O avanço dos fenômenos naturais no RS colocou o Estado em estado permanente de alerta. Após a enchente histórica de maio de 2024, o governo estadual deu início, na última segunda-feira (15), a um projeto considerado estratégico para identificar riscos, mapear vulnerabilidades e apontar medidas capazes de reduzir o impacto de eventos extremos no futuro.
A iniciativa vai analisar a Região Hidrográfica do Guaíba, que abrange 252 municípios e concentra cerca de 60% da população gaúcha. O objetivo é claro: entender onde estão os maiores perigos e como evitar que novas tragédias se repitam.
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Área mais atingida pelos fenômenos naturais no RS
A região estudada corresponde a aproximadamente um terço do território do Estado e engloba nove bacias hidrográficas: Alto Jacuí, Pardo, Vacacaí, Baixo Jacuí, Taquari-Antas, Caí, Sinos, Gravataí e Guaíba.
Foi justamente essa área a mais devastada durante a enchente de 2024, considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Agora, o foco é transformar os dados em ações concretas de prevenção.
Projeto RioS entra em campo em meio a novo temporal
O pontapé inicial do projeto ocorreu enquanto a Região Metropolitana enfrentava mais um episódio de instabilidade. Um temporal com ventos próximos de 100 km/h atingia cidades da região, após alertas enviados pela Defesa Civil diretamente aos celulares da população.
No Palácio Piratini, o governador Eduardo Leite se reuniu com representantes do BNDES, que atua como parceiro técnico na estruturação do projeto. O banco já desenvolveu iniciativas semelhantes em outras regiões do país.
Estudo técnico e soluções para enfrentar eventos extremos
Conhecido como Projeto RioS, o trabalho contará com apoio de um consórcio formado por Deloitte, EBP, Climatempo e Mattos Filho. O grupo será responsável por estudos técnicos, modelagens e pela elaboração dos documentos finais.
A Secretaria da Reconstrução Gaúcha coordena o processo, que prevê análises detalhadas de níveis dos rios, topografia, ocupação do solo e riscos climáticos. A partir disso, será criada uma lista de obras e ações prioritárias para aumentar a resistência do Estado.
“Uma visão mais ampla de proteção vai nos ajudar a amarrar tudo isso dentro de uma grande estratégia de resiliência para o Estado, especialmente da região que mais foi afetada nos eventos climáticos de maio de 2024”, afirmou Leite, em declaração à GZH.
Decisões ficam para o próximo governo
Apesar do avanço técnico, a execução das medidas dependerá do próximo governo estadual. Isso inclui tanto obras estruturais quanto ações não estruturais, como mudanças em regras de ocupação do solo.
“Um novo governo entrará com continuidade ou lógica de mudança, mas é importante que o Estado não viva um eterno recomeço (…). Se o próximo governo for inteligente politicamente, não vai começar tudo do zero”, argumentou o governador, que não pode disputar a reeleição.
Adaptação climática vira prioridade nacional
A superintendente de Soluções para Cidades do BNDES, Luciene Machado, destacou que o trabalho no RS segue metodologia aplicada em outras regiões brasileiras.
“Adaptação (climática) é o desafio do momento, que, como banco de desenvolvimento, devemos apoiar”, afirmou.
A reunião também contou com a presença das secretárias de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, e da Reconstrução, Pedro Capeluppi.
O que o projeto vai entregar
Objetivo
Fortalecer a resiliência urbana e rural, reduzir riscos de desastres e promover desenvolvimento sustentável na Região Hidrográfica do Guaíba.
O que será feito
- Modelagem e avaliação de riscos climáticos
- Identificação de áreas vulneráveis
- Proposição de obras e ações prioritárias
- Criação de estratégias replicáveis em outras regiões
Etapas e prazos
1. Governança institucional – 1 mês e meio
2. Diagnóstico de riscos climáticos e socioeconômicos – 6 meses
3. Estratégia estadual de resiliência climática – 6 meses
4. Anteprojetos e planos de implementação – 4 meses
O investimento total é de R$ 30 milhões, financiados pelo Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), com prazo de entrega de 17 meses e meio.
Com o avanço dos fenômenos naturais no RS, o projeto surge como uma tentativa de transformar a dor recente em planejamento, prevenção e respostas mais rápidas diante de novas ameaças climáticas.

