Durante sua volta ao cargo de prefeito nesta terça-feira (28), Jairo Jorge (PSD) acusou seu vice-prefeito, Nedy de Vargas Marques (Avante), de tentar dar um golpe enquanto estava em exercício. Você pode ver a reportagem completa clicando aqui.

A reportagem da GBC procurou Nedy para oferecer o direito de resposta e ele aceitou conversar com nossa equipe. Segundo ele, continuará exercendo normalmente o mandato de vice-prefeito e acredita que um novo afastamento de Jairo Jorge é uma questão de tempo.

Sobre a acusação de golpe, foi enfático. “Eu teria muita vergonha, o que parece que o prefeito Jairo Jorge não tem, vergonha na cara. De ter feito tudo o que fez para a sociedade, segundo o Ministério Público, e depois vir se ajoelhar na escada da Prefeitura, como se estivesse entrando num templo pedindo perdão pelos pecados que cometeu”, rebate.

Abaixo colocamos trechos completos da entrevista em ordem para melhor compreensão.

GBC – Como recebeu a notícia do retorno de Jairo Jorge?

Nedy – Recebi com tranquilidade, porque, na verdade, o prefeito Jairo Jorge, já neste segundo afastamento, por determinação judicial, ele estaria afastado pelo período de seis meses. Vencido esse prazo, e muito embora o Ministério Público (MP) tenha entrado com um terceiro pedido de afastamento através de uma nova cautelar, noticiando fatos novos, esse pedido de novo afastamento ainda não foi despachado.

Porque esse novo pedido de afastamento foi destinado ao desembargador de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e, agora, ele declinou da competência e entendeu que a competência para apreciar os temas relativos a Operação Copa Livre serão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Em consequência do que houve um retorno do prefeito Jairo Jorge sem nenhuma decisão judicial, e sim pelo escoamento do prazo do primeiro afastamento. Segundo diz o Ministério Público em suas manifestações, existem fatos muito graves neste pedido de terceiro afastamento, que serão examinados pelo desembargador escolhido para ser o relator da Copa Livre na esfera federal.

GBC – O prefeito lhe acusou de promover a maior crise financeira desde o início da Lei de Responsabilidade Fiscal, em vigor desde 2001. Que o senhor teria gastado como um “pai desempregado que não conta para os filhos que está desempregado”. Qual a sua resposta para essa acusação?

NEDY – Não é nenhuma surpresa, por que advoguei 45 anos nas causas criminais, e aprendi, ao longo desta carreira, de ver que todos os criminosos, quando saem da cadeia, ou no caso tenha o tempo de afastamento terminado, ele passa a botar culpa na vítima, nas autoridades. Ele tem que ter uma maneira de explicar para o povo o porquê ele ficou esse tempo todo afastado. Evidentemente que tudo isso que o prefeito Jairo Jorge está dizendo é parar criar uma cortina de fumaça para os crimes que o Ministério Público do estado do Rio Grande do Sul tem mostrado e provado. E os julgadores têm, por duas vezes, lhe afastado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negado o habeas corpus impetrado por ele, porque, segundo o MP, ele cometeu crimes graves. E o poder Judiciário tem acolhido essas solicitações de afastamento.

Consequentemente, o prefeito Jairo Jorge, que deveria ter vergonha do povo de Canoas, porque se elegeu prometendo cuidar da cidade, mas na verdade, ele, a esposa, secretários, gente de confiança dele, vieram para a Prefeitura para cometer crimes que, segundo o MP, ele e essa parceria dele são os autores.

Nós não poderíamos esperar, aliás isso é rotineiro no mundo em que vivem aqueles que cometem crimes, não poderíamos esperar que chegasse aqui e dissesse que está tudo certo, e que ele é que era o errado, que os crimes que segundo o MP ele cometeu, ele deveria pagar, e oportunamente, haverá de pagar. Não, ele está procurando, como diz o bom gaúcho, criar guampa em cabeça de cavalo.

