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Acusada de matar o fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni, Paula Caroline Ferreira Rodrigues, está sendo julgada no Fórum de Canoas nesta sexta-feira (15). O júri que começou às 10h30 não tem previsão de conclusão.
Em pouco mais de duas horas de depoimento, descontando a parada para almoço, Paula iniciou contando que conheceu – condenado pela morte do fotógrafo em 2020 – aos 13 anos. “Eu não tinha noção nenhuma de quem era o Juliano. Ele sempre falou que era um empresário e eu só soube ao longo do tempo quem era ele”, relata.
Além disso, contou que viveu um relacionamento abusivo, com ameaças, tortura emocional e extrema violência. “Nós vivíamos uma vida cheia de festas e, todas as vezes que a gente saia, eu acabava apanhando.”
Tentativa de término
Paula comentou que tentou por, diversas vezes, terminar o relacionamento com Biron. “Ele falou para minha mãe que não iria deixar eu viver minha vida e que ele me amava mais do que amava os filhos dele”, pontua ao dizer que ao longo dos anos, descobriu o que o namorado fazia. “Eu vivi sete anos da minha vida com ele.”
Uma das tentativas de separação, conforme a ré, ocorreu na época em que uma irmã dela completou 15 anos. Na festa, segundo Paula, ela conheceu Gustavo que estava trabalhando como fotógrafo. “Ele viu que eu passei o dia chorando e me questionou o que tinha acontecido. Eu contei que vivia com um monstro e ele disse para curtir a festa e me distraiu mostrando as fotos que fez na festa”, relata ao ressaltar que, no mesmo dia, a vítima teria salvo o número dele no celular dela. “Eu não cheguei a entrar em contato com ele.”
Dias após a festa, ela teria ido até a empresa em que Gustavo trabalhava para resolver questões ligadas ao serviço prestado durante a festa. No local, ela teria sido questionada por ele: “porque você não me chamou? Aí eu disse que precisava terminar o relacionamento.”
Envolvimento com Gustavo
De acordo com Paula, a festa teria ocorrido em outubro e, em novembro, eles acabaram se encontrando. “Eu me envolvi com o Gustavo de novembro até acontecer o fato”, pontua ao dizer que teria dito ao jovem com quem ela mantinha relacionamento e que, para conseguir manter contato e despistar Biron, trocou de celular com a irmã. “Ele sabia que eu era casada com uma pessoa do crime e que eu tinha uma vida conturbada.”
Dia do crime
No depoimento, Paula relatou que chamou Gustavo para se despedir porque estava planejando se mudar para São Paulo. “Eu não estava esperando o Juliano nesse dia. Ele não morava mais comigo. Eu só tinha que estar no apartamento dele. Eu chamei o Gustavo para me despedir, conversar, porque eu estava com saudade dele. Eu não tinha a pretensão de me encontrar com ele.”
Após iniciar a conversa com a vítima, a ré teria se surpreendido com a chegada de Juliano. “Eu esqueci de mudar a configuração do celular para ocultar as notificações. Ele entrou no apartamento e o telefone estava carregando. Nesse momento, chegou uma mensagem do face. Juliano se exaltou e eu me desesperei.
Paula segue o relato afirmando que Biron não sabia, até então, que ela estava se relacionando com Gustavo. “Ele segurou minha mão forte para abrir o celular, desbloqueou e começou a ler as mensagens. Nesse momento eu caí no chão, porque sabia que não tinha mais volta”. Nesse momento, há uma pausa no depoimento, porque a ré se emociona e começa a chorar relatando que teria sido agredida com uma coronhada nesse dia.
Encontro marcado
“Ele me ameaçou e mandou ligar para Gustavo. Eu implorei para que ele não fizesse nada e o Biron me mandou escolher: ou fazia o que ele estava mandando ou ele mataria toda a minha família. Eu não tinha dúvida que ele era capaz de fazer isso”, afirma Paula.
Em seguida, a ré começa a detalhar a dinâmica do crime: “Ele me mandou vestir uma roupa dele, ficar de cabeça baixa e não olhar para as câmeras. Quando a gente saiu do prédio, eu lembro que tentei me jogar para fora do carro. O Juliano me puxou de volta dizendo para não fazer nada que ele ia matar minha família. Ele veio dirigindo até Canoas, parou no posto de gasolina, fez eu sair do banco do carona e ir para o do motorista. Eu não lembro se liguei de novo para o Gustavo, mas eu dirigi e parei na frente de uma praça. Ele [Gustavo] apareceu e eu, de capuz, olhei para ele [Gustavo] que, desceu do carro, entrou na carona, e o Juliano apontou a arma dizendo para Gustavo não correr que se não, ele [Juliano] ia atirar.”
Após Gustavo entrar no carro, Paula contou que eles ingressaram na Tabaí e ficaram andando de carro. “Ele perguntou para o Gustavo como a gente se conheceu e ficou fazendo perguntas ridículas que nem ele [Gustavo] e nem eu sabíamos mais como responder. Três voltas na Tabaí e na BR-448, Gustavo já cansado das perguntas do Juliano perguntou o que ele [Juliano] iria fazer. Biron disse que ia matar nós dois. Nesse momento, Gustavo se jogou do carro e eu me assustei e acabei freando. Biron achou que eu ia reagir e me deu uma coronhada. Tenho a marca dela até hoje. Ele [Juliano] assumiu a direção do carro, deu a volta e parou na frente do corpo do Gustavo. Ele [Juliano] me forçou a ver, mas eu não queria. Até que Biron me puxou pelos cabelos e começou a disparar contra Gustavo. Ele [Juliano} descarregou a arma nele {Gustavo]. Eu só escutei os disparos.
O que fizeram após o crime?
De acordo com Paula, após deixarem o corpo de Gustavo no local, ela e Juliano retornaram para o apartamento em Porto Alegre. “Nós voltamos para casa e ele [Juliano] trancou todo o apartamento com medo que eu tentasse algo contra minha vida e dormiu ao meu lado como se nada tivesse acontecido.”
Horas após o crime, conforme a ré, eles foram para Santa Catarina. Ela teria ficado em um apartamento e ele em outro. “Ele me disse que eu nunca poderia me entregar”, afirma ao relatar que ficou sem entrar em contato com a família. “Juliano me deixou sem falar com a minha família por alguns meses. Só deixou eu falar com a minha mãe, depois que ela ameaçou registrar ocorrência sobre o meu desaparecimento. Enquanto isso, ele seguiu vivendo a vida com a esposa e outras mulheres dele. Ele passou a virada do ano no Rio de Janeiro”.
Prisão
Biron e Paula foram presos em Balneário Camboriú no inicio de 2016. “Quando ele foi preso, ele estava com outra mulher no outro apartamento que ele tinha lá. Quando a polícia pegou ele, Juliano contou onde eu tava”, pontua ao afirmar que: “nunca foi uma opção minha ficar em silêncio todos esses anos.”
Ainda, durante o depoimento, a ré relata que nunca pode falar sobre o crime. “Eu lamento muito o que aconteceu. Eu não tive o que fazer. Eu nunca pude falar em minha defesa. Eu só estou podendo falar hoje, porque não ofereço risco para a condenação dele.”
Relembre o caso
Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios, o crime ocorreu em 2015 por ciúmes, já que a vítima teve um relacionamento com Paula, que na época era companheira de Juliano Biron da Silva, líder de facção. A polícia afirma que o fotógrafo foi torturado antes de ser morto com cerca de 19 tiros.
A reportagem da Agência GBC tenta contato com a defesa de Juliano Biron, mas ainda não obteve retorno.