Estudo diz que eventos climáticos extremos no RS serão mais frequentes – A tragédia climática de maio de 2024 foi a maior já registrada no Rio Grande do Sul. No entanto, eventos ainda mais extremos e frequentes podem atingir o Estado nos próximos anos. É o que revela o estudo “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, apresentado na última quarta-feira (30).
Coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o estudo envolveu 15 órgãos e universidades. A publicação destaca que as chuvas de maio foram as mais intensas, duradouras e abrangentes já registradas no Brasil. Os pesquisadores alertam: as mudanças climáticas aumentaram a chance de desastres como esse em até duas vezes, com precipitações até 9% mais intensas.
LEIA MAIS:
- MEIs: Confira novas regras para emissão de notas fiscais em abril
- CadÚnico oferece benefício de até R$600 para quem mora sozinho
- Sicredi libera mais de R$ 25 milhões para empresas
Além disso, o estudo mostra que o Sul do Brasil lidera o risco de novas cheias extremas. Projeções indicam aumento de até 20% nas vazões máximas dos rios. Com isso, tragédias antes previstas para ocorrer a cada 50 anos podem acontecer a cada 10.
“Esses eventos vão se repetir. E vão se tornar cada vez mais fortes”, afirma Ana Paula Fioreze, superintendente da ANA para a GZH.

Na prática, isso pode elevar em até três metros o nível dos rios na Serra e em até um metro no Guaíba, que já atingiu 5,37 metros em 2024, batendo o recorde de 1941.
Estudo diz que eventos climáticos extremos no RS serão mais frequentes: falta de preparo agravou a tragédia
A pesquisa também aponta falhas graves na resposta à tragédia. Cerca de 40% dos atingidos em Porto Alegre não sabiam morar em área de risco. Não havia planos de evacuação. Hospitais, quartéis, prédios do governo e centros de dados estavam em locais inundáveis.
“A população precisa saber onde mora, quais os riscos e o que fazer quando o alerta tocar”, alerta o hidrólogo Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH).
Além disso, o monitoramento falhou. Várias estações estavam danificadas ou sem funcionar. Isso dificultou os alertas e atrasou a resposta das autoridades.
Soluções: prevenção e obras
O estudo recomenda ações imediatas para evitar novas tragédias. Os especialistas defendem uma combinação entre obras e prevenção. Entre as medidas não estruturais, destacam:
- Mapear áreas de risco
- Incluir impactos climáticos no planejamento urbano
- Reforçar o monitoramento hidrometeorológico
- Criar planos de evacuação e comunicação com a população
Já entre as medidas estruturais, estão previstas obras com recursos de um fundo de R$ 6,5 bilhões dos governos federal e estadual. Estão no plano:
- Construção de um dique em Eldorado do Sul
- Reforço no Arroio Feijó
- Contenção nos rios Sinos e Gravataí
Contudo, Fan reforça:
“Essas obras são importantes, mas precisam estar dentro de um sistema. Sem manutenção e integração com prevenção, não funcionam.”
Impacto da tragédia de 2024
Segundo o levantamento, cerca de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas em 478 municípios. A tragédia causou 183 mortes, 15 mil casos de leptospirose, 50 mil desabrigados e prejuízos bilionários. Em alguns pontos do Norte, a chuva ultrapassou 700 mm. A Serra registrou mais de 15 mil deslizamentos.
A conclusão dos especialistas é clara: o Estado precisa se preparar com urgência para novos eventos extremos, que serão mais comuns e mais devastadores.