NOVA VIDA | Ex-carroçeiras se transformam em empreendedoras em Esteio

Elas se reinventaram após a circulação de carroças ser proibida

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Até pouco tempo, Nicole Luana Alves Borges, 21 anos, e Janaína Madri Caetano Selly, 44, vizinhas que moram na Vila Barreira, no Parque Primavera, trabalhavam como condutoras de carroça. Com a proibição da circulação de veículos de tração animal (VTAs) em Esteio, lei anunciada no final de 2015 e que passou a valer na última segunda-feira (1º), elas tiveram que se reinventar para ganhar a vida. Escolheram trabalhar por conta.

Com os R$ 2 mil iniciais que a Prefeitura de Esteio concedeu como auxílio financeiro a ela e a outras 59 pessoas, Nicole deu o primeiro passo na direção de seu novo sonho. Como o verão se aproxima, seu projeto foi vender sorvetes para a comunidade. Com essa ideia na cabeça, comprou batedeira, geladeira e ingredientes. Como fazer o produto, aprendeu sozinha. “Eu fui olhando no Youtube e aprendi. É bem simples”, contou na última sexta-feira (5), enquanto terminava mais uma produção de sorvetes. “Também comprei uma makita para meu marido trabalhar como pedreiro”, completou.

Agora empresária, Nicole disse que já tem planos de ampliar o negócio recém-começado. “Eu tenho vendido bem. Quando vendo tudo, o lucro chega a R$ 200. Mando mensagem para todos os meus contatos do WhatsApp divulgando os sorvetes. A maioria dos meus clientes são vizinhos e parentes que têm crianças. Eles compram bastante. Futuramente, conforme for entrando as outras parcelas do auxílio, quero vender refrigerantes. Quem sabe eu faça também comida”, comentou a empreendedora, que trabalhou cerca de quatro anos como “carroceira”.

Mãe de uma menina de três anos, Nicole afirmou que ainda não está tirando o equivalente ao que recebia com a carroça, mas tem muita expectativa de crescimento, almejando, num futuro não distante, ganhar até mais do que lucrava trabalhando com o veículo de tração animal para ajudar no sustento da família.

Também no ramo da alimentação, Janaína, decidiu vender salgados como minipizza, minipão, pastéis e risoles. “Era algo que eu já sabia fazer e que eu realmente gosto”, contou, também na sexta-feira. Ela usou a primeira parcela do auxílio para comprar micro-ondas, forno elétrico, batedeira, liquidificador, fritadeira e também uma carretinha, pensando em uma segunda opção caso o empreendimento não rendesse frutos. “A carretinha eu comprei para meu marido usar para recolher materiais recicláveis quando não tiver saindo muitas vendas”, explicou.

Janaína sonha em abrir uma cafeteria

Assim como Nicole, a nova empreendedora da Barreira também está otimista com a nova forma de sustentar os três filhos e já tem planos de expandir o negócio. “Realmente, tá saindo muito bem. Em torno de 30 a 40 salgados por dia”, relatou. “Minha ideia, futuramente, é fazer um espaço no meu pátio, estilo uma cafeteria, oferecendo a opção de tele-entrega ou consumo no local. Pretendo aumentar o cardápio, incluindo café e suco. Também quero fazer cartões de visita para divulgar meu trabalho. Quando entrar a segunda parcela do auxílio, quero comprar uma térmica, copos e potes, e algumas coisinhas que faltaram, como um cadeado para a bicicleta e um celular também, para poder receber minhas encomendas”, disse a empreendedora que abandonou a carroça depois de 15 anos.

Para Janaína, a entrada de vigor da lei é positiva, mesmo que represente uma mudança muito grande para quem trabalhava com os veículos puxados pelos animais. “Tem gente, como eu e a Nicole, que cuida com muito amor e carinho dos cavalos. Nós tínhamos consciência que era ele que trazia o sustento para dentro de casa, e deveria ser bem tratado. Mas como nem todos são como nós, acho que isso é o melhor para os cavalos e burros”, opinou.

Ela disse ainda que o projeto social da Prefeitura permitiu que os carroceiros pudessem ter uma maneira de reiniciar a vida. “Sem esse valor inicial, por exemplo, eu não teria tido condições de ir lá comprar todos esses eletrodomésticos que comprei de uma vez só e que facilitam muito o meu dia a dia”, garantiu Janaína que, assim como Nicole e outras 15 pessoas, já comprovou o uso do valor inicial para começar uma nova atividade e que, por isso, já recebeu, a primeira das quatro parcelas de R$ 600 a que tem direito.

Projeto social

Projeto de Lei aprovado quando era vereador (2013 a 2016), a Lei 6.268, de dezembro de 2015, de autoria do agora prefeito Leonardo Pascoal, estabeleceu o Programa de Redução Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal no município de Esteio.

Para auxiliar as famílias que dependiam dos veículos de tração animal, a Prefeitura pôs em prática um projeto social. Uma das principais medidas é a distribuição do auxílio financeiro de R$ 4,4 mil para que os carroceiros possam viabilizar a substituição de sua fonte de renda. No dia 27 de abril, cartões de débito com carga inicial de R$ 2 mil começaram a ser disponibilizados para as 60 famílias, selecionadas em uma pesquisa executada pelas secretarias municipais de Cidadania e Direitos Humanos (SMCDH) e de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (SMDEMA). O investimento total da Prefeitura será de R$ 272 mil.

Até a tarde desta segunda-feira (8), 45 cartões já haviam sido retirados. Os demais estão aguardando pelos contemplados na sede do Instituto Educacional, Social e Cultural do Estado do Rio Grande do Sul (Iscergs/Cufa-Esteio – Rua 24 de Agosto, n°230), entidade responsável por operacionalizar o repasse.

Com a lei em vigor, quem for flagrado utilizando um veículo de tração animal em Esteio será parado pela Guarda Municipal e terá o veículo recolhido, sendo liberado após o pagamento de multa. O animal continuará com o proprietário, a não ser que apresente sinais de maus tratos. Neste caso, servidores da Unidade de Bem-Estar Animal da SMDEMA serão chamados e, caso constatem que o equino sofre alguma agressão, vão recolher o cavalo ou égua. Denúncias podem ser feitas pelo telefone da Guarda Municipal: 153.

Trabalho em etapas

A seleção das 60 famílias contempladas começou em maio, com uma pesquisa feita pela SMDEMA e SMCDH. O levantamento tinha como objetivo saber em que condições os integrantes do grupo familiar viviam (abrangendo pontos como renda, educação e saúde, por exemplo), como estavam os animais que eles utilizam e qual seria a perspectiva de colocação dessas pessoas a partir da vigência da proibição do uso das carroças.

Em agosto, integrantes da Guarda Municipal, da Fiscalização de Trânsito e do Departamento de Bem-Estar Animal da SMDEMA participaram de capacitações sobre comportamento e bem-estar de equinos. Foram repassadas orientações aos agentes sobre formas de abordagem e como lidar com os equinos, evitando maus tratos e buscando tanto a segurança do cavalo quanto a das pessoas que estão ao redor durante ocorrências como, por exemplo, animais soltos na pista ou denúncias de maus-tratos.

No início de outubro, a Prefeitura iniciou as operações de orientação aos condutores de VTAs sobre a proibição de circulação. Servidores da SMDEMA, da Guarda Municipal e da Fiscalização de Trânsito abordaram pessoas em carroças e entregaram panfletos com informações sobre os cuidados necessários com a saúde e o bem-estar dos cavalos e sobre o que será permitido e proibido. As últimas blitz foram feitas no dia 29 de outubro.

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