O ‘gambito’ é uma jogada do xadrez em que um dos participantes oferece um peão para romper a proteção central do adversário. O plano é organizar rapidamente um ataque eficiente. Com a impressão ingênua de uma vantagem, em geral o adversário parte para cima e só mais adiante percebe que se antecipara indevidamente. Esse é o gambito. Na roça, também diríamos ‘que o primeiro milho é dos pintos’, na mesma ótica de que mostrar que por vezes a vitória preliminar não é a que vale dos três pontod do jogo do campeonato.
Lembrei do ‘gambito’ não porque seja um grande enxadrista, o que não sou, mas porque a política muitas vezes é comparada a um sofisticado jogo de estratégia. Costuma ir mais longe quem melhor dormita a paciência. A aprovação do projeto de reforma administrativa tal e qual fora enviada pelo governo, com todas as suas polêmicas, tem um compromissário: Nedy de Vargas Marques.
Na semana em que o projeto foi devolvido pelo presidente da Câmara, Cris Moraes (PV), Nedy viu a oportunidade do ‘gambito’ em questão: assumiu pessoalmente as conversas de articulação da base aliada na Câmara e usou a derrota inicial a favor da unidade de ação da maioria. Com 18 em plenário, sabia que não podia perder e não perdeu. Conversou com vereadores, ouviu deles o que pensavam que poderia ser feito e sugeriu uma costura importante, determinante, diria: a de que era preciso anular o ato do presidente que devolveu o projeto ao governo.
Ao aprovarem a anulação do ato, a base se empoderou. Se o parlamento é o império da maioria, a maioria em Canoas estava se fazendo valer. A tática de mudar o ânimo garantindo uma vitória deu certo e a base encarou a aprovação da reforma sem novos percalços. Até a extinção do CanoasTec passou com duas emendas de Jefferson Otto (PSD) e Emílio Neto (PT) derrubadas pelo mesmo placar elástico: 18 a 2.
A tática da unidade da base deve se repetir nas próximas sessões uma vez que o governo é o principal interessado que a pauta flua. O ‘gambito’ de Nedy pôs em ‘ataque descoberto’ as expectativas da oposição. A manterem-se as condições políticas, pode até vir um ‘xeque-mate’ por aí.