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09 de novembro de 2025

Câmara aprova projeto que pode dificultar aborto legal em crianças vítimas de estupro

Parlamentares derrubam resolução do Conanda que garantia diretrizes para acesso ao aborto legal por menores vítimas de violência sexual

Em uma votação marcada por forte polarização, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (5) um Projeto de Decreto Legislativo que suspende os efeitos da resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), publicada em dezembro de 2024. A norma estabelecia diretrizes para garantir o acesso de crianças e adolescentes ao aborto legal nos casos previstos pela legislação brasileira: risco de vida para a gestante, anencefalia fetal e gravidez resultante de estupro.

Com 317 votos favoráveis e 111 contrários, o projeto foi relatado pelo deputado Luiz Gastão (PSD-CE), coordenador da Frente Parlamentar Católica, e teve sua tramitação acelerada por meio de regime de urgência aprovado minutos antes da votação. A base governista se posicionou contra a proposta.

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O que dizia a resolução do Conanda

A resolução do Conanda buscava assegurar que crianças e adolescentes vítimas de violência sexual tivessem acesso à informação clara e segura sobre seus direitos, incluindo a possibilidade de interromper a gestação. O texto previa:

  • Autonomia da vítima para decidir sobre o aborto legal, mesmo sem o consentimento dos pais, quando houvesse risco de dano físico, mental ou social.
  • Acompanhamento por profissionais do Sistema de Garantia de Direitos durante todo o processo.
  • Descentralização dos serviços de aborto legal para ampliar o acesso em regiões remotas.
  • Proibição de constrangimentos, ameaças ou indução de culpa à vítima.

Segundo o Ministério das Mulheres, a medida respondia a um cenário alarmante: entre 2013 e 2023, mais de 232 mil meninas com até 14 anos deram à luz no Brasil — todas em idade inferior à do consentimento legal, o que caracteriza estupro de vulnerável. Em 2023, apenas 154 meninas conseguiram acessar o aborto legal.

Argumentos dos parlamentares favoráveis ao projeto

Deputados da oposição alegaram que a resolução do Conanda concedia “autonomia decisória completa” às crianças e adolescentes, dispensando a autorização dos pais. Para a deputada Chris Tonietto (PL-RJ), isso poderia levar a uma “submissão quase compulsória ao procedimento de aborto”, colocando em risco a vida da gestante.

Reação do governo

O governo federal, por meio dos ministérios das Mulheres, Justiça e Direitos Humanos, tentou barrar o avanço do projeto. Notas técnicas foram elaboradas para esclarecer que a resolução não criava novas hipóteses de aborto, mas apenas regulamentava o atendimento nos casos já previstos em lei. A mobilização contrastou com a posição da gestão Lula em dezembro de 2024, quando todos os representantes do governo no Conanda votaram contra a resolução.

Agora, com a aprovação do projeto, especialistas alertam para o enfraquecimento da atuação do Conanda e o risco de retrocesso na proteção de direitos fundamentais de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

Josué Garcia
Josué Garcia
Estudante de jornalismo e redator de SEO, Josué Garcia escreve sobre cotidiano.
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