Jairo Jorge está salvo do impeachment. Por 18 votos a 1, a Câmara de Canoas arquivou o pedido de abertura de uma comissão processante que, ao fim, decidiria sobre a cassação ou não do mandato do prefeito. JJ segue afastado do governo por decisão da Justiça, mas a votação desta terça, 27, na Câmara, não deixa de ser um alívio: caso o processo prosperasse, corria o risco não só de perder o mandato para o qual fora eleito em 2020, mas também os direitos políticos por 8 anos – algo que, em Canoas, não aconteceu nem durante o período da Ditadura.
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Jairo não esteve na Câmara. Quem andou por lá em seu nome foi o ex-secretário de Enfrentamento à Pandemia, Felipe Martini. Advogado, ele centraliza a defesa política do prefeito e conversou com vereadores, presidentes de partido e assessores. A cada um disse o mesmo: “Jairo vai voltar”. O tom era tranquilo e não de ameaça; a estratégia, de construção e não de revanche. Ponto para Martini: outras vezes acusado de ausência, nesta terça foi um dos avalistas da inegável vitória de Jairo diante de um plenário que, entre idas e vindas, estava pronto para pregar-lhe uma derrota acachapante.
Foram nessas idas e vindas, aliás, que surgiram mais personagens desta fatídica noite de verão. O Bloco dos 7, por exemplo, formado por MDB, PP, PDT e Novo. Até o início da sessão, eles eram tidos como votos a favor da abertura do processo. Airton Souza (MDB), um dos líderes do grupo, a bem da verdade, jamais manifestou sua posição pessoal a respeito do impeachment. Imaginava-se que a proximidade do grupo com o prefeito em exercício Nedy de Vargas Marques implicaria em uma adesão à comissão processante, mas não foi o que houve. Cezar Mossini (MDB), inclusive foi à tribuna defender Nedy da acusação feita pelos corredores de que estaria por trás do movimento pró-impeachment. “É um homem honrado e de caráter. Está cuidando da cidade e jamais se envolveu com essa política calhorda que pede cassação de mandato”, exaltou.
A verdade é que Nedy ‘não foi para o jogo’, como lembraram os políticos de sempre; herdeiro natural do mandato caso Jairo fosse definitivamente cassado, parte da Câmara esperava que o prefeito em exercício fosse se envolver pessoalmente no processo – especialmente oferecendo cargos e benesses do governo em favor dos que aceitassem abrir o processo em questão. Nada disso: Nedy ficou inerte. Avisado por aliados de que o processo estava fadado ao arquivamento, deixou que a Câmara tomasse a decisão que quisesse. Se por um lado a figura de Jairo segue no horizonte como prefeito afastado da cidade, Nedy, por outro, não deve nada a ninguém: em política, um governante pode sentir-se confortável em muitos papéis, só não no de refém.
O exemplo de Jonas
Jonas Dalagna – o do Novo, não do da música de Sá, Rodrix e Gurabyra que morava dentro da baleia – disse que o mais importante era ter como defender cada posição tomada na vida pública. Teve a sua, nesta terça. Seu voto contrário à abertura do processo de impeachment foi justificado com uma experiência própria.
Em 2020, Jonas foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral de abuso de poder econômico na campanha por usar um panfleto ecológico que, uma vez atirado ao chão, podia espalhar flores pela cidade. O papel, enfim, continha sementes prontas para germinar. “Fui absolvido, mas o processo levou dois anos para ser encerrado. Se nesse meio tempo pedissem uma comissão processante e cassassem o meu mandato, quem repararia isso depois?”, questionou. O voto acabou elogiado por eleitores que, mesmo em oposição a Jairo Jorge, enxergaram coerência na postura do parlamentar.
Márcio Freitas, o fiel da balança
O vereador do Avante não participou da primeira parte da sessão e, por pertencer ao mesmo partido do prefeito em exercício, era apontado como favorável ao impeachment. Entrou no plenário defendendo exatamente o contrário: conversou com Jonas, lembrando a história do panfleto com as sementes e uma que aconteceu consigo, em 2008, quando foi detido ao ser confundido com o irmão. “Injustiça eu não desejo para ninguém”, repetiu.
Era o articulador de plenário de Jairo Jorge não tinha.
Às nove badaladas do relógio
Já passava das 21h quando o presidente Eracildo Link pode retomar a sessão após sucessivos períodos de recesso para articulação e conversas políticas. O Bloco do 7 foi o último a voltar ao plenário na noite de terça, já com o voto contrário à abertura do processo consolidada entre seus integrantes. Apenas Mossini, entre eles, foi o encarregado de subir à tribuna e lembrar da posição de Nedy de não envolver o governo na questão.
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Juares Hoy (PTB) foi o único que manteve-se firme e votou a favor do processo. Como advogado, lembrou que abrir uma comissão processante era diferente de cassar o mandato – isto aconteceria, se acontecesse, no final de todo um conjunto de procedimentos, com amplo direito à defesa e ao contraditório. Rechaçou, ainda, o parecer da procuradoria da Câmara que considerou o pedido apresentado pelo advogado Marcelo Fontella inapto à apreciação da Casa e, ao final, sobrou até para o vereador Jonas. “Tu me procuraste duas vezes para abrir uma CPI e investigar essas questões e agora vem aqui dizer que é contra?”, contou.
Votação aberta, 18 a 1. Votaram contrário ao processo os vereadores Airton Souza (MDB), Cezar Mossini (MDB), Jonas Dalagna (Novo), Márcio Freitas (Avante), José Carlos Patrício (PP), Aloísio Bamberg (PP), Partor Duarte (Republicanos), Vani Piovesan (PT), Maria Eunice (PT), Laércio Fernandes (Podemos), Eric Douglas (PTB), Patetta (PSD), Abmael Fernandes (Solidariedade), Alexandre Gonçalves (PDT), Adriano Agitassamba (PL), Cris Moraes (PV) e Leandrinho (PSD); Gilson Oliveira, do Avante, estava fora do plenário e votou pelo microfone, contrário à abertura do processo; o vereador Link (MDB), presidente da Câmara, só vota em caso de empate e Jefferson Otto (PSD), sobrinho de Jairo, se declarou impedido antes da votação.