RODRIGO BECKER

Rodrigo Becker é jornalista e escreve sobre política, negócios e cidade diariamente neste espaço.

CANOAS | A conversa com Lula que pode melar a indicação de Nelsinho Metalúrgico para Trensurb

Presidente conversou com 'concorrente' do canoense e pode indicá-lo para presidência do trem no final do mês de fevereiro

Surgiu o primeiro entrave ou obstáculo à indicação de Nelsinho Metalúrgico à presidência da Trensurb S.A., empresa que administra a linha gaúcha do trem metropolitano. E não é qualquer obstáculo: trata-se um ‘amigo’ de Lula, alguém para quem o presidente ‘deve um favor’, por assim dizer. Nelsinho, ainda tido como o ‘ficha 1’ do partido, conta com a articulação do ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, para chegar ao posto e já esteve em Brasília recentemente se inteirando de questões relativas ao trem no Minsitério das Cidades. Acontece que um ‘concorrente’ de peso também foi a Brasília em janeiro – e aproveitou para ter uma conversa direta com o presidente.

O ‘amigo’ de Lula, neste caso, é Fernando Marroni, deputado estadual do PT gaúcho não reeleito em 2022. O nome dele consta de uma lista de indicações do partido que trafega entre as mesas de Paulo Pimenta, o ministro da Secretaria de Governo, Alexandre Padilha, e o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa. A especulação da semana dava conta de que Marroni teria preferência pela direção da Cietec, uma empresa federal de ciência e tecnologia que desenvolve e produz circuitos integrados na Zona Sul de Porto Alegre. O governo Bolsonaro pôs a empresa em liquidação mesmo que em 2019 ela tenha atingido a marca de 110 milhões de chips produzidos e 154% de aumento na produção comparada a 2012. A Cietec tem contrato com empresas de logística e pedágio, com empresas de cartões e meios de pagamento e desenvolveu para a Polícia Federal os chips que estão sendo integrados aos passaportes brasileiros. A perspectiva é de que, no governo Lula, a ideia de se desfazer da companhia fatiando seus ativos seja revista e, até, engavetada. A atual equipe de liquidação, responsável pelo comando da empresa, é encabeçada por Abílio Eustáquio Andrade Neto, oficial da reserva da Marinha, acusado de ter recebido indevidamente executivos de empresas interessadas na compra de equipamentos da Cietec para produção de semicondutores em área estratégica e de acesso restrito da companhia. Abílio desmente, mas o caso ensejou um ordem do Tribunal de Contas da União para suspender a liquidação, no final de 2021.

Talvez por conta deste ou de outro imbróglio ainda não esclarecido, Marroni parece ter voltado suas atenções para a Trensurb. Em Brasília, ele participou de um evento com a presença de Lula e deu um drible nas discussões políticas sobre o comando do trem. Lá tiveram a chance de uma rápida conversa em que o deputado estadual teria aberto sua preferência ao presidente da República. Lula e Marroni já se conhecem a tempos. O gaúcho foi deputado federal durante o governo do sindicalista e, em 2000, ambos protagonizaram um infame vídeo em que Lula diz que a cidade de Pelotas, onde Marroni disputava a eleição para prefeito naquele ano, era um ‘polo exportador de veados’, em tom de brincadeira. O vídeo repercutiu negativamente no país inteiro num momento em que se começava a discussão sobre direitos civis homossexuais e Lula chegou a pedir desculpas ao povo pelotense pelo ocorrido. No fim, Marroni venceu a eleição, mas Lula ficou lhe devendo uma.

“Tá tudo bem contigo, companheiro Marroni?”, teria perguntado Lula, no recente encontro em Brasília. “Tudo, presidente, mas a minha indicação para a presidência do trem lá no Rio Grande do Sul ainda não foi confirmada”, respondeu. “Fica tranquilo, companheiro. Se esse é o teu desejo, o governo vai encaminhar.”

O blog não pode garantir que as palavras de Marroni e Lula tenham sido exatamente essas – mas, se foram, o assunto está resolvido. O prazo para indicação oficial do novo presidente da Trensurb deve ser finalizado no final do mês de fevereiro, quando o Conselho de Administração da estatal se reúne, em Brasília. O conselho deve aprovar os nomes indicados pelo governo que se submetem, ainda, à uma verificação de segurança feita pela Abin e pela Polícia Federal.

Em tempo: o MDB, aliado do Planalto mas parceiro do bolsonarismo aqui no Estado, corre por fora: Eliseu Padilha, o ex-todo-poderoso ministro de Michel Temer, sempre manteve ascendência sobre os rumos da Trensurb. Foi ele quem reivindicou o cargo e fez Paulo Pimenta pensar, adiando uma decisão política sobre o assunto por mais algumas semanas. Aguardemos.

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