O que o prefeito Jairo Jorge mostrou? Que ele abdicou de cumprir aquilo que ele prometia para a sociedade e, segundo diz o MP, não sou eu quem estou dizendo, e segundo tem dito sempre que se manifesta o Ministério Público Federal (MPF), o prefeito Jairo Jorge cometeu diversos crimes. Crimes estes que levaram o poder Judiciário do RS, por duas vezes, afastá-lo do comando da Prefeitura. E agora está sendo submetido a uma terceira solicitação de afastamento.

Então, obviamente, porque venceu o prazo e aquela razão de discussão sobre a competência para apreciar a terceira cautelar, ele está procurando criar uma cortina de fumaça para encobrir os crimes que, segundo o MP, ele cometeu.

GBC – Sobre o cancelamento do Carnaval.

Nedy – O carnaval estava sendo programado, e o recurso para cobrir as despesas seria de uma emenda encaminhada para Canoas pelo Senador Paim (PT). Lamentavelmente, o prefeito encontrou na parcela da população que ama o carnaval para fazer uma desculpa para os crimes que, segundo o MP, ele cometeu no mandato de prefeito.

GBC – E sobre o pedido de impeachment.

Nedy – Quanto a isso, é preciso dizer, e a população sabe, que quem ingressou na Câmara com um pedido de impeachment foi um cidadão inimigo dele. Eu nem conheço e nunca conversei com aquele cidadão chamado Marcelo SF. É um advogado, foi a mesma pessoa que atirou ovos nele durante a campanha. Eu nunca cheguei perto do Marcelo SF, não o conheço pessoalmente. Quem ingressou com isso foi esse cidadão. E a competência para apreciar nunca foi minha e nunca será. A competência é e foi dos vereadores da cidade.

É óbvio a angústia do prefeito Jairo Jorge relativo a mim, dizendo que eu sou golpista, citando Brizola, mas ele deveria ter vergonha da cidade de Canoas pelos crimes que, segundo o MP, ele cometeu, quando jurou vir para a Prefeitura para fazer a cidade se desenvolver, cuidar das pessoas, salvar vidas, aliás, como ele sempre disse que pretenderia fazer. Está criando um pano de fundo para ludibriar a opinião das pessoas sobre os crimes que, segundo o MP e o MPF, ele cometeu de forma muito descarada.

Por isso eu repito, se o MP, o MPF, a Justiça do Rio Grande do Sul, a Justiça federal, se toda essa gente que cuida da conduta de marginais que praticam crimes não estão mentindo, o prefeito Jairo Jorge está procurando agora se esconder atrás de uma cortina de fumaça, para ludibriar o poder Judiciário e o MP. Mas, na verdade, o povo da nossa cidade sabe e as provas do MP mostram que eu não tenho absolutamente nada a ver com nada disso.

Quando ele foi afastado, eu assumi como prefeito em exercício e procurei trabalhar muito, sério, honesto, com legalidade, procurando atender a população que já estava ansiosa de ver um governo descente. Ele cometeu, segundo o MP e o Judiciário, muitos crimes.

Eu tenho 72 anos de vida. Fui vereador nesta cidade por seis mandatos consecutivos. Fui presidente da Câmara (de Vereadores) por seis vezes. Nunca na minha vida, nem na pública e nem na privada, nunca fui acusado pela prática de qualquer crime. Agora, olha na ficha do prefeito Jairo Jorge para ver. Bem pouco tempo atrás foi condenado a uma pena de três anos de detenção que, possivelmente, se transitar em julgado, vai lhe tornar inelegível. Ele responde a uma quantidade muito grande de crimes. Então ele não pode, de forma nenhuma, ficar calado. Ele tem que criar uma cortina de fumaça para procurar ludibriar as pessoas.

GBC – O líder do seu governo na Câmara, vereador Mossini (MDB), estava ao lado de Jairo Jorge no ato que marcou seu retorno. O senhor considera isso uma traição?

