Jefferson Otto (PSD) não é mais base do governo Nedy de Vargas Marques. O vereador e sobrinho do prefeito afastado Jairo Jorge anunciou na quinta-feira, 2, posição de independência. Na prática, é um rompimento velado. Em política, dizer que está independente em geral é tido como um salvo-conduto auto-concedido para votar como quiser, posicionar-se como quiser e, eventualmente, até estar com o governo em uma pauta aqui e outra ali.
A bem da verdade, Otto já vinha destoando da gestão Nedy desde o ano passado, quando ainda era líder do governo na Câmara. Reclama que não era chamado para discutir os projetos, apenas para submetê-los ao plenário. Após a fracassada tentativa de impeachment contra Jairo Jorge, nas últimas sessões de 2022, o clima piorou. Otto entregou a liderança e no início do ano legislativo, engrossou o canto da oposição, ao lado de Emílio Neto (PT), hoje o principal algoz do paço na tribuna do parlamento.
Se todo o ponto de vista é a vista de um ponto, do ponto onde vejo a política não consigo deixar de considerar que Jeffeson Otto está certo e muito errado na posição que adota. Vejamos: romper com o governo é uma opção, mas não parece válida especialmente para quem faz parte do PSD. O partido, no frigir dos ovos, elegeu o prefeito e vice em 2020. Fez campanha para esta chapa que, agora rompida, implica em um comportamento irreconciliável. A vitória de Jairo e Nedy, seja quem for o prefeito da ocasião, é também uma vitória deste grupo político formado, inclusive, pelo PSD. Abandonar o barco é mais fácil no discurso, portanto; na prática, significa abrir mão da vitória de 2020 – o que o PSD reluta, por motivos legítimos, em fazer. Nesse ponto, Otto independente é um acerto.
Por outro lado, de ‘aliado’ a ‘independente’ me parece um passo para o lado. Como o marido que numa briga com a mulher e ameaça ir embora, mas só consegue se pôr à porta: ‘ó, tô indo, viu?’. Meios termos, em política, costumam ser a manjedoura dos mal-entendidos.