O caminho do processo de impeachment contra o prefeito Jairo Jorge na CĂąmara de Canoas ainda segue nebuloso, mas a estratĂ©gia inicial da defesa, ao contrĂĄrio, começa a ganhar contornos mais claros. Depois de quatro dias se debruçando sobre o pedido assinado pelo advogado Marcelo Fontella, o defensor de JJ, AdĂŁo Paiani, apontou pelo menos duas inconsistĂȘncias que podem determinar o destino do processo: o arquivo da CĂąmara.
Segundo Paiani, o pedido deve ser feito por um eleitor da cidade – o que nĂŁo estĂĄ claro no caso de Marcelo Fontella. “Ele tem vida profissional em CamaquĂŁ. Parece que jĂĄ teve ligação funcional com o municĂpio de Canoas, mas agora, nĂŁo tem mais”, disse. Na abertura do documento em que expressa as ‘DenĂșncias por infraçÔes polĂtico-administrativas’ contra Jairo, Fontella se qualifica como “brasileiro, advogado, com escritĂłrio na Rua Olavo Moraes, 1261/01, Centro de CamaquĂŁ”. NĂŁo faz referĂȘncia Ă residĂȘncia ou domicĂlio eleitoral em Canoas.
O decreto-lei 201/67, que disciplina a cassação de mandatos de prefeitos e vereadores, diz apenas que a denĂșncia deve ser feita por escrito e por ‘qualquer eleitor’. NĂŁo estĂĄ claro que tenha que ser, neste caso, um eleitor canoense – mas, por analogia ao CĂłdigo Civil, um cidadĂŁo que nĂŁo seja eleitor de Canoas pode nĂŁo ser considerado parte legĂtima para discutir o mandato do prefeito de Canoas. AlĂ©m disso, nĂŁo consta na peça entregue por Marcelo Ă CĂąmara na quinta-feira, 22, qualquer certidĂŁo de regularidade eleitoral, o que, formalmente, se exige do denunciante.
A segunda questĂŁo que pode acarretar o arquivamento imediato do pedido diz respeito Ă exigĂȘncia de que o processo se inicie mesmo durante o recesso da CĂąmara, que vai do prĂłximo dia 30 atĂ© 1Âș de fevereiro. NĂŁo hĂĄ regulamentação clara sobre o andamento de procedimentos dessa natureza durante o perĂodo em que, a rigor, a CĂąmara nĂŁo Ă© obrigada a reunir-se ordinariamente. Um projeto que fosse apresentado nesse perĂodo, por exemplo, ficaria esperando o perĂodo legislativo habitual para que os prazos começassem a correr. No caso do pedido de impeachment, como seriam considerados esses prazos? “NĂŁo Ă© papel do denunciante determinar como isso vai ocorrer”, lembra AdĂŁo Paiani.
“Acredito que os vereadores, se quiserem preservar suas biografias, nĂŁo devem permitir que esse pedido avance”, diz o advogado que defende JJ. “NĂłs vamos reconduzir o prefeito Jairo Jorge Ă s suas funçÔes com o julgamento do habeas corpus ou com outras duas medidas que estamos trabalhando para acontecerem ainda durante o recesso judiciĂĄrio em BrasĂlia.
Paiani nĂŁo descarta recorrer Ă Justiça caso haja alguma irregularidade no avanço do processo na CĂąmara, especialmente diante da confiança que guarda quanto ao retorno do prefeito ao Paço. “Em 55 pĂĄginas, a denĂșncia nĂŁo traz nada de novo. E nĂŁo hĂĄ que se falar sobre o que Ă© objeto das investigaçÔes do MinistĂ©rio PĂșblico jĂĄ que isso estĂĄ sendo discutido no Ăąmbito do JudiciĂĄrio, ainda sem julgamento ou condenação”, adianta Paiani.