Nedy – O vereador Cezar Mossini foi escolhido por mim para ser o líder do meu governo. É um homem preparado, um advogado competente, um vereador já com vários mandatos, já foi presidente da Câmara, então tem perfeita lucidez para separar o joio do trigo. Se ele se posicionou, como foi assistido pelos canoenses, por certo tem os seus fundamentos.

Eu não estou julgando os vereadores, porque isso não é da minha competência. A minha competência, hoje, é a de exercer o meu mandato de vice-prefeito eleito pelo povo. E se tiver que voltar a exercer o cargo de prefeito, farei porque essa é a minha obrigação. Agora, todo tempo que estive como prefeito e vice-prefeito, e o que posso voltar a exercer, sempre farei com honestidade e legalidade, porque é isso que a população espera dos homens públicos.

A população, especialmente nos dias em que nós vivemos, com as grandes dificuldades dos trabalhadores para conseguirem buscar seu sustento, imagina a intranquilidade que está vivendo essa cidade com o prefeito eleito pela população ficar um ano sem poder entrar no pátio da Prefeitura. O mesmo acontecendo com a esposa dele. O mesmo acontecendo com o secretário que foi o seu chefe de gabinete e outros tantos parceiros deles do mundo do crime, segundo diz o MP.

O que a população espera de nós é que tenhamos equilíbrio, honestidade, o olhar voltado para o social. Que não venhamos para cá para botar dinheiro no bolso. Que recebamos aqui da Prefeitura o nosso salário, previsto em lei, jamais nenhum centavo fora disso.

Hoje minha preocupação é atuar como vice. Porque foi para essa função que eu me elegi. Mas se, novamente, tiver que voltar ao cargo de prefeito em exercício, farei com muita responsabilidade, honestidade e legalidade, porque é isso que o povo espera de mim. Eu teria muita vergonha, o que parece que o prefeito Jairo Jorge não tem, vergonha na cara, de ter feito tudo o que fez para a sociedade, segundo o MP diz, e depois vir se ajoelhar na escada da Prefeitura como se estivesse entrando num tempo, pedindo perdão pelos pecados que cometeu.

Estou hoje (quarta-feira, 29) na minha sala de vice-prefeito, disposto a exercer o meu mandato de vice-prefeito. E faz parte do contexto deste cargo conversar com o prefeito quando a iniciativa for dele. Porque hoje ele que é o mandatário. Então, se eventualmente quiser conversar comigo, acho que não vai ter essa disponibilidade, nem interesse para isso. Porque ele me conhece, sabe que não tenho papas na língua. Eu não transgrido a lei em nenhum momento. Eu sou um gaúcho nascido no Rio Grande que não procura tapar o sol com a peneira. Eu digo tudo que a pessoa tem que ouvir e não o que ela gostaria de ouvir.

GBC – O prefeito Jairo Jorge anunciou que voltará às ruas com programas como o Prefeitura na Rua e o Prefeito na Estação. O senhor também participará?

Nedy – Se eu for convidado para participar como vice-prefeito, eu estarei lá. Agora, se não for convidado, andarei nas ruas todos os dias. O exercício do mandato de vice-prefeito me recomenda que ande nas ruas da cidade. Não é o fato de eu ter deixado de ser o prefeito em exercício que eu vou me esconder. Eu não tenho vergonha, nada para esconder, nada que me envergonhe.

Eu jamais seria chamado de corrupto pelos cidadãos da nossa cidade, porque eu não sou corrupto e a cidade me conhece. Então virei para o gabinete atender os compromissos que tiverem, depois vou para a rua, andar nos bairros, conversando com a população, explicando para a sociedade estes aspectos, sobre os quais estamos conversando aqui, muito embora o povo de canoas, e tenho conversado com uma quantidade muito grande de pessoas, o povo tem uma compreensão muito clara de tudo que aconteceu e do que está esperando que aconteça.