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18 de abril de 2025

Após 40 anos com refluxo, homem descobre câncer de esôfago

Ele lidou com azia e queimação no estômago por quase 40 anos

Embora esteja entre os 10 tipos de câncer mais comuns no Brasil, o câncer de esôfago ainda recebe menos atenção do que outros tumores. Um de seus principais fatores de risco é o refluxo gastroesofágico — uma condição digestiva bastante comum, mas que nem sempre é inofensiva.

Foi o que descobriu Georges Michel Sobrinho, de 82 anos, morador de Brasília. Ele conviveu por décadas com sintomas como azia e acidez estomacal. “Tomei remédio a vida inteira para conter essa questão do refluxo e da azia”, conta o jornalista aposentado.

No início de 2024, ele percebeu que algo estava errado. “Comecei a sentir que, ao engolir, parecia que a comida não descia bem”, lembra.

O que é o refluxo gastroesofágico?

O refluxo ocorre quando o conteúdo do estômago retorna de forma involuntária para o esôfago. Isso acontece por uma falha no esfíncter esofágico inferior, uma válvula que separa o estômago do esôfago e impede esse retorno.

Os sintomas mais comuns são azia, queimação no peito, náuseas, dor no estômago, regurgitação e engasgos. Entre os fatores de risco estão o excesso de peso, alimentação inadequada, consumo de álcool, cafeína, refrigerantes e o tabagismo.

O tratamento geralmente envolve mudanças no estilo de vida, como perder peso, fracionar as refeições, evitar líquidos durante as refeições, restringir certos alimentos e evitar se deitar logo após comer.

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O diagnóstico de Georges

Georges procurou diversos médicos, mas todos recomendavam o uso contínuo de medicamentos para reduzir a acidez estomacal, sem melhora nos sintomas. A virada aconteceu em uma consulta com um cardiologista, que questionou sobre as fezes escuras. “Ele suspeitou de uma hemorragia e recomendou uma endoscopia”, relata Georges.

O exame revelou um tumor de 5 cm no esôfago, confirmado por um PET scan — exame de imagem que identifica áreas com alta atividade metabólica, como as células cancerosas.

Enfrentando o tratamento de câncer de esôfago

Georges iniciou o tratamento com 25 sessões de radioterapia e cinco de quimioterapia. Embora o tumor tenha diminuído, a cirurgia ainda era necessária. No entanto, aos 81 anos, ele enfrentou a recusa de vários médicos. “Diziam que era arriscado demais operar, que o melhor seria seguir com quimioterapia. Mas eu queria resolver”, conta.

Determinando, ele foi a São Paulo, onde se submeteu a uma cirurgia robótica de oito horas. A recuperação surpreendeu: “Fiquei 12 dias no hospital, sem nenhuma dor, nem mesmo no pós-operatório”, afirma.

A técnica usada foi a cirurgia robótica, minimamente invasiva, realizada por pequenas incisões. “Esse sistema permite ao cirurgião operar com mais precisão e controle, sendo especialmente indicado em casos avançados de câncer gastrointestinal”, explica o cirurgião Flávio Takeda, da Rede D’Or, responsável pelo procedimento.

Durante a cirurgia, parte do esôfago foi removida, incluindo o esfíncter inferior. Com isso, Georges ainda tem episódios de refluxo, mas sem sentir azia. “Hoje como de tudo, até pimenta. Em maio completa um ano da cirurgia e está tudo bem”, comemora.

Refluxo pode evoluir para câncer de esôfago

Segundo o Dr. Takeda, cerca de 20% dos casos de câncer de esôfago têm relação com o refluxo crônico. Um fator de risco importante é o esôfago de Barrett — condição em que o revestimento do esôfago muda em resposta à inflamação constante, podendo evoluir para alterações pré-cancerígenas.

“O corpo tenta se proteger da acidez, mas essas adaptações celulares podem aumentar o risco de câncer com o tempo”, explica o médico.

O esôfago é o canal que liga a boca ao estômago, e o esfíncter na base deve se fechar após a passagem do alimento. Hábitos ruins, como má alimentação, obesidade, tabagismo e consumo de álcool, podem prejudicar esse mecanismo, permitindo que o ácido gástrico agrida a parede do esôfago. Com o tempo, essa agressão contínua pode causar alterações celulares e predispor ao câncer.

“Nem todo mundo com refluxo vai desenvolver câncer, mas é um fator de risco importante”, alerta Takeda.

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