sĂł em fevereiro – apĂłs o fim do recesso de verĂŁo.

Tempo suficiente para que a polĂ­tica – e a cidade, enfim – assimile a bronca e os efeitos de um processo dessa magnitude.

PolĂ­ticos sendo polĂ­ticos

O efeito polĂ­tico do pedido de impeachment ainda serĂĄ medido ao longo dos prĂłximos movimentos, mas a maioria dos vereadores se dividiu em dois grupos: os que acharam a inicial de Marcelo Fontella uma metafĂłrica katiĂșcha soviĂ©tica disparadora de mĂ­sseis da Ă©poca da segunda guerra e outros que entenderam que o rugido do leĂŁo foi maior do que o tamanho do bicho. Para os que pensam que JJ deve ser sumaria e imediatamente tirado de cena, o pedido serve; para os que querem mantĂȘ-lo politicamente vivo, tambĂ©m. Por mais estranho que pareça, todos estĂŁo, de certa forma, aliviados.

Imediatamente apĂłs a chegada do pedido Ă  CĂąmara, o ‘Bloco dos 7’ fez uma reuniĂŁo na sala da presidĂȘncia para avaliar a situação. Combinaram de discutir o impeachment nos prĂłximos dias: a pauta, naquele momento, seria a eleição da presidĂȘncia da CĂąmara, marcada para 28 e antecipada para o final da sessĂŁo desta quinta. Engana-se quem acha que os assuntos estĂŁo dissociados.

PrevisÔes na borra do café

É impossĂ­vel dizer o que vai acontecer com o processo de impeachment apresentado contra o prefeito Jairo Jorge na tarde desta quinta-feira, 22. Para ser aberto, precisa ser lido em uma sessĂŁo ordinĂĄria e aprovado com o voto de 11 dos 21 vereadores. Depois, o processo corre com ritos e determinaçÔes rigorosas definidos pelo decreto-Lei 201/1967. E, sĂł depois, o voto dos vereadores decide se Jairo perde ou nĂŁo o mandato.

Qualquer previsĂŁo, agora, seria achismo.

Mas vale, pela ocasiĂŁo, lembrar de um ensinamento ouvido do ex-ministro Eliseu Padilha, notĂłrio conhecedor dos caminhos do Congresso e do andamento da polĂ­tica. Uma vez, ele disse que a CĂąmara dos Deputados se dividia em dois grupos: um deles, com cerca de 30 parlamentares, representava o que de pior hĂĄ na polĂ­tica brasileira. “Bandidos mesmo, pessoal inescrupuloso e sem palavra”, referiu. E, do outro lado, outros 30 que poderiam ser imediatamente canonizados. “Gente que se pauta pela Ă©tica e pelo compromisso do partido, da ideologia que defende e da pauta que ocupa no Congresso”. Pois bem: e o resto? “O resto fica do lado de quem estĂĄ mais forte”.

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