DifĂcil acreditar que em pleno 2023 ainda existam famĂlias inteiras morando em casas sem banheiro em uma cidade como Canoas, a terceira economia do Estado, um dos maiores 50 PIBs do Brasil. Mas hĂĄ. 359 estĂŁo, inclusive, cadastradas em um programa promovido pelo Governo do Estado, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, e a prefeitura chamado Nenhuma Casa Sem Banheiro. O plano Ă© dotar de instalaçÔes sanitĂĄrias adequadas a moradia de famĂlias nĂŁo tem a estrutura disponĂvel e, por consequĂȘncia, estĂŁo mais sujeitos a doenças tĂpicas da falta de saneamento domĂ©stico.
Nesta terça-feira (18), Ă tarde, o prefeito em exercĂcio Nedy de Vargas Marques irĂĄ ao Guajuviras inaugurar o primeiro banheiro construĂdo pelo programa. Ele tambĂ©m vistoria, em seguida, as obras que acontecem em outras casas no MQ1. Ă sĂł o começo. AtĂ© o final do ano, todas as famĂlias cadastradas terĂŁo o lavabo funcionando dentro de casa, com instalação elĂ©trica, hidrĂĄulica, pia, vaso sanitĂĄrio e chuveiro.
Esse programa, reputo, guarda um simbolismo maior do que aparenta a simplicidade da construção. Cada banheiro entregue leva dignidade a uma famĂlia de periferia. O efeito, no entanto, Ă© muito maior do que a valorização de um imĂłvel, por vezes, precĂĄrio. Cada banheiro em pĂ© significa menos uma criança doente no posto de saĂșde por enfermidades oriundas da falta de de condiçÔes sanitĂĄrias desejĂĄveis e, portanto, evitĂĄveis. Quer um exemplo? A hepatite do tipo A. A vacina para a doença estĂĄ disponĂvel na rede pĂșblica pelo SUS, mas sĂł por nossa total falta de capacidade de prevenção. Quando a gente pensa que o contĂĄgio da hepatite A se dĂĄ pelo contato com o material fecal de uma pessoa contaminada, percebemos que saneamento deveria ser um direito irrevogĂĄvel do ser humano. Viroses e bactĂ©rias infecciosas tambĂ©m circulam mais, obviamente, por ambientes menos higiĂȘnicos – e o freio adequado, o do saneamento, reflui na preservação de vidas. As de periferia e de nem tanto: desnecessĂĄrio dizer que os vĂrus, como de resto toda a gente, circulam o tempo todo.
Antes que alguĂ©m levante com indignação a ideia de que essas pessoas estĂŁo ‘ganhando de mĂŁo-beijada’, considere cada banheiro erguido um investimento pĂșblico na qualidade de vida de toda uma comunidade. E nĂŁo sou eu quem digo: a ONU lembra que cada R$ 1 gasto em saneamento economiza R$ 3 em saĂșde pĂșblica. Ă por isso que o programa merece um aplauso. Quando Nedy abrir nesta terça o primeiro banheiro, devemos lembrar que, no futuro, um leito a menos de hospital serĂĄ ocupado por conta disso.