Campeã em 2019 do Carnaval do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira foi um dos destaques da edição deste ano com o enredo “A Verdade Vos Fará Livre”.
A escola trouxe um Jesus Cristo clássico idealizado pelos europeus, mas ressuscitado nos morros das favelas. Trouxe um Jesus mulher, que questiona se o Nazareno tivesse sido uma mulher, viveríamos atualmente em uma sociedade tão machista e em um país que ocupa o topo do feminicídio. Contudo, a passagem mais marcante se deu no Jesus jovem, negro, crucificado e alvejado por tiros, personificando a violência e o racismo vivo e forte no Brasil.
A Mangueira apresenta um Jesus ao lados dos pobres, dos excluídos, fatigados e necessitados – o que de fato foi Cristo – e este não foi um achismo da escola, mas sim a verdadeira interpretação do Evangelho, omitida por tantos “cristãos de bem”. Uma grande mensagem, que questiona e ao mesmo tempo confirma: Se Jesus voltasse hoje, defendendo pobres, negros, mulheres, índios e LGBTs, seria novamente condenado a cruz.
Cantar, sambar e deixar sua mensagem, assim fez a Mangueira, destacando que Jesus é vida, e não morte, que o Cristo fez tremer os poderosos que desprezavam e castigavam quem era diferente de si. Jesus não abençoou violentos, mas sim, os homens e mulheres de pregavam a paz.
O bicampeonato não veio, mas a escola ratificou o quanto convite a reflexões repercutem e marcam carnavais. O título ficou com a Acadêmicos de Viradouro, que contou a história das “Ganhadeiras de Itapuã – As primeiras Feministas do Brasil”, que exaltou a força da mulher negra. O vice-campeonato foi da Grande Rio, que contou a história do primeiro palhaço negro do país.
E por aí vai. O Carnaval é uma das maiores expressões culturais do planeta. Um festival de expressões de corpo, alma e mente. Uma festa que movimenta a economia em diversos sentidos, dá alternativas de uma vida mais digna nas comunidades carentes e principalmente à oportunidade de trazer alegria, aos que desde cedo, sofrem.