Não convide o vereador Emílio Neto (PT) e o prefeito em exercício Nedy de Vargas Marques para mesma mesa, especialmente se o jantar precisar de facas. Ou arpões. O mais longevo parlamentar petista da legislatura e o vice que ajudou a eleger no segundo turno de 2020 e de quem foi secretário desde o afastamento do titular, Jairo Jorge, não tem mais assuntos em comum. Romperam. E, pelo menos da parte de Emílio, publicamente.
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O vereador foi o primeiro a usar a tribuna na sessão extraordinária desta quarta-feira, 25, que aprovou a reposição para os salários do funcionalismo canoense. E disparou uma bateria de mísseis terra-ar contra a estabilidade política que, ledo engano, janeiro parecia ter dado à política na cidade. “Nedy é arrogante, trata seus secretários como gado, já que criador de gado ele é”, disse Emílio. Acusou o prefeito em exercício de não fazer mais reuniões de secretariado e nem controlar as metas de governo. “A única meta dele é cassar o Jairo Jorge”, completou Emílio, em conversa com o blog, depois da sessão.
A relação dos dois já tinha ficado ‘esquisita’ no final do ano passado, especialmente durante os episódios da escolha do presidente da Câmara e do arquivamento do pedido de impeachment contra JJ. Emílio foi apontado por um grupo de vereadores de ter endossado a mudança de voto das então duas vereadoras petistas, Vani Piovesan e Maria Eunice, e depois ter voltado atrás. O partido havia assegurado o voto em Cris Moraes (PV) ainda no acordo firmado em 2020. Durante a tarde da eleição, quando o voto deveria ser efetivamente dado, o nome de Emílio, então secretário de Relações Institucionais, surgiu como o fiador de um rompimento que daria a presidência em 2023 para Alexandre Gonçalves (PDT), nome ligado à oposição a Jairo Jorge e tido como mais favorável a um eventual processo de impeachment.
Emílio nega. “Nedy me pediu para que o PT votasse na abertura do impeachment. Eu disse que não faria e que, se estivesse na Câmara, votaria contra”, revela. A manobra em torno da candidatura de Alexandre restou esvaziada e, na eleição, Cris foi eleito por unanimidade. Na semana seguinte, aconteceu o mesmo com o pedido de impeachment, só que ao contrário: restou rejeitado com apenas o voto favorável de Juares Hoy (PTB). “Para ele, houve uma quebra de confiança”, conta Emílio. Dias depois, o vereador foi exonerado. “Até hoje, sem explicação alguma da parte do prefeito em exercício”.
Em meados de janeiro, assessores ligados a Emílio e Cris Moraes foram demitidos do governo. Cris, inclusive, aproveitou um pronunciamento após a sessão extraordinária para informar que também não recebeu explicações por parte do chefe do executivo. Para Emílio, o movimento decidiu o caminho de seu mandato daqui para frente. “Não falo em nome de todo o PT, falo por mim: daqui para frente, todas as sessões vou denunciar o que há de errado no governo. Nedy é o homem da canoa furada: quem estiver perto, afunda junto ou tem que nadar muito bem para se salvar”.