Da redação | Entre as penas aplicadas aos quatro réus pela morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, cinco anos após o crime, as maiores foram as proferidas ao pai de Bernardo, Leandro Boldrini, e à madrasta do menino, Graciele Ugulini.
O julgamento, que começou na segunda-feira (11), no Fórum de Três Passos, se encerrou nesta sexta-feira (15) com a leitura da sentença pela juíza Sucilene Engler. Os promotores de Justiça Bruno Bonamente, Ederson Vieira e Sílvia Jappe atuaram na acusação. Eles pediram a pena máxima para Leandro e Graciele. “Esperamos que eles terminem a vida deles na cadeia”, afirmou Ederson Vieira.
Leandro foi condenado a 33 anos e 8 meses de prisão em regime fechado. Do total, 30 anos e 8 meses por homicídio, 2 anos por ocultação de cadáver e 1 ano por falsidade ideológica. Na leitura da sentença, foi citada a personalidade dissonante, perversidade e o crime premeditado.
Já Graciele pegou 34 anos e 7 meses de reclusão em regime fechado. Do total da pena, 32 anos e 8 meses são por homicídio e 1 ano e 11 meses por ocultação de cadáver. No caso da madrasta, a juíza salientou a frieza emocional, falta de sensibilidade e dissimulação e confissão da ocultação do corpo de Bernardo.
A assistente social Edelvânia Wirganovicz foi condenada a 23 anos de reclusão, dos quais, 21 anos e 4 meses pelo homicídio e 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver.
Para Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, a pena total fixada foi de 9 anos e 6 meses, sendo 8 anos por homicídio simples e 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver.
Denúncia
Para o Ministério Público, Leandro Boldrini foi o mentor intelectual do crime. Ele e a companheira Graciele Ugulini não queriam dividir com Bernardo a herança deixada pela mãe dela, Odilaine (falecida em 2010), e o consideravam um estorvo para o novo núcleo familiar. O casal ofereceu dinheiro para Edelvânia Wirganovicz ajudar a executar o crime.
Bernardo, não sabendo do plano, aceitou ir, em 4 de abril de 2014, até Frederico Westphalen com a madrasta para ser submetido a uma benzedeira. O menino acabou morto por uma superdosagem de Midazolan. Seu corpo foi enterrado em uma cova vertical, aberta por Evandro Wirganovicz.
Depois de matar e enterrar o filho, para que ninguém descobrisse o crime, Leandro Boldrini teria feito um falso registro policial do desparecimento de Bernardo.
Crime
De acordo com a acusação, a morte de Bernardo foi planejada com antecedência. O Promotor de Justiça Bruno Bonamente apresentou parte do depoimento de uma testemunha, amiga de Graciele, procurada por ela em janeiro de 2014. A amiga relatou que a madrasta contou que Bernardo era esquizofrênico e um estorvo para a família. Graciele ainda disse à amiga: “Como diz o Leandro, esse guri só embaixo da terra ou no fundo do poço.” A amiga tentou dissuadi-la de fazer algo contra o enteado.
Graciele, então, procura outra amiga, Edelvania, com quem morou junto no passado. É a Assistente Social que confessa o crime e aponta onde o corpo foi enterrado. O MP afastou a alegação de Edelvania de que foi coagida pela Polícia para confessar o crime, mostrando imagens do primeiro depoimento dela à Delegada Cristiane Moura.
Na quarta-feira, 2 de abril de 2014 (dois dias antes do homicídio), Graciele teria dado à Edelvania o kit de Midazolan, retirado da clínica de Leandro Boldrini com autorização dele. Uma superdosagem do medicamento foi utilizada no menino. Nesse mesmo dia, as duas compraram as ferramentas para abrir o buraco.
A cova de Bernardo foi aberta por Evandro também na quarta-feira à noite. No dia seguinte, Edelvania vai verificar o local. Na sexta, dia do crime, Graciele e Leandro começam a executar o crime.
Dissimulação
A trama foi planejada para induzir o menino a acreditar que iria ser levado para ver uma benzedeira para ficar mais calmo. A acusação mostrou imagens das câmeras de um posto de gasolina localizado ao lado do prédio onde Edelvânia morava. É possível ver o menino andando normalmente. “Naquele momento em que ele sai do carro da Graciele e entra no de Edelvânia, ele não está grogue. Ele está bem. Eles seguem para a morte.”
Ocultação
Após matar, enterrar e ocultar o cadáver, Graciele entrou em uma loja de eletroeletrônicos e comprou uma televisão. O MP mostrou as imagens do circuito interno do estabelecimento. “O estorvo estava eliminado”, ressaltou o Promotor Bonamente.
Minutos depois da compra, ela ligou para Leandro. Já Edelvania ligou para Evandro momentos depois. “Em Três Passos, vem a fase dois do plano. Aí entra a mentoria intelectual do Leandro, que espera até domingo para procurar Bernardo.”
No sábado à noite, o casal vai a uma festa em Três de Maio. No domingo de manhã Leandro fez duas ligações para Bernardo, mas elas não se completam. Vai então na casa de um amigo de Bernardo e também faz registro policial. “Naquela noite, Três Passos não dormiu à procura de Bernardo. Mas o pai desligou o celular e foi dormir.” Na segunda-feira, Leandro fez uma cirurgia. “Essa é a postura do mentor intelectual.”
Um amigo sugeriu espalhar cartazes com a foto de Bernardo, mas Leandro não quis.
Evandro
Evandro Wirganovicz foi denunciado pelo MP posteriormente. Ele teria aceitado participar do crime mediante recompensa. Na noite de 2 de abril de 2014, testemunhas viram o carro de Evandro nas proximidades do local onde foi aberta a cova de Bernardo. O acusado alega que estava em férias e que foi no local, pescar no Rio Mico. “Isso é mentira. Ele tirou férias muito antes disso. Ele foi naquele dia ao local apenas para cavar o buraco”, acusou o Promotor Ederson.
O membro do MP acredita que Evandro tenha atendido a um pedido da irmã por amor a ela.
Receita médica
A receita assinada por Leandro Boldrini, para aquisição de Midazolan, foi dada por Graciele à Edelvania. Apesar de a defesa do médico apresentar no Plenário como testemunha um perito cujo parecer técnico aponta que a assinatura é falsa, o MP acredita na legitimidade da rubrica.
Leandro
O MP procurou demonstrar o quanto o pai de Bernardo era ausente e pouco sabia sobre o filho. “Até errou a idade de Bernardo aqui no Plenário. Bernardo teria hoje 16 anos, e não 17, como ele falou”, frisou a Promotora. Sílvia Jappe passou um trecho da participação de Leandro em uma rádio, pedindo ajuda para encontrar Bernardo, onde o médico dá medidas do menino, como peso e altura. “Ele não sabia nada sobre Bernardo, mas precisou calcular qual a dose do medicamento necessária para matá-lo.”
O MP apresentou um parecer de um Psiquiatra que apontou que Leandro apresenta traços de psicopatia, como frieza, egocentrismo e falta de reação emocional. “Monstro. Isso não tem outra definição.”
“Sabia da ocultação, mas fez a polícia de joguete”, afirmou Menezes, em referência ao crime de falsidade ideológica ao qual Leandro responde.