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15 de novembro de 2025

Síndrome de pica: por que tem esse nome e como saber se você sofre do transtorno

Saiba por que a síndrome de pica tem esse nome e descubra se você sofre dessa condição. Veja detalhes na reportagem a seguir.

Muita gente já ouviu falar em alguém “comendo terra” ou “roendo papel” e pensou tratar-se apenas de uma esquisitice. Em alguns casos, no entanto, esse comportamento tem nome, diagnóstico e tratamento, e pode esconder problemas de saúde que precisam de atenção.

Não se trata de um hábito passageiro: a condição tem critérios clínicos e é reconhecida por manuais médicos importantes. Abaixo explicamos o que exatamente caracteriza a síndrome de pica.

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O que é a síndrome de pica (explicado de forma direta)

A síndrome de pica é um transtorno alimentar em que a pessoa ingere, de forma persistente por pelo menos um mês, substâncias não alimentares (como terra, gelo em excesso, papel, sabão, cabelo, giz, entre outros) em uma idade em que isso é considerado inapropriado ao desenvolvimento. Para ser classificada como pica, esse comportamento também não pode fazer parte de costumes culturais ou rituais da pessoa.

Um pouco de história e por que o nome é curioso

O termo pica vem do latim pica, que se refere ao pica-pau/pega (magpie), uma ave famosa por pegar objetos variados. Ao longo dos séculos, médicos e naturalistas usaram a palavra para descrever o comportamento humano de “comer de tudo”, e o termo acabou fixando-se na terminologia médica. A condição já era mencionada desde a Antiguidade e foi sistematizada em manuais modernos.

Por que isso acontece? (causas e associações)

A causa exata da pica não é totalmente compreendida, mas existem associações bem documentadas. Entre as mais comuns estão deficiências nutricionais, especialmente deficiência de ferro (anemia) e baixa concentração de certos minerais como zinco, além de estados como gravidez, transtornos do desenvolvimento (por exemplo, autismo), transtornos mentais (como transtorno obsessivo-compulsivo ou esquizofrenia) e situações de privação ou desnutrição. Em especial na gravidez, o aparecimento de cravings por gelo (pagofagia) e outras formas de pica costuma estar ligado à falta de ferro.

Como saber se eu tenho a síndrome de pica? (sinais práticos)

Considere procurar avaliação médica se por mais de um mês você tem:

  • Desejo repetido de ingerir substâncias não alimentares (terra, papel, sabão, gelo, etc.).
  • Consumo real dessas substâncias com frequência (não apenas curiosidade ocasional).
  • Esse comportamento não pertence ao seu contexto cultural (algumas práticas como comer argila em certas culturas exigem avaliação diferenciada).
  • E se o hábito já provocou ou pode provocar problemas físicos (anemia, dores abdominais, prisão de ventre, intoxicação, danos dentários, infecções).

Que exames e avaliações os médicos costumam pedir?

O diagnóstico é clínico (feito por entrevista e observação), mas os médicos frequentemente pedem exames de sangue para verificar: hemograma (anemia), ferro e ferritina, níveis de zinco e, em crianças que possam ter ingerido tinta ou solo, pesquisa de chumbo. Dependendo do material ingerido, há investigação de infecções ou danos gastrointestinais. Além disso, é comum encaminhar para avaliação psicológica/psiquiátrica para checar transtornos associados.

Tratamento: o que funciona?

O tratamento depende da causa. Quando a pica está associada à deficiência de ferro ou outros nutrientes, a correção laboratorial (suplementação de ferro, por exemplo) frequentemente reduz ou resolve o comportamento. Quando há componente psicológico (TOC, estresse, transtorno do desenvolvimento), intervêm psicoterapia, intervenções comportamentais e, em alguns casos, medicamentos. A abordagem é multidisciplinar: médico, nutricionista e psicólogo/psiquiatra.

Riscos que justificam atenção imediata

Ingestão de determinados materiais pode levar a envenenamento (ex.: tinta antiga com chumbo), obstrução intestinal, perfuração, infecções e anemia grave. Em crianças pequenas, o risco é ainda maior. Por isso, sinais como dor abdominal intensa, vômito persistente, febre ou alteração no nível de consciência exigem atendimento de urgência.

Onde buscar ajuda

Procure inicialmente seu clínico geral, pediatra (no caso de criança) ou ginecologista (no caso de gestante). Esses profissionais podem pedir os exames iniciais e orientar encaminhamentos a nutricionista, psicólogo ou psiquiatra. Em casos com risco de intoxicação, vá ao pronto-atendimento.

Fontes consultadas pela reportagem

  • MSD Manual / Pica (definição e critérios). msdmanuals.com
  • Cleveland Clinic — Pica: causas e tratamento. Cleveland Clinic
  • Mayo Clinic — relação entre pagofagia (roer gelo) e anemia; orientações gerais. Mayo Clinic+1
  • Estudo/NCBI sobre associação entre deficiência de ferro e pica na gravidez. PMC
  • Etymology Online — origem da palavra pica (do latim, magpie). etymonline.com
Guilherme Galhardo
Guilherme Galhardo
Estudante de jornalismo, apaixonado pela cultura POP, luta-livre, games, séries e filmes. Entusiasta de meteorologia e punk rocker nas horas vagas.
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