Instituições se unem contra o tabaco no metrô de São Paulo

Em 31 de maio, as Sociedades Brasileira e Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SBPT e SPPT), em conjunto com a Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD) e a Coordenação Estadual de Tabagismo da Secretaria de Saúde de São Paulo (Cratod), promoverão a campanha do Dia Mundial Sem Tabaco nas estações de metrô de São Paulo (SP). A campanha acontecerá das 10h às 16h, nas estações Paraíso, São Joaquim e Ana Rosa do metrô paulistano. A concessão do espaço foi um convite do programa Metrô Social, desenvolvido pelas concessionárias ViaQuatro e Via Mobilidade. 

O objetivo é disseminar informações e dados científicos recentes que apontam os malefícios dos cigarros e dos cigarros eletrônicos para a saúde. Especialistas e estudantes estarão disponíveis para orientar os passageiros e disponibilizar materiais de campanha com foco na educação do público jovem.

Cigarro eletrônico: cenário no Brasil 

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) revelou que, em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico, sendo que 13,6% tinham entre 13 e 15 anos de idade e 22,7% tinham 16 e 17 anos de idade. Os maiores índices de experimentação do cigarro eletrônico foram nas regiões Centro-Oeste (23,7%), Sul (21,0%) e Sudeste (18,4%). ¹ 

A importação, propaganda e venda de Dispositivos Eletrônicos Para Fumar (DEFs), que incluem cigarros eletrônicos e cigarros de tabaco aquecido, são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme disposto na Resolução n. 46, de 28/08/2009. Em 06/07/2022, a Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou, por unanimidade, o Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) sobre os DEFs. O AIR indica a necessidade de se manter a proibição e adotar medidas adicionais para coibir o comércio irregular desses produtos, com aumento das ações de fiscalização pelas Vigilâncias Sanitárias Municipais e a realização de campanhas educativas. 

No documento, a equipe técnica da Anvisa reúne os resultados e informações colhidas durante a Tomada Pública de Subsídios (TPS), realizada entre abril e junho de 2022, e registra o impacto de uma provável regulação, propondo os cenários de atuação e subsídios para a tomada de decisão. O AIR é o documento que antecede a proposição de uma norma específica pela Anvisa. Portanto, o processo regulatório ainda não chegou ao fim. É provável que a Diretoria da Anvisa ainda decida pela abertura de uma Consulta Pública sobre a liberação ou não dos DEFs. 

No Dia Mundial Sem Tabaco 2023, os pneumologistas enfatizam que os níveis de toxicidade dos cigarros eletrônicos são tão prejudiciais como os do cigarro convencional. Apesar de não haver combustão, alcatrão ou monóxido de carbono, há liberação de formaldeído, acetaldeído, acroleína, material particulado (MP) fino e ultrafino, altas concentrações de nicotina, quase 2 mil substâncias tóxicas, muitas delas, cancerígenas, além de riscos específicos desses produtos, como a inalação de metais pesados provenientes do filamento aquecido desses dispositivos.² 

Diversos estudos já comprovaram que os DEFs podem causar lesões pulmonares conhecidas como EVALI (E-cigarette or vaping use-associated lung injury), além de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), aumento do risco de ter câncer de pulmão e aumento de 42% de chance de ter infarto agudo do miocárdio, por exemplo. Além disso, o uso do cigarro eletrônico aumenta em 4 vezes o risco daquele usuário se tornar fumante de cigarro convencional.³ 

Ainda assim, a indústria ludibria a população com o discurso de que seria possível reduzir ou cessar o uso de cigarro convencional substituindo-o pelo cigarro eletrônico. Pesquisas comprovam que pessoas que tentaram parar de fumar cigarro convencional utilizando cigarros eletrônicos tiveram 28% menos chance de sucesso do que os que não utilizaram esses dispositivos. 4,5 

Além disso, no dia 30/05/2023, às 19h, a SBPT realizará o Encontro Virtual Especial sobre Tabagismo para profissionais da saúde, com pneumologistas das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do país. As aulas apresentadas serão: “Atualização dos aspectos genéticos do tabagismo”; “Tratamento do tabagismo na mulher”; “Tabagismo e insegurança alimentar” e “Malefícios respiratórios dos cigarros eletrônicos”. O debate será gratuito, via zoom. 

Dia Mundial Sem Tabaco: 31 de maio 

O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. Um dos focos da campanha de 2023 é chamar a atenção para o impacto ambiental e social das lavouras de tabaco. Com o slogan “We need food, not tobacco”, a OMS ressalta que o cultivo de tabaco ocupa 3,5 milhões de hectares e desmata 200.000 hectares por ano, diminuindo a área agriculturável para alimentos. 

Segundo a OMS, o uso do tabaco é fator de risco para as quatro principais Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) no mundo: doença cardiovascular, doença respiratória crônica, câncer e diabetes. Estima-se que a mortalidade atribuída especificamente ao tabaco é de 12% em todo o mundo e de 16% nas Américas. 

Referências

 ¹Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101852.pdf. Acesso em 23 abr 2023. 

²Prasse, C. et al. Characterizing the Chemical Landscape in Commercial E-Cigarette Liquids and Aerosols by Liquid Chromatography-HighResolution Mass Spectrometry. Chem. Res. Toxicol. 2021. ³Temesgen N et al. GW Annual Research Days. 2017. 

⁴Kalkhoran S, Glantz SA. E-cigarettes and smoking cessation in real-world and clinical settings: a systematic review and metaanalysis. Lancet Respir Med. 2016. 

⁵Corrêa PCRP. No controversy: e-cigarettes are not a treatment for tobacco/nicotine cessation. J Bras Pneumol. 2022

Texto originalmente publicado em: sbpt.org.br

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