Guajuviras completa 37 anos de uma luta histórica por moradia em Canoas

Toda a estrutura e serviços públicos disponíveis hoje à comunidade marcam a evolução de uma ocupação que começou em 17 de abril de 1987, data que deu origem ao nome da avenida principal do bairro

Guajuviras completa 37 anos de uma luta histórica por moradia em Canoas. Quem chega ao bairro localizado no quadrante Nordeste de Canoas, não imagina que aquele local tem sua história marcada pela luta por moradia e condições mínimas à dignidade humana. As escolas, unidades de saúde, praças, pavimentação, transporte público e saneamento já foram um sonho para os moradores da região. Toda a estrutura e serviços públicos disponíveis hoje à comunidade marcam a evolução de uma ocupação que começou em 17 de abril de 1987, data que deu origem ao nome da avenida principal do bairro.

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Guajuviras completa 37 anos de uma luta histórica por moradia em Canoas

Os anos da década de 1980 foram marcados pela luta por moradia e emprego. Época em que muitas ocupações ocorreram em diversas regiões do Brasil, e grupos de Frentes de Trabalho iam sendo criados na busca por qualidade de vida. O cenário não era diferente em Canoas: a ocupação do bairro Guajuviras, onde ficava o conjunto habitacional Ildo Meneghetti, surgiu através da necessidade de moradia que assolava a população naquela época.

A área onde fica o bairro foi desapropriada, em 1972, pelo Governo do Estado. Em 1979, a Companhia de Habitação do Estado do Rio Grande do Sul (Cohab) aprovou junto ao Município o projeto do conjunto habitacional Ildo Meneghetti e iniciou as obras de 6.400 moradias. Porém, em 1984, a Cohab já não estava mais dando conta das obras, e a construção das moradias acabou abandonada.

Cenário político e econômico

O período marcava o fim do regime militar no Brasil, e o cenário econômico do país sofria com a inflação, que tirava o poder de compra dos trabalhadores. Os recursos públicos eram mínimos e não davam conta de subsidiar grandes obras, como os conjuntos habitacionais do Guajuviras, em Canoas, e do Rubem Berta, em Porto Alegre. As construções já sofriam a ação das intempéries e, abandonadas, viam o país submergir ao fracasso do Plano Cruzado e ao fechamento do Banco Nacional de Habitação (BNH) – que poderia subsidiar os recursos para conclusão das obras.

Em 1987, Canoas enfrentava um déficit de moradias, com aluguéis cada vez mais difíceis do trabalhador pagar, e contava com um conjunto habitacional abandonado e inacabado. A cidade tinha indústrias e passou a ter oportunidades de emprego, mas faltava lugar para esses trabalhadores morarem. Foi então que no dia 17 de abril de 1987, uma Sexta-Feira Santa, após muitas reuniões com movimentos sociais e organização, ocorreu a ocupação das 5.924 moradias.

Moradia e dignidade

A partir dessa data, muitas batalhas foram enfrentadas, com resistência e resiliência. Não se tratava apenas de moradia, mas da busca por dignidade. Um grupo de canoenses, com origem no município, mas também de cidades do interior, que vieram para Canoas em busca de trabalho, marcou a história da cidade ao produzirem uma das maiores ocupações populares de Canoas e do Sul do Brasil. Na época, a cidade também dava início a outras ocupações, como a Santo Operário, no bairro Harmonia; União dos Operários e Vila Natal, no bairro Mathias Velho.

Personagens da ocupação

Aquela ocupação de quase seis mil moradias, hoje se reflete em mais de 41 mil moradores, conforme dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, e resultou na política habitacional de regularização fundiária, que até o momento já conta com mais de dois mil lotes regularizados.

Isso é reflexo da luta de muitas lideranças que não desistiram diante dos desafios que surgiam pelo caminho. Depois da ocupação, a luta não parou, muitos salientam que foi quando, de fato, ela começou. Sem água e comida, não podiam voltar se saíssem do local. Quando alguém levava água ou alimento, a Brigada Militar (BM) impedia a entrada, seguindo a ordem que recebiam. Lideranças como Maria Aparecida Flores, a Cida; Antônio Vianna (in memorian), que tem seu nome em uma praça do bairro; Luiz Carlos da Conceição, o Bailarino, e Marcos Machado (in memorian) fizeram a diferença.

Organização para garantir o direito à moradia
Natural de Camaquã, Maria Aparecida Flores, a Cida, foi uma das lideranças que ocupou e colaborou com a organização do movimento. Ela chegou a Canoas na década de 1970 e morava em uma casa alugada no bairro Fátima. Integrante da Ação Católica Operária, sua atuação no movimento social da Igreja Católica foi importante no processo de ocupação do conjunto habitacional Ildo Meneghetti.

“A nossa ocupação foi muito organizada. Nós temos as quadras, que ainda organizam o bairro e, na época, cada quadra tinha um líder, que era escolhido pelos moradores daquela quadra. As reuniões eram feitas com todos os líderes, de todas as quadras. Eles eram os representantes dos demais moradores. Isso fazia com que todos os moradores soubessem de tudo que estava acontecendo. Essa organização permitiu que nós conseguíssemos ter o direito à moradia”, relembra Cida.

Manter o legado da história do bairro Guajuviras é um compromisso de Cida. “Todos os anos, no mês de abril, eu vou às escolas para conversar com as crianças sobre a história do bairro. Elas precisam saber da nossa história. Muitas não sabem o motivo da avenida 17 de Abril ter esse nome”, destaca.

Além de moradores, que foram líderes da ocupação, outras figuras também tiveram uma participação importante no processo. Alguns políticos como o senador Paulo Paim e vereadores da época; religiosos como o padre Armindo Cattelan, que foi pároco da Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, a primeira de Canoas, e o Irmão Marista Antonio Cecchin (in memorian), militante dos movimentos sociais, e o ex-procurador do Estado do Rio Grande do Sul, Jacques Távora Alfonsin, conhecido como o advogado das causas populares, também tiveram papel fundamental.

Crescimento da região

Com a luta das lideranças do bairro, muitas demandas foram conquistadas ao longo dos anos, entre elas: cinco escolas de ensino fundamental, cinco escolas de educação infantil, duas unidades de saúde, um equipamento cultural e 16 praças.

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